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Reinaldo Del Dotore

Graduado em Odontologia e Direito. Servidor público na área da saúde

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O óbvio obscuro

Difícil, a meu ver, não compreender que da mesma forma que a insatisfação de 800 mil não legitima impeachment, a eventual insatisfação de, digamos, 20, 40 ou 100 milhões também não legitima

Difícil, a meu ver, não compreender que da mesma forma que a insatisfação de 800 mil não legitima impeachment, a eventual insatisfação de, digamos, 20, 40 ou 100 milhões também não legitima (Foto: Reinaldo Del Dotore)
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"Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?" (Bertolt Brecht)

Há três dias eu publiquei um texto relativamente simples, no qual eu dizia algo que, salvo melhor juízo, é cristalinamente óbvio. Eis, porém, que o óbvio não parece assim tão óbvio aos olhos da opinião pública.

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No texto eu afirmava, em apertada síntese, que por mais que haja insatisfação com relação ao governo federal (e há, isso é inquestionável); por mais que essa insatisfação seja traduzida em manifestações, passeatas e atos contra o governo (um direito inalienável - e isso eu também deixei claro no texto); por mais que o universo dos descontentes supere à larga o número de manifestantes que efetivamente saíram às ruas; por mais que pesquisas indiquem que a popularidade da presidente esteja em baixa, nada disso traz legitimidade constitucional à hipótese de impeachment. Esclareci ainda que toda essa insatisfação pode ser canalizada para a vitória de algum candidato oposicionista em 2018, e que esse é o caminho democrático à luz da nossa Constituição. Eventual impeachment seria legítimo caso surgissem provas (e sempre é bom lembrar: indícios, paixões, desejos e rumores não são provas) quanto ao hipotético cometimento de crime de responsabilidade por parte da presidente. Mas, em que pese o bravo esforço de caciques da oposição e da nossa "grande" mídia, não há nada contra Dilma a não ser os tais rumores e vontades.

O artigo foi guindado ao topo da página inicial do Brasil 247, para o qual tive a honra de ter sido convidado para, periodicamente, escrever algumas palavras. Essa exposição privilegiada, que durou algumas horas, fez explodir a quantidade de comentários ao texto. Pois foi nesses comentários que notei que, por um lado, reitero, o óbvio se apresenta nebuloso para muitos cidadãos, e, por outro, que há um déficit extremamente preocupante, que permeia considerável porção da nossa população, quanto à interpretação de textos. Abstraídas as ofensas e impropérios, tão intensos quanto pueris, o que notei com muita frequência é que cidadãos, ao comentar o artigo, apresentavam argumentos que se desmanchavam diante da simples releitura do próprio texto comentado. Assim, por exemplo, escrevi que insatisfação popular não legitima processos de impeachment, e vários comentadores, diante dessas palavras, argumentaram que os 800 mil que estiveram nas ruas no domingo representam apenas uma pequena fração dos descontentes com o governo federal. Difícil, a meu ver, não compreender que da mesma forma que a insatisfação de 800 mil não legitima impeachment, a eventual insatisfação de, digamos, 20, 40 ou 100 milhões também não legitima. Mas muita gente realmente não compreendeu.

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O resumo dessa minha experiência é: muitas pessoas são intolerantes, agressivas e não têm ferramentas cognitivas adequadas para o exercício do debate. Nada obstante, e em que pese as ofensas que venho recebendo, pretendo continuar a expor meu pensamento enquanto este espaço me for gentilmente franqueado, até mesmo em respeito e agradecimento aos poucos que, ainda que discordando de minhas opiniões, o fizeram e fazem de forma civilizada e racional.

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