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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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O golpe de 1º. de abril começou com duas mentiras

"No dia 2 de abril Goulart ainda estava em território nacional, embora Auro de Moura Andrade (presidente do Senado) tenha declarada vaga a presidência da República na madrugada desse dia, sem que Goulart tivesse renunciado", diz Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia; colunista também afirma que, na época, parlamentares do Congresso na "tiveram que votar no que já estava acordado pelos golpistas" - a indicação do general Castello Branco para ser o primeiro presidente da Ditadura Militar (1964-1985)

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Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia

A manchete do Jornal do Brasil de 1/4/1964, uma quarta-feira, noticiando o que havia acontecido no dia anterior, 31 de março, diz em letras garrafais:

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“S. Paulo adere a Minas e anuncia marcha ao Rio contra Goulart”.

Mais embaixo, sob o título “I Exército parte contra Minas”, o texto afirma que “a Presidência da República comunicou ontem à noite, em nota oficial, a rebelião da guarnição federal em Minas, sob o comando dos generais Olimpio Mourão Filho e Carlos Luiz Guedes e anuncia a deslocação de unidades do I Exército para conter a sublevação inspirada no manifesto do governador Magalhães Pinto ‘contra a ordem constitucional e os poderes constituídos’”.

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A 31 de março, portanto, o presidente João Goulart ainda detinha o poder e tentava sufocar a conspiração mineira que ainda não era nacional e que começara depois que Magalhães Pinto lançou, às 18h00 o seu manifesto, no qual anunciou a ocupação de todos os prédios federais localizados em Minas. Ele também pediu ao presidente do Senado, Auro de Moura Andrade a transferência da capital do país para Belo Horizonte.

No dia 2 de abril, quinta-feira, o Jornal do Brasil informa no alto da capa, em oito colunas:

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“Goulart resiste no Sul e Congresso empossa Mazzilli”.

“Às 13 hs de ontem”, diz o texto “quando o movimento revolucionário contra o seu governo parecia definitivamente vitorioso, o Sr. João Goulart saiu do Palácio das Laranjeiras, no Rio, para a 3ª. Zona Aérea, onde embarcou para Brasília e se recolheu à Granja do Torto”.

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Outra retranca narra o que aconteceu no decorrer do mesmo dia:

“Disposto a resistir contra sua deposição, o Sr. João Goulart partiu para Porto Alegre, enquanto, em Brasília, de madrugada, o Congresso declarava o Sr. Ranieri Mazzilli Presidente da República depois de uma sessão de três minutos, feita debaixo de protestos do PTB. Ao responder à questão de ordem, o Sr. Auro de Moura Andrade (presidente do Senado) afirmou: ‘Declaro, sob minha responsabilidade, vaga a presidência da República, que será entregue, a partir deste momento ao Presidente da Câmara dos Deputados’. Em seguida, o Sr. Ranieri Mazzilli foi empossado no 3º. andar do Palácio do Planalto, enquanto, no andar de cima, o Sr. Darci Ribeiro (Chefe da Casa Civil) resistia e informava que iria fechar o Congresso com as tropas que lhe restavam. Poucos minutos depois, deixou o palácio”.

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A primeira vítima da ditadura tombou já nesse 1º. de Abril, como registra o JB:

“Na Cinelândia, oficiais atiraram do alto do Clube Militar contra populares que tentavam depredar o prédio. Resultado: 1 morto e 6 feridos”.

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A manchete do dia 3 de abril, sexta-feira informa que “Goulart toma rumo desconhecido e o Brasil volta à normalidade”.

Ou seja, no dia 2 de abril Goulart ainda estava em território nacional, embora Auro de Moura Andrade tenha declarada vaga a presidência da República na madrugada desse dia, sem que Goulart tivesse renunciado. À proclamação do presidente do Senado, o senador Tancredo Neves reagiu aos berros:

- Canalhas! Canalhas!

O texto abaixo da manchete afirma:

“Após ‘dispensar o sacrifício do povo gaúcho e do povo brasileiro’, em Porto Alegre, o sr. João Goulart, substituído às 3h45m de ontem, no governo, pelo Sr. Ranieri Mazzilli, embarcou às 11h40 no Viscount presidencial, acompanhado de 15 oficiais do Exército, tomando, desde então, rumo ignorado: até aos primeiros minutos de hoje não havia desembarcado em Assunção ou Montevidéu, onde era esperado”.

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O jornal também chama atenção na primeira página para um furo de seu principal colunista político:

“Carlos Castello Branco revela, em sua coluna, que foi um grupo de coronéis, com o consentimento do Comandante do Estado Maior do Exército que iniciou, há quatro meses, o processo de conspiração contra o governo Goulart, sensibilizando os altos escalões das Forças Armadas e se infiltrando entre a oficialidade”.  

Outra chamada ainda, mais abaixo, informa acerca da “expropriação das terras de Goulart” e alerta que “será feito pagamento em dinheiro que será depositado no Banco do Brasil”.

Há também espaço para destaque de mais um discurso do governador Magalhães Pinto, no qual diz que “o movimento pela legalidade foi feito pelas armas e pelo povo”.

A edição de domingo, 5 de abril, relata que o novo presidente tinha sido escolhido no dia anterior:

“Governadores e militares indicam Castello Branco”, diz a manchete.

“Depois de duas horas de debates, ontem à noite, no Palácio das Laranjeiras, os governadores Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Mauro Borges, Fernando Correia da Silva, Nei Braga e Ademar de Barros decidiram indicar ao Congresso, como candidato dos governadores, o general Castello Branco, para cumprir o restante do mandato presidencial do Sr. João Goulart. O General Muniz Aragão surgiu logo para indicar aos governadores o general Castello Branco, em nome dos militares”.  

O que mostra que os parlamentares tiveram que votar no que já estava acordado pelos golpistas.

Na quarta-feira, 8 de abril, o JB publica uma entrevista exclusiva do presidente “indicado”:

“O General Castelo branco afirmou ontem ao Jornal do Brasil que o Presidente que vier a ser eleito pelo Congresso para ocupar o cargo até 1966 deverá governar ‘acima dos partidos e não por cima dos partidos’. Sobre as eleições de 1965, afirmou que o novo presidente deverá portar-se como magistrado, sem mostrar preferências, garantindo a realização de eleições livres e assegurando a posse daquele que for proclamado pela Justiça Eleitoral”.

O jornal também informa, nessa edição, que “o senador Juscelino Kubitchek reafirmava ontem sua posição favorável à eleição de Castelo Branco”.

Tanto JK quanto Carlos Lacerda foram enganados pelo que seria a segunda mentira do golpe, a promessa de eleições diretas para presidente no ano seguinte.

A primeira foi a mudança da data para 31 de março, por razões óbvias.  

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