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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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O Mecanismo é uma obra-prima

Através do seriado é possível compreender, por exemplo, como são obtidos os acordos de delação premiada, quando réus são submetidos a torturas psicológicas medievais, que vão desde ameaças de prisão a familiares, e encarceramento em penitenciárias lotadas de assassinos, estupradores e traficantes

Através do seriado é possível compreender, por exemplo, como são obtidos os acordos de delação premiada, quando réus são submetidos a torturas psicológicas medievais, que vão desde ameaças de prisão a familiares, e encarceramento em penitenciárias lotadas de assassinos, estupradores e traficantes (Foto: Celso Raeder)
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Confesso que estava contaminado pelas opiniões negativas que li a respeito do seriado "O Mecanismo", de José Padilha. Mas, depois de assistir todos os capítulos de uma só vez, concluí que ali está uma obra magistral, talvez a mais importante já produzida para esclarecer a opinião pública sobre os bastidores da Operação Lava Jato. Através do seriado é possível compreender, por exemplo, como são obtidos os acordos de delação premiada, quando réus são submetidos a torturas psicológicas medievais, que vão desde ameaças de prisão a familiares, e encarceramento em penitenciárias lotadas de assassinos, estupradores e traficantes.

A fogueira de vaidades que arde em torno de promotores e agentes policias também está fartamente registrada na obra de Padilha, com pitadas de sexo e traições conjugais. Afinal, ninguém é de ferro, não é verdade? O personagem central da trama, interpretado por Selton Melo, é um obcecado por fazer justiça por razões pessoais, e não nutre qualquer apreço ao Ministério Público Federal e tampouco ao juiz que incorpora Sérgio Moro. Para ele, não havia sentido algum em conceder o benefício da delação premiada a Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, principalmente com relação ao doleiro, que operava propina na Petrobras para engordar o caixa do Partido Progressista, e era reincidente nos malfeitos que praticava desde o escândalo tucano do Banestado.

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Padilha estabelece uma linha divisória entre a ficção e a realidade, determinada pelas provas documentais que são apreendidas na residência e escritórios dos acusados. De um lado estão os extratos bancários, contas em paraísos fiscais, montanhas de dinheiro escondidas em paredes falsas, todos em poder dos presos beneficiados por delação premiada, e do outro, a pulverização de acusações verbais sem lastro material, satisfazendo tão somente ao ego dos promotores em busca de projeção nacional. O "sineasta" surfou nas ilações do Ministério Público, para consubstanciar a realidade paralela desenhada no Power Point do Deltan Dellagnol.

Só dessa forma é possível enredar o ex-presidente Lula no epicentro de uma roubalheira que, de acordo com o Paulo Roberto Costa criado por Padilha, começou com Dom João VI. Foi através desse recurso de linguagem que o "sineasta" conseguiu tirar do colo de Fernando Henrique Cardoso o escândalo bilionário do Banestado, jogando tudo na conta do PT. Alberto Youssef, como todo mundo sabe, já está em casa, assim como Paulo Roberto Costa, Jorge Luz, o operador mais antigo do PMDB dentro da Petrobras, entre outros que não se intimidam nem se aposentam.

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Se os ministros do Supremo Tribunal Federal assistirem a séria do Netflix antes do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, não terão outra alternativa senão a de conceder o benefício, além de sinalizar ao Tribunal Superior Eleitoral que o direito de Lula disputar as eleições para a presidência é inquestionável. A narrativa que caracteriza os filmes de Padilha, que torna tudo o que faz uma continuação de Tropa de Elite, trata a Suprema Corte como um antro de bandidos que protegem bandidos. Para ele, a justiça brasileira só existe em Curitiba.

Recomendo a todos que revejam os depoimentos de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa ao juiz Sérgio Moro, disponíveis no Youtube, depois de assistirem ao blockbuster de Padilha. Nenhum dos dois cita o presidente Lula como o epicentro dessa roubalheira. Pelo contrário. O doleiro, inclusive, afirma que Lula não queria nomear Costa para a diretoria de abastecimento da Petrobras, e só o fez depois de a bancada do PP, partido que impôs seu nome para a estatal, começou a obstruir as votações de interesse do governo no Congresso. Foi a mesma coisa que Eduardo Cunha fez no governo Dilma Rousseff, cuja resistência lhe custou o mandato.

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Se depender de mim, José Padilha merece um Oscar.

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