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Luciano Teles

Professor adjunto de História do Brasil e da Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e autor de artigos e livros sobre a história da imprensa operária e do movimento de trabalhadores no Amazonas.

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O impatriotismo dos “patriotas”

É preciso urgentemente frear esse processo, através de grupos que construam um nacionalismo inclusivo que se materialize numa nação e numa pátria inclusiva, aberta e de todos. Os ditos “patriotas” são, na realidade, impatriotas!

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Comecemos com a palavra pátria. Grosso modo, ela indica o lugar no qual alguém nasceu ou passou a viver, a terra natal ou de vivência/fidelidade de uma pessoa, que, em geral, envolve vínculos afetivos, históricos e culturais entre a pessoa e a sua localidade. 

A palavra pátria, como sugere Fernando Catroga em Pátria e Nação, carrega “consigo uma forte carga afetiva, resultante da sobredeterminação sacro-familiar que o recobre”, que possibilita práticas sociais que não se restringem ao âmbito privado, posto que “também possui um valor cívico e ideológico imprescindível”, sobretudo por buscar incutir reconhecimento e união a uma comunidade social no sentido de “conduzir os indivíduos a aceitarem os imperativos do grupo”. Nessa esteira, segundo Catroga, no primeiro caso (sobredeterminação sacro-familiar) emerge a ideia de pátria como pai e/ou mãe e, como resultado disso, temos os “filhos da pátria”, irmãos. Por outro lado, aponta o autor, têm-se o público (grupo social) e a coisa pública, a República (res pública), e a busca pela realização do bem comum e da liberdade. Em outros termos, temos na pátria a esfera privada (doméstica) e a esfera pública (público), que não se confundem (ou pelos menos não deveriam se confundir), mas que estão interligadas.

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Porém, não podemos confundir pátria com nação e nacionalismo. Este é uma ideologia política que, nas palavras de Anthony Smith, é composta por três elementos fundamentais que se articulam e se comunicam entre si: identidade, unidade e autonomia. Nesse sentido, grupos sociais que passam a compartilhar uma experiência material e simbólica comum, que elaboram a partir disso sua identidade e que tratam de construir uma unicidade, com vistas a viabilizar e institucionalizar as suas formas de viver, constroem uma nação. A nação surge a partir desse processo. Ela é a materialização do nacionalismo. Ou, como disse Eric Hobsbawm, a nação é a expressão do nacionalismo. O Estado é apenas a ordem institucional configurada. E a pátria representa o lugar/território transformado em nação.

É importante que se diga que há outros autores que conceituam “nacionalismo”, “nação”, “Estado” e “pátria” de outras formas e que não vamos elencar aqui. Entretanto, tais conceitos apresentados acima são suficientes para demonstrar o impatriotismo dos ditos “patriotas”.

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Com efeito, tomemos de imediato a formação cultural brasileira, esta que foi fruto da integração de elementos culturais de três matrizes: a indígena, a africana e a europeia. As paisagens culturais presentes no Brasil advêm dessa relação histórica, porém não sem contradições, conflitos e tragédias. Os com/patriotas (irmãos), na pátria, deveriam consensualmente construir uma identidade e uma unidade (nacionais) inclusivas, compartilhando as experiências dos grupos que contribuíram com elementos da sua cultura para a formação da cultura nacional, inclusive reconhecendo tragédias e fazendo reparações históricas, de forma autônoma (soberania nacional). 

A autonomia é outro ponto que demonstra o impatriotismo dos ditos “patriotas”. Aqui autonomia significa a soberania do grande grupo social (população), com sua identidade e unidade, significa soberania nacional. Sobretudo seriam decisões políticas relacionadas à vida social – atividades econômicas, culturais, sociais e políticas – que levassem em conta o bem estar coletivo e a liberdade civil e que fossem tomadas de forma autônoma, soberana, considerando a vontade dos diferentes grupos que formaram a cultura nacional.

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Os ditos “patriotas” desse governo, ao contrário, buscam a imposição de uma identidade e unidade nacionais tendo como base a desqualificação e exclusão social dos seus com/patriotas (“irmãos”) indígenas, negros, mulheres, LGBTQI+’s e pobres em geral. Desprezam a autonomia, a soberania nacional, de várias formas: oferecendo os setores estratégicos da economia e entregando a exploração das nossas riquezas naturais e minerais para empresas de outros países, vendendo (privatizando) as empresas públicas e/ou o controle acionário de empresas de economia mista e até mesmo dando parte do território nacional para outros países – como a base de Alcântara, no Maranhão, para os E.U.A.

O que se vê é a submissão e a destruição da pátria, movida por um nacionalismo excludente e perigoso – que cria inimigos internos visando excluí-los e eliminá-los (esquerdas, indígenas, feministas, negros, LGBTQI+, dentre outros) – que visa uma nação para poucos: ricos e brancos que incorporem uma cultura estrangeira (talvez da Disney!).

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É preciso urgentemente frear esse processo, através de grupos que construam um nacionalismo inclusivo que se materialize numa nação e numa pátria inclusiva, aberta e de todos.

Os ditos “patriotas” são, na realidade, impatriotas!

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