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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O preso Daniel Silveira não é o que parece ser

"Daniel Silveira não é nada, nem mesmo dentro do bolsonarismo. Poupá-lo é prolongar mais do que um incômodo, mas uma afronta perigosa ao STF", escreve o jornalista Moisés Mendes sobre o deputado bolsonarista que está preso

Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) (Foto: Reprodução)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

O deputado preso, que pode ter estragado o blefe do golpe de Bolsonaro, não é o que a grande imprensa sugeriu que possa ser. Daniel Silveira vem sendo descrito como um cobrador de ônibus fraudador de atestados médicos e um policial militar folgado e indisciplinado.

Como parlamentar, sabe-se que é limitado, e Ancelmo Gois escreveu no Globo que muitos colegas de Congresso o consideram “um completo idiota”.

Mas Daniel Silveira é menos do que isso tudo, inclusive como imbecil. Se fosse um extremista e completo idiota com base popular expressiva, poderia até ser visto com certa deferência, como são tratados muitos assemelhados.

A idiotia não é raridade nem defeito tão depreciativo na política brasileira e muitas vezes está associada a sucessos eleitorais, ou muitos não teriam sido eleitos, e Bolsonaro sabe disso.

Mas Daniel Silveira não é um péssimo policial, com várias prisões por indisciplina, que virou deputado e se sustenta com um bom lastro da base social que segura a extrema direita.

Na eleição de 2018, a primeira em que concorreu e se elegeu, o PSL do Rio conquistou 12 cadeiras na Câmara dos Deputados. Ele conseguiu a última vaga do partido, com 31.789 votos.

O Rio elegeu 46 deputados, e o sujeito que ameaça o Supremo ficou em 41° lugar. Silveira pegou carona nas votações de dois puxadores de votos do partido, Hélio Lopes, que Bolsonaro chama de Helio Negrão, e Carlos Jordy. Juntos, eles conquistaram 550 mil votos para o PSL.

As primeiras notícias sugeriam que Silveira era poderoso e gritão porque poderia ter sido um dos fenômenos da extrema direita em 2018, quando muitos candidatos a deputado, em vários Estados, tiveram mais de 100 mil votos, a maioria sem histórico na política. Não é o caso do homem preso.

Os dados do TRE do Rio mostram que outros15 candidatos à Câmara dos Deputados tiveram mais votos do que ele e não se elegeram, porque as legendas não ajudaram.

Silveira não tem expressão eleitoral para apresentar as armas que decidiu empunhar contra o Supremo. Os verbos usados por Silveira são fortes demais para quem só se elegeu porque a legenda do PSL foi avassaladora em 2018.

Ele não é um fenômeno pessoal a ser temido pelo peso numérico dos que o elegeram. Apenas para comparar, Eduardo Bolsonaro teve tratamento brando, inclusive da imprensa, quando sugeriu em 2018 que um cabo e um soldado, sem um jipe, poderiam fechar o Supremo.

O tratamento foi outro não só porque o ameaçador era filho de Bolsonaro. Foi também porque naquele ano Eduardo obteve 1.843.735 votos.

Eduardo elegeu-se deputado federal porque também pega carona no pai, mas carregou dezenas de candidatos nas costas. Daniel Silveira foi carregado.

A Câmara, o governo e o STF se mobilizam para decidir o que fazer com um sujeito sem peso político, mesmo que digam que representa facções à direita da extrema direita cada vez mais presentes na política. Mas qual o peso real dessas facções?

O Congresso sempre poupou Aécio Neves e o Supremo sempre poupou José Serra porque era preciso preservá-los pelo poder dentro e fora do parlamento.

Outros sem expressão, ameaçados por processo no Supremo, também foram protegidos no Congresso pelo espírito de corpo e pelo sempre presente clichê com a advertência do ‘eu posso ser você amanhã’.

A Câmara sacrificou Eduardo Cunha, um poderoso abandonado pelos que o patrocinaram para que movimentasse a engrenagem do golpe, porque era preciso jogar o cadáver ao mar.

Mas Daniel Silveira não é nada, nem mesmo dentro do bolsonarismo. Poupá-lo é prolongar mais do que um incômodo, mas uma afronta perigosa ao STF.

Por que proteger um cara inexpressivo que se mete a desafiar a Justiça como se fosse colega de quatro estrelas de Eduardo Villas Bôas?

Se pretende cair atirando, Daniel Silveira já pode escolher as armas e chamar os parceiros de artilharia, se é que ainda tem parceiros.

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