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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O mercado quer mesmo é cafuné

"O PT tenta acalmar o mercado. Faz bem, é assim que funciona em toda parte. Acalma-se quem pode ficar agitado", escreve Moisés Mendes

Lula e Bolsonaro (Foto: Reuters | Ricardo Stuckert)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

É difícil compreender o protagonismo que parte das esquerdas atribui ao mercado, esse ente cada vez mais expandido que reúne banqueiros, executivos de todas as áreas e operadores de qualquer coisa que mexa com dinheiro grosso, ações, juros, dólares e outras moedas e ouros diversos.

Sabe-se que os humores do mercado podem criar cenários ruins às vésperas de uma eleição e orientar decisões bruscas. Mas que decisões radicais poderiam ser tomadas hoje?

Que gestos bruscos podem ser feitos com os movimentos que levam à escolha entre Lula e Bolsonaro? Que bobagem é essa de que o mercado pode estar diante de uma escolha difícil?

O mercado toma decisões para o próprio mercado, os ricos que ganham dinheiro com dinheiro, os rentistas, os Petrobrasistas, os que levam e trazem dinheiro de fora. Isso até diverte uma certa classe média que nem investe, mas que acha que um dia investirá na bolsa.

No mais, numa situação como a do Brasil hoje, o mercado, como diria a poeta, é apenas o mercado. Mesmo assim, as notícias destacadas nos últimos dias falam dos jantares de Gleisi Hoffmann com empresários e banqueiros.

O PT tenta acalmar o mercado. Faz bem, é assim que funciona em toda parte. Acalma-se quem pode ficar agitado.

Mas se o mercado tivesse mesmo o poder que dizem ter, Henrique Meirelles, o homem do mercado, teria acalmado todo mundo e tido melhor performance em 2018.

Ninguém poderia acalmar mais o mercado do que Meirelles. Mas o mercado não tem o poder de dizer para ninguém que Meirelles é o cara. O mercado não acalma desiludidos, famintos e desempregados.

Só os pastores evangélicos têm o poder absoluto de dizer em quem os rebanhos devem votar para se acalmar. A classe média não tem mais esse poder. As comunidades católicas, muito menos.

Nem os sindicatos, os professores e nem os empresários. Os empresários não puxam votos pelo cabresto nem dos próprios funcionários e das próprias mulheres e dos filhos.

O mercado que funciona hoje é o que Bolsonaro diz ser do bem contra o mal. O mercado de Bíblias, rezas, verbas liberadas para a educação que tem fé, dízimos, ouros e exorcismos.

O mercado clássico do dinheiro, no contexto brasileiro, pode até interferir em muita coisa, mas não tem interesse em mexer em cenários como o de hoje. E nem tem eleitorado.

Em 2018, conseguiu exatos 1.288.950 votos para Henrique Meirelles. Apenas 1,2% da votação no primeiro turno.

Meirelles teve menos votos do que o cabo Daciollo, que ficou com 1.348.323. Perdeu até para João Amoedo. Porque o mercado é ruim de voto.

Não há mais nenhum nome de expressão na política que tenha saído do mercado ou seja seu representante. Hoje, Roberto Campos não seria senador. Talvez nem Magalhães Pinto teria hoje o protagonismo que teve em seu tempo.

O poder do pessoal do dinheiro de transmitir confiança ou acionar desconfianças, em véspera de eleição como essa de agora, é coisa do século 20. O mercado não é o espantalho da política onde não devem existir medos e sobressaltos.

E não há sobressaltos com Lula. Fala-se hoje do economista e ex-banqueiro Gabriel Galipolo, que seria um dos mais influentes conselheiros do PT, como pouco se falou de algum economista desconhecido e próximo de Lula em outras épocas.

Galipolo está na capa dos jornais, porque participa dos jantares com o mercado, o que inclui também quem produz sapatos, TVs, pregos, aço ou compra e vende bugigangas da China.

Sim, mercados direcionam dinheiros para um lado ou para outro, dependendo dos ventos que sopram. Mas que mercado maluco desconfiaria mais de Lula do que de Bolsonaro hoje?

Foi-se o tempo da carta aos brasileiros. Não precisa carta, nem Twitter, nem Tik Tok para acalmar mercados. Hoje, uma declaração sobre o aborto impacta mais do que qualquer fala sobre a Petrobras.

Até o mendigo aquele que ficou famoso por sua performance sexual, e que agora é consultor financeiro na internet (acreditem), sabe que o mercado não teme Lula.

Ele sabe que o mercado hoje apenas pede cafuné, porque é muito mais dengoso do que perigoso.

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