O fotógrafo mexicano que “previu” o mundo em que vivemos
Feitas anos antes da pandemia, fotos de Saul Landell espantam e perturbam com sua atualidade apocalíptica
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Por Cynara Menezes, no Socialista Morena e para o Jornalistas pela Democracia - Em tempos de Covid-19, muita gente se assustou ao se deparar com as fotos do mexicano Saul Landell nas redes sociais. “Como você pode ser tão insensível de fazer imagens colocando máscaras em bonecos num momento como esse?”, perguntavam. Da reclamação, alguns passaram ao insulto. De fato, as fotografias de Landell perturbam, provocam tristeza, desconforto e espanto ao retratar de forma dramática cenas tão atuais –não fosse o fato de terem sido feitas anos antes da pandemia.
Oriundo da pintura, influenciado por René Magritte e Giorgio de Chirico, Saul utiliza como paisagem o deserto; as máscaras começam a aparecer como elemento nas fotografias a partir de 2010, ou seja, 10 anos antes do coronavírus. “Dizia Oscar Wilde: ‘Dá uma máscara a um homem e te dirá a verdade’. A máscara é um espelho onde você descobre sua própria solidão e constrói a si mesmo a partir do olhar dos outros. Talvez por isso, no afã de entender minha própria solidão, é que são tão recorrentes em meu trabalho as máscaras, os espelhos, o deserto, o horizonte. A epidemia nos confrontou com a solidão”, explica o fotógrafo.
“Me aproximei da fotografia com a intenção de apagar a fronteira entre fotografia e pintura, não com a intenção de enganar o olho e sim de dar à realidade um pouco de magia (realismo mágico), basicamente para responder duas perguntas: devo tomar fotos do mundo que vejo ou do mundo como o entendo? Devo fazer fotos de um mundo real ou de um mundo possível? Depois de quase 12 anos devo dizer que ainda não tenho respostas para essas perguntas. Na verdade o que tenho são mais perguntas.”
“É indevido exigir que a fotografia siga só o caminho de documentar o momento como uma reportagem. A fotografia, assim como qualquer manifestação artística, deve confrontar o homem com seus medos e culpas, com seus sonhos e pesadelos, com sua solidão. Mesmo com a dificuldade do momento atual, não devemos desperdiçar esta oportunidade única de revermos muitas das ‘verdades’ que tínhamos como certas, aprender da experiência e sair fortalecidos. O mundo não será o mesmo, por que nós devemos seguir sendo os mesmos?”, filosofa.
Não há como olhar o cenário apocalíptico das fotos de Saul, o mundo claustrofóbico e inóspito onde todos usam máscaras, sem comparar com nosso cotidiano atual, sem pensar que, de certa forma, ele “previu” o que estamos vivendo hoje e talvez vivamos durante muito tempo. É como se cada uma das fotografias tivesse o dom de provocar angústia sobre o presente e dúvidas a respeito do que o futuro nos reserva.
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