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Lula Miranda

Poeta, cronista e economista. Além de colunista do 247, publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média

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O “infantilismo” que nos afeta

Parece muito mais fácil, ou mesmo cômodo e confortável, esconder-se por detrás da omissão ou de discursos vazios (plenos em desculpas esfarrapadas) do que RESOLVER o problema

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Vamos a alguns exemplos daquilo que chamo de "infantilismo".

O ministro da Justiça, se não me falha a memória, ano passado, disse que as prisões brasileiras são "medievais". Como assim?! Ele – alguém precisava tê-lo lembrado – é o ministro da Justiça! Um dos principais responsáveis por discutir, propor e implementar políticas públicas nessa seara, e por zelar pelas penitenciárias – juntamente, claro, com os governos estaduais e o Judiciário (este último fiscalizando as instalações e não permitindo que sentenciados permaneçam presos ad infinitum, mesmo após terem cumprido suas penas).

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O governador de SP disse, também recentemente, que a falta d'água no estado e o esvaziamento dos reservatórios era culpa da falta de chuvas. Ou seja: a culpa seria de São Pedro. Simples assim. Ok, a falta d'água é consequência da escassez de chuvas, mas também é devido, em primeiro lugar, à imprevidência dos governantes que não fizeram os investimentos necessários, ao longo de anos, no estado de São Paulo [o santo é outro], para suportar uma escassez prolongada sem que a população sofra os danos, os prejuízos econômicos e os incômodos de uma seca sazonal – assim espera-se.

Dia desses, um amigo me contou que seu chefe, diretor-administrativo da empresa em que trabalha, queixou-se e confidenciou "em off" aos seus ouvidos, após uma difícil reunião com membros do quadro de técnicos da empresa, que eles "estavam na mão", pois o quadro técnico da empresa só sabia fazer o "feijão com arroz" e não estava preparado para enfrentar os desafios no campo da inovação e da produtividade que a empresa precisaria vencer para crescer e ganhar novos clientes e mercados. Mas, veja bem, preste atenção: ele é o diretor administrativo da empresa! É – e sempre foi – da competência dele contratar e/ou qualificar os quadros profissionais que a empresa necessita! Por que não o fez?!

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Por que o ministro não toma ou ao menos sugere medidas que tornem menos "medievais", pois desumanas, as cadeias e presídios do país?! Por que o governador não fez os investimentos necessários para recuperar ou preservar o potencial hídrico das bacias do estado de São Paulo?! Como pode um médico não socorrer um ser humano, seja ele um fotógrafo da classe média ou um vigilante da classe baixa, que agoniza em frente a um hospital ou posto médico?! Parece muito mais fácil, ou mesmo cômodo e confortável, esconder-se por detrás da omissão ou de discursos vazios (plenos em desculpas esfarrapadas) do que RESOLVER o problema.

Percebeu para onde pretendo encaminhar essa prosa?

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Sei que isso que aqui chamo de "infantilismo", em muitos casos, talvez fosse mais apropriado chamar de incompetência, dissimulação, negligência, inépcia e até, pura e simplesmente, de má-fé mesmo. Ou será este mais um traço do meu, do seu, do nosso "infantilismo": o de não dar o nome correto aos problemas e assim não enfrentá-los/encará-los com maturidade, da forma correta?

Ou as nossas relações sociais e econômicas estariam de fato irremediavelmente afetadas e corrompidas por (in)certo "infantilismo" ou "insegurança", consequência do fato de evitarmos enfrentar de frente (sic) – com o perdão da pedagogia do pleonasmo – as questões que se nos impõem?

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Em outro exemplo recente, emblemático e acachapante, a seleção brasileira de futebol [com minúsculas mesmo] perdeu de 7 X 1 para a Seleção Alemã em jogo decisivo na última Copa do Mundo. A seleção, que estava com "as mãos na taça", teve que se contentar com um 4º lugar – merecido, adequado, diga-se.

Ao invés do técnico brasileiro assumir a culpa, chamando para si a responsabilidade pelo fracasso, com todas as letras, por ter convocado, treinado taticamente e preparado muito mal os jogadores brasileiros; em vez de dizer que a derrota foi uma consequência do fato de a Seleção alemã ser superior, melhor preparada e mais competente que a nossa seleção, não. Um dos culpados teria sido uma suposta "cobrança" e "pressão" que os jogadores [infantilizados!] sentiram por jogarem em casa.

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Quem disse que demitiram o técnico pronta e imediatamente, como consequência inadiável ao retumbante fracasso e vexame da inédita derrota por 7 X 1? Não. Ainda cogitaram a possibilidade de mantê-lo à frente da seleção. Só decidiram demitir o técnico depois da derrota contra a Holanda.

Veja bem! Chegamos ao ponto de tentar transformar, de modo "malandro", uma condição que em tudo nos favorecia [de jogar em casa, com apoio da torcida e tudo] em algo que, numa desculpa sem-vergonha, esfarrapada nos prejudicava. Nós, os torcedores brasileiros, não somos crianças para acreditar em história da carochinha. Ou somos?!

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No mundo dos adultos, o Brasil dos dias de hoje se coloca numa relevante posição de protagonista junto a América Latina e demais países emergentes – haja vista reunião recente dos BRICS, capitaneada pela presidente Dilma, com o consequente lançamento de um novo banco de fomento.

O país tem o legítimo desejo e pretensão [para alguns, mais sérios e responsáveis, uma missão] de se desenvolver. Porém, para tanto se faz necessário que assumamos, minimamente, as nossas responsabilidades e competências, não só como nação soberana, mas, antes, como indivíduos, como agentes sociais e econômicos.
E, também, claro, como governantes.

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