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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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O fator tecnológico do trabalho e a resposta da economia política

Objetivo é atemorizar a classe trabalhadora, em especial o que Marx chamou de “exército industrial de reserva”, sobre um cenário imaginário de perspectivas negras de emprego a fim de domesticá-los para aceitar salários miseráveis num mercado de trabalho desfavorável conjunturalmente, do tipo da reforma Temer

The hand of humanoid robot AILA (artificial intelligence lightweight android) operates a switchboard during a demonstration by the German research centre for artificial intelligence at the CeBit computer fair in Hanover March, 5, 2013. The biggest fair of its kind open its doors to the public on March 5 and will run till March 9, 2013. REUTERS/Fabrizio Bensch (GERMANY - Tags: POLITICS) - RTR3ELOG (Foto: © Fabrizio Bensch / Reuters)
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Economistas e sociólogos brasileiros têm embarcado crescentemente na onda ideológica mundial segundo a qual o emprego, e mais amplamente o trabalho estão condenados a restrição crescente em razão do progresso tecnológico. Os empregos desapareceriam nos próximos anos porque o trabalho será substituído por robôs. Claro, haverá empregos para os fabricantes de robôs e mesmo muitos de seus usuários, mas não em número suficiente para empregar a população economicamente ou potencialmente ativa.

Tudo isso não passa de um truque político. Algo semelhante tem acontecido com freqüência na história do capitalismo. Seu objetivo é atemorizar a classe trabalhadora, em especial o que Marx chamou de “exército industrial de reserva”, sobre um cenário imaginário de perspectivas negras de emprego a fim de domesticá-los para aceitar salários miseráveis num mercado de trabalho desfavorável conjunturalmente, do tipo da reforma Temer. Não há, nesse diagnóstico, nenhuma base científica. E, sobretudo, nenhuma base política.

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Em meados dos anos 80 estive na Alemanha a convite do governo e visitei vários institutos de pesquisa econômica. Fiquei espantado com a onda ideológica prevalecente. Os economistas e sociólogos de então estavam preocupadíssimos com a baixa competitividade inernacional, em relação aos Estados Unidos, do trabalhador alemão. A idéia subjacente era que as empresas alemãs deveriam reduzir custos, entre os quais o custo do trabalho. E se discutia também o peso excessivo representando pelo estado de bem estar social do país.

Achei aquilo tudo muito estranho. Mas entendi que a social-democracia alemã precisava de uma boa desculpa para furar o pacto social existente, favorável ao trabalhador, e traçar a rota do neoliberalismo ascendente, inimigo declarado do trabalho. Agora é muito difícil para países como a Alemanha atribuir à baixa competitividade de suas empresas a necessidade de reduzir ou estancar os salários. É preciso buscar outras desculpas. A robotização é uma delas. Nós, claro, embarcamos nessa ideologia sem muita discussão.

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Em primeiro lugar precisamos considerar que o desemprego atual, de quase 14% da força de trabalho – e o dobro disso, considerando o subemprego -, resulta exclusivamente de uma política econômica absurda que se recusa terminantemente a buscar um programa de pleno emprego, como manda a Constituição (Art. 170, item VIII). Não há nesse desemprego absolutamente nada de tecnológico. É um desemprego causado pela falta de consumo da sociedade, e a falta de consumo é o resultado de uma redução estúpida do gasto público.

Consideremos, porém, que no futuro nossas empresas industriais decidam recorrer a métodos cada vez mais produtivos de informatização e robotização, reduzindo crescentemente o número de empregados. Na verdade, isso já ocorreu e continuará ocorrendo numa indústria icônica, a automobilística. Mas isso não eliminará a necessidade de centenas de milhares de trabalhadores na área de serviços, a qual já representa hoje mais de 70% da mão de obra empregada, ou que trabalha.

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Suponhamos, adicionalmente, que a informática é tão poderosa que eliminará milhões de empregos e de postos de trabalho também na estrutura dos serviços. Aqui, meu caro, se isso vier a acontecer, e não sei quanto tempo demoraria para acontecer, a solução está no campo da economia política: basta reduzir à metade a jornada de trabalho na indústria e nos serviços, sem reduzir os salários, e aproveitamos para saltar mais uma degrau na rota da civilização. Isso, claro, será decidido na base da mobilização dos trabalhadores. Sem medo de perder o emprego. Mas criando-o. Afinal, o homo politicus surgiu na terra antes da tecnologia. E nessa fase futura a velha luta de classes, hoje mascarada, voltará ao centro do palco!

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