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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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O fascismo em pele de bisão

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A invasão ao Congresso norte-americano, tal qual vimos na última quarta-feira, 06/01/21, entrou para a história mundial. As cenas pareciam ter saído daqueles inúmeros filmes de ação, que tratam de invasões à Casa Branca, como aquilo que ocorre na série Designated Survivor, com o Kiefer Sutherland, ou ainda como se dá o surgimento de Gilead, na narrativa distópica O conto da aia (1985), de Margaret Atwood. Mas não, era a mais pura realidade. E assim, a nação que sai por aí “restaurando” a democracia no país dos outros estava sob ataque, numa clara tentativa de autogolpe instigado pelo próprio presidente do país, que se recusa aceitar a derrota nas eleições que elegeram o democrata Joe Biden.

Muitas são as perguntas acerca de como tudo aquilo aconteceu. Não se pode, no entanto, demonstrar surpresa, uma vez que que o ovo da serpente vem sendo chocado há pelo menos cinco anos em terras norte-americanas, seja nas redes sociais, seja nos púlpitos das inúmeras empresas travestidas de igrejas. Deslegitimar a democracia e minar as instituições durante todo esse tempo não poderia resultar em boa coisa (qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência), e o que se viu foi o resultado de uma tentativa de pôr abaixo o Estado Democrático de Direito, coisa que não se via por lá desde o século XIX. O autogolpe de Trump só não funcionou por, ao contrário do que acontece nos países da América Latina, não ter contado com o apoio das forças armadas, que por lá são instituições sólidas que se recusam a violar a Constituição, e cujos oficiais não se vendem por cargos no governo. Não se pode, contudo, dizer o mesmo das forças militares auxiliares que, certamente, deverão ser investigadas acerca da possibilidade de alguma forma de não-ação, que possa ter favorecido a invasão ao Capitólio. 

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A falha no sistema de segurança do Congresso, que pôs em risco a vida dos parlamentares, bem como do vice-presidente e outras autoridades, parece-nos bastante incomum. A resposta dada por forças especiais como a SWAT, por exemplo, foi muito mais lenta do que em outras situações. Por enquanto, há mais conjecturas que constatações, mas o fato é que “a maior democracia do mundo” foi vilipendiada, ferida por dentro pelos seus. Quanto a isso não há refutações. Resta saber como as coisas ficarão por lá, e em quanto tempo a reprodução daquele caos se alastrará por países como o Brasil, onde as instituições se fingem de mortas, enquanto a democracia sangra.

Brancos, os invasores do Congresso não pareciam ter sido, como demonstram certas imagens, nem repreendidos pela polícia, que posou, inclusive, para selfies com os invasores; algo muito diferente daquilo que se viu acerca da gigantesca operação de guerra mobilizada para reprimir a manifestação pacífica do Black Lives Matter, em junho de 2020, quando do assassinato de George Floyd ocorrido em maio. Na ocasião, todas as polícias foram convocadas, com helicópteros, cavalos e bombas de gás. E mesmo sendo uma manifestação pacífica foi duramente reprimida pelo aparato policial. Por qual razão, então, o mesmo efetivo policial não estava a postos para proteger o Congresso e os congressistas? Uma resposta pode ser a que foi dada por Jaylen Brown que, ao parafrasear Martin Luther King, disse algo como: “Há duas Américas diferentes. Numa delas, você pode ser morto enquanto dorme no seu carro, vende cigarros ou brinca no quintal de casa. Na outra, você pode até invadir o Congresso. Nesta segunda América, não há bombas de gás nem prisões em massas”. Fazendo coro ao atleta da NBA, Joe Biden disse: “Ninguém pode me dizer que, se fosse um grupo de BLMs (sigla para Black Lives Matter) protestando, eles não teriam sido tratados de maneira muito diferente do que a multidão de bandidos que invadiram o Capitólio. Todos nós sabemos que isso é verdade e é inaceitável. Completamente inaceitável”, concluiu. Também nas democracias, sabe-se, alguns são mais iguais que outros.

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Livres e à vontade, os supremacistas brancos desfilaram com suas bandeiras racistas e camisetas com alusão ao nazismo pelos corredores do Capitólio. No centro de tudo, a imagem de um sujeito vestido em pele de bisão viralizou. Perdido no vazio da sua estupidez, o referido masculinista grunhe meia dúzia de palavras e garante seus cinco minutos de fama. Com a cara pintada nas cores da bandeira dos EUA, imagina-se que o pobre homem acredita ser um William Wallace às avessas, a serviço do rei. Seu rei, no entanto, está nu, exposto e quase deposto. Mal sabe ele, mas aberta está a temporada de caça aos bisões. 

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