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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

219 artigos

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O ‘imbecil’ de Brecht e a morte do cinegrafista

Talvez pior do que a maldade seja a imbecilidade. É difícil saber, por ora, se o criminoso confesso é apenas mais um bandido ou mais um imbecil, sabendo-se que um conceito jamais exclui o outro

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Caio Silva de Souza, 22, auxiliar de serviços gerais de um hospital, confessou ter acendido o explosivo que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade. O profissional morreu 4 dias depois. O crime se deu na última 5a feira (6), no Centro do Rio de Janeiro.

Repare, Caio era um funcionário de um hospital, local e serviço que cuidam da saúde das pessoas. Seria a última pessoa a se imaginar envolvido num crime de homicídio sob a especialidade de se travestir de manifestante.

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Talvez esta criatura criminosa já tenha auxiliado na saúde de enfermos. Como será, por outro lado, a admissão de um 'auxiliar de serviços gerais' em um hospital? Qualquer um serve? Basta querer ganhar os 800 reais de salário mais vale-comida etc.?

Há questionamentos de toda ordem aí. Mas há uma estrutura podre que parece servir como energia humana a essa onda de depredação e crimes sociais em manifestações.

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Caio disse que não sabia se tratar de um artefato explosivo. Talvez seja verdade. Esse sujeito não deve saber de muita coisa na vida. Depois que mata pede desculpa e se diz trabalhador. Foi o que ocorreu.

A situação remete o caso ao 'imbecil' de Bertold Brecht, em 'O analfabeto político'. Diz o poeta alemão: 'O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais'.

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Seria esse Caio um dos 'imbecis' de Brecht? Seriam todos os violentos e agressivos, truculentos e quebradores, radicais e jactantes da violência nas manifestações que começaram no Junho-2013 no Brasil, 'imbecis' de Brecht? Parece que são.

A alienação como estrutura cognitiva nesses seres socialmente primários nem chega a consumar o que em neurociência se chama 'desordem da percepção'. Tudo indica não haver patologias, o que Freud chamou de agnosia, situação gerada por uma lesão no cortex central. Isto é sofisticado demais para o 'imbecil' de Brecht.

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Até a suposição de uma situação que representasse uma vitimização à saúde parece ser um exagero. Os 'imbecis' de Brecht são saudáveis. Orgulham-se de se dizerem 'superiores'. Não se interessam pela política dialética, dos debates. Querem a destruição, à mão armada, de o que a democracia construiu.No caso, a liberdade de imprensa.

Thomas Jefferson declarou que se fosse dado optar entre um governo sem imprensa ou uma imprensa sem governo, não hesitaria pelo segundo modelo. Toda e qualquer tentativa de cerceamento ou afetação à imprensa é um risco direto à democracia.

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Já imaginou uma única manifestação no mundo não coberta pela imprensa? Em que um evento assim, impune para o Estado, poderia redundar? Sem o testemunho publicável do jornalista? Aí estaria o horror da impunidade pró-Estado em que a secretitude garantiria a violência oficial.

Todo Estado erra e é truculento. A construção de Direitos Humanos foi historicamente, toda ela, elaborada para conter excessos do Estado. O 'imbecil' de Brecht também não percebe que o jornalista articula a fiscalização do Estado. O Estado e seus agentes devem 'temer' a imprensa como publicadora de suas falcatruas oficiais.

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A imprensa também erra e é facciosa. Em todo o mundo há essa crítica. Talvez nem possua mais a velha aura do Quarto Poder, referida em Norberto Bobbio, 'Dicionário de política' . Mas a ausência da imprensa é a certeza da violência estatal conforme mostra a história.

Quando a parcela dos 'imbecis' de Brecht, infiltrada nas manifestações, começaram, além de quebrar bens, a atacar a imprensa, várias explicações houve. Dentre tantas possíveis, permanece aquela de que essa gente buscava cometer crimes mundanos e patrimoniais. Comunzinhos e nada ideológicos: assaltos e roubos a caixas eletrônicos e pessoas de bem.

Uma bomba mirada na cabeça de um jornalista em trabalho profissional de rua é um nível de dolo, intenção e planejamento criminoso. Ou se queria a cabeça ou o equipamento empunhado. Se a cabeça, o desejo era do homicídio pessoal – mirar na cabeça mostra uma intenção letal absoluta. Se a intenção era o equipamento, o desejo reacionário era de calar a imprensa, pelo dano à filmagem.

Talvez pior do que a maldade seja a imbecilidade. É difícil saber, por ora, se o criminoso confesso é apenas mais um bandido ou mais um imbecil, sabendo-se que um conceito jamais exclui o outro. Não adianta a morte do jornalista Santiago Ilídio Andrade para 'servir de exemplo'. Ele não tinha é que ter morrido. Este exemplo não serve para absolutamente nada. Vandalismos e crimes em manifestações precisam merecer o efetivo basta da sociedade e a repulsa pesada do Estado e da Polícia.

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