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João Stacciarini

Geógrafo, Professor da Universidade Federal de Goiás (UFG / Cepae)

3 artigos

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O povo tem lado, somos 70%

24J: Ato Fora Bolsonaro em Porto Alegre (Foto: Oliven Rai / Mídia Ninja)
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Em 7 de Setembro (dia da Independência), durante ida ao supermercado, tive a infelicidade de presenciar a “motociata bolsonarista” e suas pautas bizarras, como faixas e gritos pedindo o fechamento do Congresso, do STF e a destituição de todos os políticos (vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores) das 5.570 cidades brasileiras a não ser, é claro, do salvador Messias Bolsonaro - único cidadão honesto e qualificado para governar nosso país.

Tudo bem que a conjuntura (carros e motos) permite reunir um número muito maior de pessoas que o esforço de uma passeata exigiria, mas confesso ter ficado intrigado com a adesão. Entre os motoristas - em sua maioria pilotando modelos nobres (se é que esse conceito ainda existe... afinal, um automóvel dito como popular, já custa cerca de 60 mil reais) - não parecia haver temores com o preço da gasolina a quase 7 reais!

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Pensava comigo: “ok, faz sentido... estamos em Goiânia, uma cidade que por questões histórico-culturais tem ampla base bolsonarista! Não é à toa que ele obteve 74% de votação aqui em 2018, frente aos 26% do outro candidato”. Por outro lado, questionava: “mas não foi neste mesmo estado que o presidente conseguiu brigar até mesmo com um de seus maiores apoiadores, o governador ‘amigo’ com quem era supostamente alinhado ideologicamente, como reforçado por ambos em palanque eleitoral?” Mas afinal será que bolsonaro tem mesmo amigos?!

Sem chegar a um consenso, e ainda apreensivo, segui às compras. Ao som das buzinas que ecoavam do lado de fora, percorro as prateleiras: carne de segunda - 40 reais o quilo, arroz - 30 reais o pacote, feijão e óleo de cozinha - 10 reais. Desisto de traçar uma lógica realista e acabo entregando-me à distopia: “o que está acontecendo comigo? Estou mesmo vivendo a realidade?”. Na tentativa de reduzir o sofrimento interno, penso só me restar voltar para casa e tentar dissipar um pouco dos meus pensamentos com uma boa leitura.

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Com o movimento reduzido de um feriado - potencializado ainda pela dicotomia que separa os que estavam na rua dos que tiveram medo de sair para nela se expressar - chego logo ao caixa. Quatro ou cinco atendentes aproveitavam o raro momento de tranquilidade para conversar. Cabisbaixo, soltei um “bom dia” e fui novamente engolido pelas reflexões: “será mesmo que teremos mais quatro anos de ameaças golpistas e delinquência presidencial - comportamento que tanto nos atrapalha e nos envergonha perante todo o mundo?”

Neste momento, uma das funcionárias me pergunta sobre o feriado. O clima fica instável de ambos os lados! Cauteloso, respondo que poderia estar melhor se não fosse a peregrinação bolsonarista. De forma singela, o ambiente mútuo de desconfiança dá lugar ao otimismo. Reunidas elas dizem: “graças a Deus!”

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Em meio a manifestações diversas, emerge o sentimento de identificação. Sentindo-se mais à vontade, uma delas coloca o seu ponto de vista: “Para eles é fácil! Não ganham salário-mínimo e não precisam se preocupar com o preço da comida, da energia, do ônibus [...]”. A conversa segue por poucos minutos até que recolho minhas duas sacolas e volto para casa esperançoso.

Não se iludam, o povo tem lado! Somos 70%, embora o medo, por vezes, não nos deixe expressar publicamente. Mais de dois terços da população não quer Bolsonaro, como indicam todas as pesquisas com credibilidade nacional e internacional. A conjuntura já não é a mesma de 2018! Carlos Bolsonaro, mesmo com financiamento e apoio do pai, do prefeito e do governador interino do Rio - todos seguidores da mesma linha ideológica - não conseguiu ter mais votos que o professor Tarcísio Motta para o cargo de vereador no ano passado. De lá para cá - em meio a mansões, rachadinhas, inflação, pandemia, medo, incerteza, miséria e desemprego - as coisas só pioraram e o apoio popular a Bolsonaro e a sua família diminuiu ainda mais.

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Fiquem firmes e não se deixem desencorajar... pode demorar algum tempo para que os acontecimentos recentes sejam superados e possamos enxergar alguma identificação com a bandeira nacional novamente, mas a tormenta bolsonarista logo irá passar!

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