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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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O pai de todos os golpes

"O golpismo travestido de evento democrático de “salvação da pátria” e a difusão do anticomunismo e do fascismo, principalmente no Rio de Janeiro, são três legados que Getúlio Vargas deixou para os brasileiros. É o que se constata no alentado documentário “Imagens do Estado Novo 1937-45” dirigido pelo carioca Eduardo Escorel e produzido pelo paulista Claudio Kahns, exibido recentemente nas duas maiores cidades do Brasil"; o registro é do colunista Alex Solnik, que faz um relato de como se deu o período do Estado Novo no país

"O golpismo travestido de evento democrático de “salvação da pátria” e a difusão do anticomunismo e do fascismo, principalmente no Rio de Janeiro, são três legados que Getúlio Vargas deixou para os brasileiros. É o que se constata no alentado documentário “Imagens do Estado Novo 1937-45” dirigido pelo carioca Eduardo Escorel e produzido pelo paulista Claudio Kahns, exibido recentemente nas duas maiores cidades do Brasil"; o registro é do colunista Alex Solnik, que faz um relato de como se deu o período do Estado Novo no país (Foto: Alex Solnik)
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O golpismo travestido de evento democrático de “salvação da pátria” e a difusão do anticomunismo e do fascismo, principalmente no Rio de Janeiro, são três legados que Getúlio Vargas deixou para os brasileiros. É o que se constata no alentado documentário “Imagens do Estado Novo 1937-45” dirigido pelo carioca Eduardo Escorel e produzido pelo paulista Claudio Kahns, exibido recentemente nas duas maiores cidades do Brasil.

O auge do movimento fascista (aqui chamado de integralismo) deu-se em 1937, quando seu chefe, Plínio Salgado foi candidato às eleições presidenciais marcadas para janeiro de 1938. Centenas de homens uniformizados – calça, camisa e gravata preta – marchavam nas avenidas do Rio, carregando bandeiras com suásticas e eram saudados entusiasticamente das calçadas por populares que faziam a saudação nazista com o braço direito.

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Preocupado com o crescimento do movimento, não por seu conteúdo germânico, do qual não desgostava, mas por representar um entrave aos seus planos de continuar no poder mesmo com eleições marcadas, Getúlio chamou Salgado para uma conversa quando Francisco Campos, então secretário da Educação do Distrito Federal já redigia a constituição do Estado Novo e Salgado tomara conhecimento dela, embora fosse urdida em segredo.

No encontro, Getúlio, que a essa altura era presidente da República, “eleito” pelos constituintes de 1934 disse-lhe que a Ação Integralista seria o partido de sustentação do Estado Novo e ele, o novo Ministro da Educação.

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Entusiasmado com as novidades, Salgado multiplicou as manifestações fascistas e organizou uma grande marcha, com participação de 20 mil camisas-pardas (estimativa da época) em frente ao Palácio do Catete para Getúlio ver, com muita alegria, da sua varanda.

Mas, além de neutralizar as pretensões de Salgado, Getúlio precisava também colocar a escanteio o candidato mais forte, o ex-governador de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, que tinha o apoio, inclusive, de um dos aliados de Getúlio de 1930, general Flores da Cunha que era o governador do Rio Grande do Sul e não concordava com a prorrogação do mandato constitucional de Getúlio.

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No dia 1º. de outubro de 1937, uma sexta-feira, o “Correio da Manhã” acordou os cariocas com uma manchete bombástica: “As instruções do Komintern para a acção dos seus agentes contra o Brasil – O tenebroso plano foi apprehendido pelo Estado Maior do Exército”. “Trata-se de uma série de instrucções destinadas a preparar e levar a effeito um golpe comunista conforme se verá do resumo que a seguir divulgamos” trombeteava o diário. “Nos bairros as massas deverão ser conduzidas aos saques e às depredações” garantia a matéria, fundamentada no comunicado do Estado Maior do Exército, comandado pelo general Goes Monteiro, um dos germanófilos mais convictos do governo Vargas.

No dia 4 de outubro, uma segunda-feira, sob a manchete “Acima de tudo está a salvação da Pátria”, “A Noite” publicou “a exposição de motivos que os ministros militares, general Eurico Gaspar Dutra e o almirante Aristides Guilhem enviaram ao presidente da República, há dias, solicitando a imediata decretação do estado de guerra. Nelle, os ministros accengtuam que acima de tudo está a salvação da Pátria e pedem por isso a medida excepcional”.

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Em resposta ao apelo dos ministros militares, Getúlio pede ao Congresso a aprovação urgente do estado de guerra e é prontamente atendido pela maioria dos parlamentares.

Autorizado pelo Congresso, o ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra desloca soldados para a fronteira do Rio Grande do Sul e federaliza as tropas do general Flores da Cunha, forçando sua demissão e sua partida para o exílio. E ferindo de morte a campanha presidencial de Armando de Salles Oliveira da qual Flores da Cunha era o principal apoiador.

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Na madrugada de 10 de novembro de 1937, ainda sob estado de guerra – contra quem? A imprensa não perguntou – a cavalaria do Distrito Federal cercou os prédios da Câmara Federal e do Senado por ordem de Getúlio. Quando tomaram conhecimento do fato, 80 deputados rumaram ao Palácio do Catete, para prestar solidariedade a Getúlio.

À tarde, antes da hora do jantar, o ainda presidente leu através do rádio a declaração em que comunicou o fechamento do Congresso, a extinção dos partidos políticos e a promulgação da nova constituição. Em seguida, foi jantar com a família na embaixada da Argentina.

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No dia seguinte, um dia normal como todos os outros, “O Globo” publicou na primeira página a seguinte declaração do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra:

“Qualquer perturbação da ordem será uma brecha para os inimigos da Pátria, para adversários do regimen democrático que nos consagra”.

Getúlio também golpeou os fascistas tupiniquins. A Ação Integralista foi extinta, como os demais partidos e Plinio Salgado não se tornou ministro, mas a influência do movimento perdura até hoje no Rio de Janeiro, cuja população consagrou o protofascista Jair Bolsonaro como o deputado federal mais votado do estado.

Muitos anos depois ficou provado que o tal documento do Komintern, denominado Plano Cohen, jamais existiu, fora uma farsa produzida pelo próprio governo Vargas, escrito pelo capitão Olympio Mourão Filho (o mesmo que em 1964 detonou o golpe militar contra Jango) por encomenda do Chefe do Estado Maior, general Goes Monteiro. Mas o golpe já estava dado e o pretexto serviu como uma luva para mais uma onda de repressão aos comunistas.

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