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Valdete Moreira

Professora nas redes públicas municipal e estadual em Cachoeirinha/RS, dirigente sindical do Cpers/Sindicato e Movimento Popular Pedagógico-Escola do Povo.

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O país dos idosos descartáveis

No RS o governador Eduardo Leite, não diferente de Bolsonaro, aprofunda a miséria de educadoras e educadores aposentados no momento em que mais precisam ser cuidados e atendidos em suas necessidades básicas,

(Foto: ABr)
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A grave crise sanitária mundial escancarou ao mundo o lugar que o idoso ocupa na sociedade brasileira.
Diante de um cenário atual que traz condições de vida e existência até então inimagináveis para boa parte de nós, não podemos nos furtar a debater sobre os setores da sociedade mais vulneráveis e que têm sentido de maneira muito mais violenta as restrições impostas por este contexto de pandemia. 

As desigualdades sociais, as opressões fundantes do Estado brasileiro e as violações constantemente deflagradas contra o povo têm repercutido de maneira peculiar sobre os idosos. 

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No Brasil ao contrário de muitos outros países e sociedades a velhice nunca foi sinônimo de sabedoria, respeito e dignidade.
O fenômeno envelhecer é natural e inerente a toda espécie e tem sido preocupação da chamada civilização contemporânea mundial. Em muitas partes do mundo, o ancião ocupa uma posição digna e é sinônimo de forte aspiração e cuidados.

Pesquisas realizadas por departamentos de Antropologia das Universidades Federais do país nos dizem por exemplo que a maioria dos povos indígenas têm na relação com os idosos uma tendência de muita valorização da sabedoria dos mais velhos, considerados os depositários da memória dos povos. Nessas sociedades os velhos são vistos como uma marca do passado no presente, como uma dobradiça do tempo. São valorizados e ocupam um espaço privilegiado na comunidade e na família. A pessoa mais velha tem um papel importantíssimo no trabalho de asseguramento e garantia de transmissão da tradição o que justifica os cuidados e preocupação com a saúde dos mesmos.
No Japão e na China, a cultura dessas sociedades tem como tradição cuidar bem, glorificar e reverenciar seus idosos, resultado de uma educação milenar de dignidade e respeito. Consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes. Nos hospitais as vagas aos idosos são prioridade. 

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Na sociedade brasileira, até perguntar a idade passou a ser sinônimo de constrangimento, como se muitos anos de vida fosse motivo de vergonha ou algo a esconder. Diz-se até que é "proibido" perguntar a idade de uma mulher. As cores das roupas, cabelos e tatuagens também são sinônimos de distinção quando se trata de idade, à medida que os indivíduos envelhecem as cores destinadas são as mais claras, pálidas, sóbrias, tristes e aos mais jovens é destinada as cores alegres as tatuagens e cabelos coloridos.

Como podemos mudar esse quadro no Brasil se a discriminação começa por seus governantes?
O país vem assistindo estarrecidamente um ataque após o outro contra os idosos. Tivemos a Reforma da Previdência e agora na aprovação da renda básica para idosos pobres aprovada pelo Senado o país assistiu à sanção presidencial com vetos de pontos como a ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que beneficiaria idosos e deficientes pobres, proporcionando um aumento do valor de um quarto para meio salário mínimo.
Assistimos também o Presidente Jair Bolsonaro em entrevista nacional dizer " Cada família tem que botar o vovô e vovó lá no canto e é isso. Evitar o contato com eles a menos de dois metros." E numa clara demonstração de descaso e menosprezo "Vão morrer alguns idosos e pessoas mais vulneráveis, pelo vírus? Sim, vão morrer. Se tiver um com deficiência, pegou no contrapé, eu só lamento". E a famosa frase " E daí?" diante de milhares de mortes e na defesa do fim da quarentena.
A ideia de que a economia não pode parar por causa da morte de algumas milhares de pessoas idosas tem sido compartilhada à exaustão por boa parte da população em especial os chamados bolsonaristas.

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No RS o governador Eduardo Leite, não diferente de Bolsonaro, aprofunda a miséria de educadoras e educadores aposentados no momento em que mais precisam ser cuidados e atendidos em suas necessidades básicas, ao introduzir o desconto previdenciário a uma categoria já em miséria salarial. Leite reduziu na prática o salário dos idosos que já contribuíram durante toda vida para terem direito a aposentadoria e agora justamente numa fase da vida em que aumentam enormemente suas despesas, especialmente com saúde sofrem ataques em seus direitos.
Infelizmente para muitos nesse país os políticos que prometem asfalto são heróis e os que garantem educação, não raro, são chamados de inúteis.

Valorizar a educação, valorizar a escola pública tem muita relevância quando se pensa a
educação como referencial no sentido de desmistificar as causas de criação de mitos e falsos parâmetros a cerca da velhice no Brasil. Investir nas crianças e jovens propiciando a aproximação e internalização de valores e atitudes de respeito, valorização dos idosos, favorecendo o conhecimento sobre os aspectos sociais, econômicos, étnicos, culturais, legais e biológicos do envelhecimento na sociedade brasileira para repensar a dignidade num contexto de preconceitos.

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Pra além do momento de pandemia, não podemos abrandar nossas análises no sentido de estar sempre apontando para a valorização do ser humano e da vida acima do lucro, contra o Capital e sua lógica de morte ao povo e proteção aos empresários,
contra o fascismo e seu projeto genocida. Uma luta que aponte a democracia como bem primordial de uma sociedade justa e igualitária, a dignidade e cuidados com a população idosa, a luta das mulheres, a luta contra o machismo e patriarcado, a luta contra o racismo e contra a homofobia.
Que nossa fala possa contribuir para valorização e cuidados com nossos idosos na luta por uma sociedade livre de todo tipo opressão, exploração e desvalorização.

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