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Marconi Moura de Lima

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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O Meta-Golpe, a Guerra Civil e o blefe de Bolsonaro: não caiamos!

Por que não podemos cair no blefe de Bolsonaro e seus seguidores “gadificados”[1] acerca de uma potencial Guerra Civil, ou mesmo de um Meta-Golpe?

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Por que não podemos cair no blefe de Bolsonaro e seus seguidores “gadificados”[1] acerca de uma potencial Guerra Civil, ou mesmo de um Meta-Golpe?

1. Exatamente por isso: já estamos dentro de um golpe, o Golpe de 16. Sofremos diariamente as tormentas desta ruptura institucional-democrática. O Golpe dentro do Golpe (o Meta-Golpe) ainda não reúne condições fáticas e estruturais para se realizar;

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 2. Sobre Guerra Civil: não está no nosso DNA, na nossa formação cultural e cognitiva, no nosso espírito cívico esta noção. Não somos exatamente um povo belicoso[2];

3. Segundo, porque me lembro e todos se lembrarão da cena histórica da multidão em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Caetano, quando naquele 7 de abril de 2018 o ex-presidente Lula estava no aguardo da Polícia Federal para ser preso. Ali eu pensava: “agora vai! Agora tem Guerra Civil!”. E simplesmente Lula, o maior e melhor presidente da História do Brasil foi levado pacificamente ao cárcere, e ninguém jogou sequer uma pedra no comboio da PF naquela data.[3]

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4. Porque os 25% do eleitorado que AINDA defendem o Bolsonaro não possuem estruturas de formação em guerrilha, ou qualquer instrução coordenada e orgânica para um enfrentamento bélico. Continuarão nas redes sociais por algum tempo alimentando vertentes do ódio – e nada mais que isso;

5. Porque apenas uma meia dúzia de fascistas são realmente armados e terroristas. Entretanto, não são suficientes para sustentar uma estrutura de Guerra Civil;

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6. Na outra tese do texto: um Golpe Militar para dar complementariedade ao Golpe de 16. Citei no começo que isso demandaria condições. E não é fácil agrega-las nesta modernidade tardia;

 7. Primeiramente, nas Forças Armadas não existem apenas nostálgicos da Ditadura de 64. A maioria destes, de pijama, jogam diariamente “Pif-paf” (quase pôquer) no Clube Militar do Rio de Janeiro ou em suas sucursais. E jogam também conversas ao vento – para ver se cola;

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 8. Uma parte destes autoritários clássicos estão na ativa, é verdade (preocupação 1). São filhos e netos dos assassinos, ou dos cúmplices de 64. Todavia, não são a exata maioria dentro da caserna;

9. Ainda outra parte dos que bradam Golpe dentro dos quarteis são descendentes intelectuais da Ditadura. Embora não tenham vertente genética, têm-na como formação cognitiva (preocupação 2);
 

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10. Uma parte significativa, no entanto, nada tem a ver com 64. Estão na Marinha, na Aeronáutica, no Exército para ganhar seu majestoso soldo e, respeitosamente, aguardam o dia em que, talvez, sejam convocados para defender a Segurança Nacional – de fato, numa eminência de guerra entre estados nacionais (contraposição 1);

 11. Outra parte destes, embora militares de alta patente, são formados nas mais democráticas cognições. Defendem a Constituição Federal, o Estado de Direito, a harmonia institucional e os direitos de liberdade das pessoas (contraposição 2);

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12. Além disso, o despotismo ébrio de Bolsonaro, sua incompetência generalizada, sua arrogância desmedida não são exatamente os ingredientes para que algum militar lúcido tenha motivação para defender, a QUALQUER CUSTO;
13. Parte significativa dos grandes empresários, ou já usaram o Bolsonaro o suficiente, ou conseguiram maior parte de seus interesses atendidos. Bolsonaro, o “boi de piranha” é, portanto, descartável, mesmo ao Mercado;

14. Alguns empresários, mesmo não tendo conquistado todas as vantagens às suas empresas, também são democratas e possuem o mínimo de lucidez. Estes vêm Bolsonaro como um genocida, e o bolsonarismo como uma doença à República (contraposição 3);

15. Inclua-se aí os latifundiários do agronegócio, os inúmeros industriais e os exportadores de commodities: todos os dias perdem mais e mais dinheiro com as atrocidades do Chefe da Nação. Portanto, estão atônitos;

16. Parte pequena destes magnatas ainda estão com o Capitão a qualquer custo, e despejam Capital nas redes de fake news e na semântica reiterada do ódio (preocupação 3);

17. A Grande Mídia, a maior promotora do Golpe de 16, cada dia mais desembarca do ninho fascista e autoritário. Flertaram – e construíram um imaginário forte na população – com o bolsonarismo, todavia, já perceberam que isso não é bom, nem mesmo para os NEGÓCIOS;

18. Esta mesma Grande Mídia também não apoia um novo Golpe Militar (contraposição 4), embora tenha apoiado o de 64;

19. As igrejas estão cada dia mais divididas. Os católicos, apenas os carismáticos (e não são todos) estão com Bolsonaro. Os evangélicos, estes sim: a maioria, ainda estão vestidos desta pedagogia anti-civilizatória (preocupação 4). 

20. Porém, é perceptível que mesmo neste segmento evangélico, vários humanos estão indo pescar a fé em outros barcos que não seja na seita bolsonarista. A melhor notícia é o ativismo cada dia mais intenso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a maior estrutura da Igreja Católica no Brasil. Estes religiosos cada dia combatem mais a anti-política de Bolsonaro – que retira direitos do povo e arrisca de morte sua população (contraposição 5);

21. O Congresso Nacional infelizmente já está morto faz tempo. É um lugar inútil nesse momento. Não porque não seja necessário à democracia; é condição fundante para um Estado de Direito e NECESSÁRIO ter um Parlamento ativo. O problema é a atual composição e seus comandantes: tirando ali 100 deputados e senadores, os demais NÃO VALEM O FEIJÃO QUE COMEM (preocupação 5);

22. Mesmo assim, a Ala Militar do Planalto, sob a coordenação do ministro-Chefe da Secretaria de Governo e também General, Luiz Eduardo Ramos, negocia diariamente com o chamado “Centrão” no Congresso Nacional. Isto é, vão operar o jogo democrático. Será? (Preocupação 6; Contraposição 6);

23. Existe uma clara perseguição de Bolsonaro aos governadores e prefeitos do Brasil por conta de suas ações de enfretamento ao Coronavírus, inclusive fazendo uso das estruturas do Poder (exemplo: a Polícia Federal para assustar; e o não-envio de recursos para equipar os hospitais do SUS) a fim de pressionar estes governos locais (preocupação 7);

24. Entretanto, são 5.570 prefeitos e 27 governadores. Mesmo com divergências, não podemos negar que são lideranças. E estão enfrentando o Governo Bolsonaro. Portanto, não há sustentação política ao Presidente da República e aos militares que lhes acompanha (contraposição 7);

25. O Poder Judiciário brasileiro, embora feito da mais podre casta, com sua mente colonizada ainda nos tempos de Portugal secular, começa a ter medo de uma potencial ditadura. E encontrou na força reativa sua maior arma: não vão aguardar para ver suas Casas fechadas. A prova disso é o STF, liderada intelectualmente por Celso de Mello: vai para cima – com menos medo – de Bolsonaro e seus militares aposentados fazendo plantão no Palácio do Planalto (contraposição 8);

26. Creio que uma das coisas mais significativas (a contraposição 9) é o contexto internacional. A geopolítica precisa do Brasil. Tirando o outro genocida: Donald Trump, presidente dos EUA, os demais países e a Organização das Nações Unidas (ONU) acompanham de perto a situação do Brasil. É ruim para a democracia global um Meta-Golpe no Brasil. E, principalmente, é ruim para os negócios nessa polarização comercial entre China (e os demais países dos BRICS) e EUA; Mercosul-União Europeia. Portanto, ainda não há apoio internacional a um eventual Golpe Militar no Brasil;

27. Na verdade, a temperatura e pressão mesmo virá das Redes Sociais. Não é tão simples mobilizar uma Guerra Civil apenas pela internet, como o contrário também é fático: uma nova Ditadura Militar no jogo da contemporaneidade em que as redes sociais são ARMAS, inclusive com forte poder de combate à implantação e sustentação de um Regime com estas fissuras, não será nada fácil. 

Por tudo isso e tanto mais (que não cabe escrever, entretanto, pensar aqui), NÃO VAI TER META-GOLPE! 

Sobre a Guerra Civil bolsonarista: essa gente não tem força suficiente para embarcar nessa aventura. Vivem de seus flertes a fim de dar sustos no restante da população e nos democratas ativistas deste País.

Sigamos os próximos capítulos desta novela, pois AINDA existe possibilidade de um final um pouco mais feliz... 

Doravante, ainda existe ESPERANÇA!

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[1] Neologismo para me referir à formação dos seguidores de Bolsonaro, sua cognição política: tornam-se “rebanho”, e como “gado”, vão seguindo orientações dentro de sua bolha ideológica sem qualquer questionamento verossímil das coisas. 

[2] Embora sejamos bastante violentos. Todavia, uma violência de covardia, não uma “violência” de propósito, de causa. Não temos espírito ou tradição revolucionária, esta é a questão. Sofremos com a violência urbana crescente, com as várias facetas das discriminações e preconceitos (que são manifestações de violência). Entretanto, este tipo de enfrentamento, de luta: Guerra Civil, não é de nossa significação civilizatória.

[3] É verdade que jamais podemos comparar o estilo de Lula ao estilo de Bolsonaro. Lula é um democrata republicano pacifista incurável. Bolsonaro, um fascista genocida ignóbil. Mas novamente retorno ao DNA brasileiro: não estamos para guerra!

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