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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O inimigo fofo de João Doria

O governador gaúcho "é somente uma figura vistosa da direita fofa, da mesma linha de Tabata Amaral. São genérica e aparentemente progressistas e concretamente reacionários", define Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia. "Elegeu-se governador anunciando que votaria em Bolsonaro e agora tenta desqualificar o colega como bolsonarista"

Eduardo Leite e João Doria (Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini | GovSP)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Até os tucanos mais distraídos sabem que saiu de um marketing mal-enjambrado a imagem de Eduardo Leite como a ressurreição do que teria sido, lá na origem do PSDB, a social-democracia de Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso.

Aquela social-democracia nunca existiu, foi apenas uma miragem, e Leite também é somente uma figura vistosa da direita fofa, da mesma linha de Tabata Amaral. São genérica e aparentemente progressistas e concretamente reacionários.

O governador gaúcho é o antiDoria porque está à direita de Doria, em quase todas as áreas. Não é porque possa ser mais avançado, mas porque é o mais conservador e antiLula e mais adequado ao que de fato é o tucanismo.

Leite disputa as prévias do PSDB com Doria no dia 21 de novembro. Está no ataque, desqualificando o colega como bolsonarista, quando ele mesmo fez uso de um bolsonarismo tático e oportunista na eleição de 2018.

Elegeu-se governador anunciando que votaria em Bolsonaro. Fez acordos com a extrema direita gaúcha e formou um governo com pelo menos meia dúzia de secretários identificados com o bolsonarismo.

Foi um dos primeiros governadores a aderir à distribuição de cloroquina. Recebeu Bolsonaro por duas vezes no Estado, sempre com apertos de mão. Na primeira vez, em abril do ano passado, sem usar máscara.

Em entrevistas, a mais lembrada ao Roda Viva, reafirmou que votou em Bolsonaro porque era a única saída. Precisava evitar Lula. Nunca disse que se arrependeu.

Adota o receituário liberal, com reformas que tiram direitos dos servidores e com privatizações. Conseguiu, com maioria na Assembleia, derrubar uma lei que exigia plebiscito para que o Estado se desfizesse do seu patrimônio.

Já vendeu o último pedaço estatal da empresa de energia, a CEEE. Vai leiloar as companhias de saneamento e abastecimento de água, Corsan, e de gás, a Sulgás. Já avisou que só não vende o Banrisul, o banco do Estado, porque não ajudaria em nada o déficit do Estado.

Antes mesmo de Ricardo Salles liberar a boiada na Amazônia, Leite abriu a porteira que trancava desmandos ambientais, ao esvaziar o poder dos órgãos do setor e instituir o autolicenciamento.

No Rio Grande do Sul, o empreendedor é autorizado por ele próprio a interferir no ambiente. É como se o autofiscalizado pedisse e ele mesmo emitisse o que chamam de Licença Ambiental de Compromisso.

Leite é o neoliberal de power point, com um diferencial pessoal que ainda é uma incógnita como agregador de ganhos. Saiu do armário em julho, quando programou um depoimento em entrevista em alto estilo a Pedro Bial.

Por que agora? Porque os gaúchos sabiam que o governador era gay, mas o Brasil não poderia ficar sabendo no meio de uma campanha à presidência.

Mas Leite nunca fez nada de relevante pela diversidade, pelas diferenças e pelas liberdades, quando as questões passam pelos costumes ou pela orientação sexual.

Pouco depois da sua declaração a Bial, o UOL fez um levantamento de possíveis ações do governador nessa área e não encontrou nada.

Leite é um autorreferente, que se declara gay para informar aos outros que é gay, mas sem qualquer conexão, como político, com a realidade das pessoas LGBTI+.

É uma figura pública e como tal atua em todas as frentes, quase todas com ações conservadoras, mas sem nenhum gesto forte que expresse sua contribuição à afirmação dos diferentes e ao combate às discriminações.

Pode parecer compreensível que um gay busque a proteção da discrição, num país homofóbico e violento. Para uma pessoa comum, sim.

Mas não para um político em alto cargo. Uma personalidade pública, uma referência como conduta, pode declarar-se gay e recolher-se ao que é, sem qualquer compromisso institucional com brasileiros e brasileiras que dependem muito da resistência política para enfrentar machismos e sobreviver? Não pode.

Quando se declarou gay, Leite teve o apoio público do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que o parabenizou pela coragem de enfrentar os riscos da sua revelação. Quando Contarato foi atacado pelo bolsonarista Otávio Fakhoury, não deu um pio.

Esse é Eduardo Leite, que mobiliza boa parte da grande imprensa contra João Doria e tem entre seus eleitores declarados o colunista Leandro Narloch, a voz da extrema direita na Folha.

Narloch está tão impressionado com Leite, que na semana passada escreveu em sua coluna essa declaração de voto e de amor:

"E tem a voz – meu Deus, o que é a voz daquele homem. Enquanto a voz de Sergio Moro tira dele milhões de votos, a de Eduardo Leite lhe garante uns 10% do eleitorado”.

E Narloch continuou, no mesmo texto, referindo-se à voz de apresentador de baile de debutantes do tucano:

“O leitor talvez considere isso uma frivolidade, mas pense bem. Gostamos de acreditar que os eleitores se movem pela razão; a verdade é que voz e a aparência rendem mais votos que muitas propostas e argumentos".

Talvez seja isso mesmo e esteja aí o melhor resumo frívolo do que é Eduardo Leite. O gaúcho conseguiu atrair para seu ninho os antiDoria, mas não é só isso o que ele de fato quer.

Leite quer também a fidelidade da extrema direita, do público de Bolsonaro impressionado com a sua aparência, porque precisa dessa base para voar alto.

Leite talvez seja, na definição de Narloch, apenas uma voz aveludada. Pode ser só o que a terceira via da direita tem no momento para enfrentar Lula.

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