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Cássio Vilela Prado

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O fascínio e a paralisia da corrupção

Assistimos, atualmente, após a política "epidemiológica sanitária" de investigação e punição deflagrada nos governos petistas contra a corrupção, a um certo "fascínio negativo" com as figuras corruptas que surgem a cada dia, em todos os lugares. Há uma "heroicização" de bandidos corruptos

Imagem para artigo de Cássio Vilela Prado - O fascínio e a paralisia da corrupção (Foto: Cássio Vilela Prado)
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Algumas mentes mais reflexivas e menos vulneráveis ao fenômeno da imaginarização da realidade com o seu subsequente esvaziamento discursivo simbólico dos sujeitos procuram compreender o motivo pelo qual o Brasil se tornou o 4º país mais corrupto do mundo, de acordo com o Fórum Econômico Mundial:

“O Brasil é a quarta nação mais corrupta do mundo, segundo o índice de corrupção do Fórum Econômico Mundial. O país está atrás apenas do Chade, da Bolívia e da Venezuela, que lidera o ranking. A corrupção é um dos elementos que a organização suíça inclui em seu índice anual de competitividade, baseado em uma pesquisa com 15.000 líderes empresariais de 141 economias do mundo”.[1]

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Para aqueles que acompanham a História e a Política há mais tempo, o atual Estado de Exceção Brasileiro, com a sua corrupção endêmica e avassaladora, não é uma novidade. A corrupção sempre existiu e é um fenômeno intrínseco a todos os seres falantes.

Análogo ao método da “Epidemiologia em Saúde”, quanto mais se investiga uma determinada enfermidade, mais se encontra a enfermidade. Como exemplo disso temos o suicídio. Não que ele não existia há algum tempo atrás, mas hoje ele é mais investigado, notificado e divulgado.

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Ocorre o mesmo com o “mal” da corrupção. A “epidemiologia” é a mesma. Do governo militar ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvia-se falar em possíveis escândalos de corrupção, contudo, eles não eram investigados, notificados e divulgados. Sobre esse último governo psdbista, criou-se, inclusive, uma função tão falada na mídia, do “Engavetador Geral da República”, pois esse tipo de fraude era “engavetada”, assim como o quantitativo dos suicídios também o eram por uma questão moral.

Entendendo a corrupção enquanto um fenômeno de intrujar a Lei, nas suas mais variadas gradações (Leve, Moderada, Alta...) de embair o Outro, transformando-o em um meio para atingir determinado fim, a corrupção é um fenômeno estrutural perverso (Peço licença aos “psicanalistas settianos de gabinete”), onde o sujeito infantil se depara com determinada proibição, não a tolera, e a desmente (Verleugnung), ou seja, a Perversão se caracteriza pelo “desmentido” de algo que se sabe (a proibição – a Lei).

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Todos nós humanos nos deparamos alguma vez em nossa história pessoal com algum interdito (certa proibição) e o correlato modus operandi diante dessa Lei (da autoridade da metáfora paterna ou função equivalente) erigida.

Entretanto, há que se ressaltar que existem outras saídas mentais operatórias para se conviver com as frustrações que atravessam o caminho sem desmentir e burlar a Lei. Aliás, a Lei advém exatamente para que se possa existir a nossa civilização com os seus sujeitos e as suas alteridades (“os Outros”). Há determinados “imperativos categóricos” kantianos que apontam para certa possibilidade de coexistência entre os habitantes desta Terra, desde que se aja, eticamente, de determinada forma’ sem que se perca a “vontade” e a “liberdade” fundamentais singulares e universais.

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Todavia, infindáveis sujeitos ficam retidos nesse tempo lógico em que se operou o seu modus psíquico defensivo diante da castração (Lei), tornando-se tão somente operadores perversos.

Neste sentido e do Direito, tudo indica que a Lei serve apenas para denunciar aquilo que ela proíbe, sem realmente operar a ação proibitiva.

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Assim como o corrupto, o perverso é um especialista em Lei, pois se tornou um expert em burlá-la. Dificilmente se vê algum criminoso de gravata confessando os seus crimes, a não ser para ganhar algum benefício (delatores).

Assistimos, atualmente, após a política “epidemiológica sanitária anti-corrupção” deflagrada nos governos petistas, a um certo “fascínio negativo” com as figuras corruptas que surgem a cada dia, em todos os lugares. Há uma “heroicização” de bandidos corruptos.

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Sobre isso, há algo importante a dizer. O “mal” tanto nos toca porque ele nos habita, definitivamente. Em alguns estão bem recalcado, em outros nem tanto, noutros ainda ele escoa pelo rabo...

Conforme Pierre Kaufmann:

“O insolente poder de sedução dos perversos resulta sobretudo da fascinação comumente ligada à subordinação e à depravação dos costumes que constituem o habitual de sua sanção ideológica e mediática, Não há avaria mais cega com relação a eles que essa defesa imaginária do observador ou do cronista que se deleita com a aberração perversa do outro. Queira-se ou não saber, a perversão diz respeito a todos, pelo menos em nome da dinâmica “normal” do desejo que nela se exprime à qual ninguém escapa: ‘Sobre a perversão, jamais poderemos dizer que ela não nos toca, seguros que estamos de que ela, de qualquer maneira, nos toca’ (cf. Aulagnier, ‘Remarques sur la féminité et ses avatars’ in Le désir et la perversion)’.[2]”.

Talvez aí encontremos a resposta para a pergunta feita por muitos brasileiros:

Por que o (a) brasileiro (a) aceita tacitamente tanta sujeira e corrupção (perversão)?



[1] ALTAMIRANO, Cláudia – “Brasil é o 4º país mais corrupto do mundo, segundo Fórum Econômico Mundial” – El País, Cidade do México, 06/10/2016 - 21:36 horas.

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/internacional/1475517627_935822.html ,

[2] KAUFMANN, Pierre – Dicionário enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud a Lacan – Zahar, Rio de Janeiro, RJ, 1996, p. 423.

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