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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O poder, cadê o poder?

Jair Bolsonaro participa de videoconferência com lideranças religiosas em comemoração da Páscoa (Foto: Marcos Correa)
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Em 1997 eu publiquei um livro com esse título – O poder, cadê o poder? (O título era tão bom que eu fui obrigado a escrever um livro). Tratava-se da crítica de versões superficiais e vulgares do poder. Agora é outro momento para nos perguntarmos onde está o poder no Brasil.

Bolsonaro se apoia na visão simplista de que, ganhou as eleições, é o presidente e pode exercer o poder como bem entende. Nomeou e demitiu, ameaçou e insultou, buscou inimigos e perdeu apoios, como se nada disso afetasse seu poder, o poder de ser o presidente do Brasil.

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Valeu-se de que foi a boia de salvação da direita para impedir o retorno do PT ao governo e se vale desse serviço prestado, como se não houvesse limite para seu poder. Foi encontrando obstáculos no Judiciário, no Parlamento, na mídia, na própria opinião pública, que foi se distanciando dele, a ponto de o general Villas Boas afirmar que “todos estão contra eles”, mencionando os panelaços como manifestação grave disso.

Conforme foi perdendo capacidade de ação, sendo questionado e limitado cada vez mais por ações no Judiciário e constrangido por gente do próprio governo e, em particular, dos militares, a quem ele lançou cada vez mais mão, ele foi perdendo o apoio do pessoal que ele mesmo tinha levado para o governo.

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O poder foi se esvaindo nas mãos de Bolsonaro, ele foi ficando reduzido às ameaças verbais, que foi deixando no ar, sem capacidade mais de levá-las à pratica. Começou a perguntar que poder ainda resta para ele. 

Um episódio como o do conflito entre o Bolsonaro e o Mandetta revelaria quem detém o poder no Brasil hoje. Apoiado na pesquisa publicada domingo na Folha, que revelava – segunda a mostra telefônica da pesquisa – que a maioria da população, ainda estando contra o governo, prefere que ele não renuncie, Bolsonaro retomou a ofensiva contra o Mandetta, deixando indícios de que o demitiria.

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Ficou no ar se ele teria o poder para substituir o ministro que ganhou a confiança da opinião pública, com exercício relativamente profissional das políticas de saúde contra a pandemia. Não apenas o destaque que o ministro foi ganhando incomodou o Bolsonaro, mas também o fato de se opor a posições dele. Entre elas a subestimação do vírus, a proposta de reabrir logo as empresas e a propaganda de um suposto medicamento milagroso de que ele faz propaganda. 

O ministro ganhou o debate na opinião pública, frente à crise de credibilidade do presidente. Diante disso, Bolsonaro foi fazendo ameaças cada vez mais diretas de que demitiria a Mandetta.

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Mas, diante da gravidade dos efeitos do vírus no pais, do apoio dos governadores e da mídia ao ministro, a possibilidade de substituí-lo por alguém que defendesse as posições do Bolsonaro, significaria a desarticulação das politicas e da equipe de saúde que as leva adiante, o fim do isolamento e a possibilidade real de que isso representasse uma disseminação ainda mais rápida do vírus.

Apesar disso, apelando para a necessidade de que os desempregados – 12 milhões – mais os precários – 38 milhões – produzidos pelo seu próprio governo, tivessem necessidade de voltar às ruas para obter seu ganha pão, Bolsonaro reiterou cada vez mais as ameaças, de substituição do ministro e, principalmente, do fim do isolamento social.

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Ao mesmo tempo que destina recursos exíguos para apoiar a população que costuma ganhar seu ganha pão diário nas ruas e demora uma eternidade para faze-los chegar aos destinatários, Bolsonaro conta com que as pessoas cada vez mais saias às ruas, onde podem obter recursos mínimos para sobreviver. Além de que a grande maioria dessas pessoas não tem condições mínimas, onde moram, de obedecer as regras básicas que bloqueiem a possibilidade de contaminação. Esta é possível, mas a fome é segura, diária, dói.

Nessas condições, Bolsonaro foi se reduzindo cada vez mais a esse discurso, a ameaças e a comportamentos de desafio às normas de proteção da população. Foi ficando cada vez mais um presidente sem poder. Limitado pelos militares dentro do seu governo pelo Judiciário e pelo Congresso, fora do governo, além do repudio da mídia e da opinião publica em geral, foi se dando um vazio de direção politica no país.

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Tudo isso quando, além da recessão econômica e do desemprego existentes antes da pandemia, chegou esta, com seus efeitos cada vez mais descontrolados sobre um sistema de saúde publica enfraquecido por quatro anos e politicas neoliberais. Quando mais do que nunca o pais precisa de governo, precisa de um presidente que cuide o povo, que assuma as responsabilidades de tomar, da forma mais rápida, as medias que permitam diminuir os sofrimentos e as ansiedades da massa a população.

Podemos dizer que o pais está ao deus dará, sem presidente, com o poder se esvaindo entre varias instancias, nenhuma delas capaz de corresponder ao que o Brasil precisa, em um momento grave como este. Há uma crise de representação politica e uma crise de poder na sociedade, que precisa ser resolvida rapidamente, com a remoção de quem ocupa, de forma indevida e incompetente, e a sua substituição por governantes legítimos e capazes de assumir a dura e urgente tarefa de reconstrução nacional do país.

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