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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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O escuro caminho da marcha

Não existem coincidências nem acasos. Os acontecimentos na Venezuela nos advertem de que devemos colocar nossas barbas de molho. Afinal, para onde a tal “Marcha” pretende conduzir o país?

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Há exatos 50 anos uma manifestação,  em resposta à uma suposta ameaça comunista,  era interpretada, por observadores internos e externos,  como respaldo popular para um golpe militar.   No dia 19 de março de 1964 cerca de 200 mil pessoas tomaram as ruas de São Paulo na chamada Marcha com Deus pela Liberdade,  um movimento financiado pelos americanos através de várias entidades,  entre elas  o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD),   que serviu para convencer militares ainda hesitantes sobre a necessidade da derrubada do presidente João Goulart  para espantar o fantasma do comunismo.  Na verdade, o comunismo foi apenas um dos pretextos, pois o principal motivo mesmo foi a promessa de Jango, em discurso no dia 13  daquele mês no Rio, de promover as reformas de base, vistas como lesivas aos interesses da elite. 

O movimento golpista, que começou a ser articulado no Brasil e nos Estados Unidos após a posse de Jango, como decorrência  da  renúncia do então presidente Jânio Quadros,  ganhou força, recebendo o sinal verde do então presidente americano Lyndon Johnson para desencadear o processo do golpe que manteve os militares no poder durante 21 anos.   Surpreendentemente, surgem hoje pessoas   que, mobilizadas pelas forças  dispostas a apear o PT do poder e  temerosas  de uma  derrota pelo voto democrático nas próximas eleições,  conforme as pesquisas, pretendem repetir esse triste capítulo de nossa  história. 

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A “Marcha com Deus” programada para o próximo sábado, dia 22,  para ocupar  não apenas as ruas de São Paulo mas de outras 200 cidades do país, ao contrário da primeira, que mascarou seus objetivos,  tem agora um caráter nitidamente golpista.  Naquela época o temor  do comunismo, transformado em monstro pela propaganda americana – nas camadas mais humildes da população dizia-se que os comunistas comiam criancinhas – era a motivação para o golpe, pois Jango era visto pelos Estados Unidos, por indução do embaixador Lincoln Gordon, como marionete dos soviéticos. Hoje a chamada Grande imprensa  substituiu o  monstro comunista  pelo bicho-papão petista, fazendo a cabeça dos incautos contra  o partido fundado por Lula e, por via de consequência, contra a presidenta Dilma Roussef.  A ampla cobertura do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, com exagerado incenso ao ministro Joaquim Barbosa que fazia o jogo da Midia, buscou estigmatizar o petismo, como estratégia para enfraquecê-lo nas eleições que se aproximam.

Não foi por acaso que José Dirceu e José Genoino, destacados líderes da luta contra a ditadura, foram condenados num julgamento severamente criticado por juristas renomados como Ives Gandra, Bandeira de Melo e Dalmo Dallari. Não é por acaso que o ministro Joaquim Barbosa, glorificado pela revista “Veja” como “o menino pobre que mudou o Brasil”,  tem estreitas ligações com os americanos e até apartamento em Miami.  Não é por acaso que o deputado Eduardo Cunha, cuja aparência de corvo revela a sua semelhança física e atuação política com  Carlos Lacerda, trabalha para desestabilizar o governo.  Ao que parece, o gatilho  para desencadeamento do  movimento golpista, no entanto,  foi acionado ao ser vislumbrada a  possibilidade de revisão do julgamento do mensalão   e a possível  vitória da presidenta Dilma Roussef, no primeiro turno,   nas eleições de outubro, já admitida por cientistas políticos, assim como a ampliação da  representação petista no Congresso Nacional.  Diante desse panorama, na ótica de muita gente que tem interesses contrariados pelo Planalto – ou não digeriu até hoje a ascensão de um torneiro mecânico nordestino à Presidência da República – um  golpe seria a única alternativa para apear o PT do poder.

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Não custa lembrar que o golpe de 1964, segundo levantamento feito à época pelo oposicionista Aníbal Teixeira,  teve o apoio de  80% do Exército, 70% do empresariado, 66% do clero e 58% dos estudantes. Recebeu também o apoio da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) e de parte da mídia. Sugestionados pela propaganda americana,  quase todos  - à exceção dos que vislumbravam a oportunidade de conquistar o poder – estavam  temerosos de que o comunismo pudesse ser implantado no Brasil.  Segundo reportagem publicada este mês pela revista “Superinteressante”, sob o título “Os EUA no golpe de 64”, assinada pela jornalista  Jennifer Ann Thomas e fundamentada em documentos encontrados em arquivos recém-abertos nos Estados Unidos, o movimento  contou com o apoio financeiro do governo americano que, inclusive, deslocou uma esquadra para o litoral brasileiro a fim de intervir militarmente, caso necessário, em favor dos golpistas.  Os americanos, através da CIA, segundo a matéria, durante a guerra fria já contabilizavam  o envolvimento com pelo menos 26 golpes militares.  

A  “Marcha com Deus”, portanto, parece a tentativa de repetir-se uma página sombria da história, agora com outra motivação.  A exemplo da primeira, ninguém sabe quem são os seus responsáveis, citados no noticiário apenas como “organizadores” sem, contudo, identificá-los. Eles não escondem, porém, os seus objetivos golpistas e parecem contar com o apoio velado da chamada Grande Imprensa, que revelará seu interesse se fizer uma grande cobertura.  O povo brasileiro, no entanto, precisa estar alerta, pois não se concebe que  em plena era da informática ainda existam desinformados, ignorância  que facilitou o golpe de 64.  Não existem coincidências nem acasos. Os acontecimentos na Venezuela nos advertem de que devemos  colocar  nossas barbas de molho. Afinal, para onde a tal “Marcha” pretende conduzir o país?  Na visão de muitos esse cenário pode parecer fantasia, mas não custa lembrar que “cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.  

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