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Bia Willcox

Empresária que escreve sobre relações de afeto, editora que fez Direito na UERJ, professora que dá palestras, mãe que produz conteúdos

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O irrespirável tempo que passou

Teoricamente recuperamos saúde, dinheiro, autoestima e conhecimento. Recuperamos memória. Mas o tempo não

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É tudo culpa de uma vitrola.

Mas podia ser de uma estação de rádio, um filme antigo ou até um DJ numa festa.

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Fato é que a vitrola que chegou à minha casa me fez resgatar velhos vinis, vinis da minha infância.

Vinis da minha adolescência, da minha vida. Fui resgatando memórias; enquanto separava compulsivamente os de que mais gostava e os ia tocando ao longo do sábado de sol em que deveria estar na praia.

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De repente cheguei no LP da trilha sonora do cult movie O Caçador de Andróides, Blade Runner, que me tocou profundamente quando o assisti pela primeira vez, do auge dos meus dias adolescentes cheios de questionamentos existenciais.

A maior de todas as angústias humanas - o medo da morte e a imprevisibilidade da vida - estava lindamente ali sintetizada, especialmente ao final do filme, quando Rick (Harrison Ford) diz não saber quanto tempo vai viver a Rachel, replicante por quem ele se apaixonou, e finaliza com a seguinte pergunta: "e quem sabe?"

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Essa cena pautou meus próximos dias, filosoficamente falando, e a trilha de Blade Runner foi tocada no dia em que eu, ainda no fim da adolescência, resolvi me casar.

E me emocionar ao ouvi-la na minha vitrola nada tem a ver com querer esses dias de volta.

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As músicas do disco têm a ver com a lembrança de pessoas queridas daquele momento e que já não vivem mais.

Têm a ver com o cerne de toda a questão que nos assombra - temos um percurso de vida e caminhamos inexoravelmente pro fim.

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Ouvir a trilha do meu casamento, longe de me fazer reviver aquela cena, me faz lembrar que o tempo é a única coisa que eu conheço do meu dicionário que não se recupera.

Teoricamente recuperamos saúde, dinheiro, autoestima e conhecimento. Recuperamos memória. Mas o tempo não. Tal qual a morte, o tempo que passa não nos deixa esquecer que existe fim e que a finitude da vida é a grande espada sobre nossas cabeças.
Viver a sensação do tempo que já vivemos e que não recuperamos é tornar o ar irrespirável.

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Quando nos damos conta de que o tempo é irretornável e o passar dele nos conduz ao fim, perdemos oxigênio por alguns segundos ao menos.

Não há o que se fazer, a não ser bebê-lo até o último gole. Se é pra passar, que passe deixando a chance de realizarmos pra nós mesmos. O tempo nos conduz ao fim, mas é enquanto ele passa que temos a chance de sermos o nosso melhor e deixarmos marcas na família, entre amigos, na nossa sociedade e até para a Humanidade. Só depende de nós.

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