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Marconi Moura de Lima

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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O fenômeno Bolsonaro e a nossa doença cognitivo-civilizatória

Bolsonaro é inegavelmente um fenômeno! E isso é comunicação, nada mais que isso. Não há ali atributos outros que não esse no líder da Nação

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A pesquisa Atlas deste último dia 10 de maio não é exatamente boa para o campo democrático por si mesma. Embora fique evidenciado a potência do ex-presidente Lula da Silva, consagrando-se como o único que possa ainda ter alguma possibilidade de vencer Jair Bolsonaro e retornar o Brasil ao trilho da racionalidade necessária (viramos uma republiqueta da morte, da dor, do medo e da desesperança), o que realmente fica evidenciado é a capacidade, a competência da equipe que pensa o processo de comunicação do atual Presidente do Brasil. Bolsonaro é inegavelmente um fenômeno! E isso é comunicação, nada mais que isso. Não há ali atributos outros que não esse no líder da Nação. 

Ilustrando apenas dois dados aqui[1], Bolsonaro “reconquista” parte do eleitor. Em março, a aprovação de seu desempenho pessoal era de 35%; agora em maio sobe para 40%. Se a eleição fosse em março, Bolsonaro teria no 1º turno 32% dos votos; em maio esse número subiu para 37%. Ele tem mesmo que comemorar no seu churrasco com picanha que vale cada peça R$ 1.800,00 e rir na nossa cara…

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Isso é grave! A queda seria a lógica; não a subida. Ou não vemos a fome das pessoas, a morte de quase 430 mil humanos por omissão do Chefe do País e o escárnio de sua turma governamental?

O “Jair Se Acostumando” é (ou era para ser) como um castelo de areia que rompe a rotina do vento e a paisagem convencional da praia, doravante, volúvel, sem qualquer possibilidade de ser perene, contudo, causa enorme impacto neste mesmo cotidiano dos que vieram “curtir” a grandeza do mar. Bolsonaro não pode ser ignorado como um produto imagético, um evento semiológico, uma potência narrativa. E somente é possível combater “comunicação” com “comunicação”. Isto é, ou as mentes progressistas se reinventam na mobilidade das ruas, das redes e das redações, portanto, torna-se capaz de produzir conteúdos densos, intensos, sobretudo, atraentes a mostrar efetivamente aos “desavisados” que aquele castelo de areia não passa de tragédia arquitetônica no caminhar da praia, ou iremos sucumbir, assistindo atordoados ao tsunami destruindo tudo na costa deste País.

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Retomando o assunto (segundo escopo) principal deste modesto texto, a pesquisa Atlas, mostra que Bolsonaro retomou parte de sua popularidade quase aos níveis dos tempos de águas tranquilas para o fascista tupiniquim. Porém, o horripilante disso tudo é que, quanto mais vemos o descontrole do Brasil no enfrentamento da COVID-19; escândalos da família cada vez mais assumida nas facetas das milícias e dos crimes; mansões e picanhas superfaturadas que debocham da miséria de parte dos brasileiros que desceram degraus na estratificação social; o “Bolsalão” oriundo das já visíveis faz tempo negociatas com o Centrão; enfim, quanto mais crimes Bolsonaro e sua família comentem, mais o “seu” povo o adora, o devota, o protege. E sua popularidade retorna a pontos inimagináveis – se falássemos de uma sociedade séria, de um povo atento, de uma República de verdade[2].

Dito tudo isto, não podemos esconder um problema que também precisará ser debatido pelos especialistas e proposto intervenções num futuro breve: trata-se da nossa baixa cognição política, nossa formação bastante tacanha para interpretação de nossa própria cultura, de nossa história e de nossas conjunturas (em cada evento fático). Um povo que não é capaz de entender os princípios que norteiam (ou suleiam) uma civilização, certamente caminha para o fim. Pior: um fim interminável; um fim à conta gotas; um fim regado por mortes paulatinas, seja pelo coronavírus, seja por chacinas ordinárias nas favelas brasileiras, seja de fome nos rincões de miséria, seja no dia-a-dia dentro do ônibus lotado indo para o trabalho.

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Precisamos conversar acerca de nossa situação cognitivo-civilizatória como uma doença a ser tratada. Doença que gera sucesso a uma leva de políticos oportunistas, como o atual governador do Rio de Janeiro – quem nem me lembro do nome –, um pulha, um ser humano hipócrita que canta e reza à noite, e ao dia autoriza o assassinato de tanta gente, assim a geração de medo e inação em milhões de cariocas; ou como o Presidente do Brasil[3], responsável direto pela casa das centenas de milhares de mortes por COVID – evitáveis, reles desconhecidos a ascenderem ao Poder com tanto impacto. É uma doença; não ignoremos isso em nós, o povo brasileiro. 

Ao que chamo por “cura” aqui não é outra coisa senão Educação. Entretanto, educação é fundamental ser vista pelo processo formativo e informativo. Isto é, precisa se repensar as bases efetivas de currículo para consolidar de vez uma formação em todas as instâncias da cognição do sujeito. Não algo meramente técnico, ou funcional, ou instrumental, todavia, uma educação completa que coadune o entendimento histórico-político-cultural do Brasil. Quanto à informação, além de se estruturar elementos semiológicos e estéticos que atraiam a efetiva mobilização das mentes receptivas-ativas, é necessário também mudar a matriz normatiza que regulamenta rádios, tevês, jornais, internet etc., a fim de superar o enviesamento dos fatos e artefatos sociais e referendar as fake news, pós-verdades e o falseamento da própria identidade do povo brasileiro. Sem isso, somos meras marionetes neste sistema que reitera por séculos seu caráter e princípio colonial.

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Precisamos buscar essa cura para nossa sociedade, para nossa gente. Somente assim, encontraremos a real mudança de nossas instituições, estruturas e política[4], e nos ressignificaremos enquanto civilização.

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[1] Veja mais números da pesquisa Atlas aqui: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-10/bolsonaro-tem-alta-na-popularidade-e-so-lula-o-venceria-no-2-turno-em-2022-mostra-pesquisa-atlas.html

[2] Frise-se aqui que as cínicas instituições brasileiras regidas por castas podres e ainda coloniais, os poderes que teriam como interditar esse criminoso hipócrita à frente da Presidência da República, não o fazem. É conveniente. Ganham muitos privilégios com esse modelo cruel de sociedade.

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[3] Bolsonaro, um moleque na Presidência de um dos estados nacionais mais importantes do mundo, acaba de achincalhar a China, o país que detém praticamente toda a capilaridade dos insumos para a vacina da COVID-19. Resultado: a China começa a pisar no freio em enviar para cá a matéria-prima da única esperança de termos vida; de a vida voltar a ter seu fluxo contínuo, sem tantos bloqueios. Uma crise diplomática ignóbil por um conjunto de falas completamente desnecessárias. Isso aí é o Presidente do Brasil? E isso aí tem toda esta popularidade? Isso aí é querido por um terço dos seres humanos brasileiros? Não tem como dizer que não há algo errado em nossa cognição?

[4] Bolsonaro somente é um fenômeno [de votos e de comunicação – a um público significativo] porque o próprio campo progressista, vencendo quatro eleições seguidas, não ousou prover a Regulação dos Meios; não repensou como realmente devia o Sistema Educacional brasileiro. Agora existe possibilidade de nova chance. Que não deixemos passar a história novamente ensimesmados em nossa mentalidade colonial eterna.

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