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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O que aprendemos em 2020

"Saímos de 2020 com a questão pendente de quem tem que assumir os custos da reconstrução do Estado e da economia. A direita retoma seus tradicionais ajustes fiscais, que já fracassaram. O consenso, no mundo e na própria América Latina é, ao contrário do imposto às grandes fortunas. A Argentina e a Bolivia já aprovaram leis nessa direção", escreve Emir Sader

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)
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Politicamente,  houve muitas experiências significativas. Em primeiro lugar, as eleições nos Estados Unidos mostraram como se pode derrotar a alguém como Trump.  Fazendo das eleições um referendo, de todos os que rejeitam o Trump, o derrotaram. Fizeram dele um dos poucos presidentes que não se reelegeu. Deu um recado para o Bolsonaro, mas para todos os que se opõem a ele.

Foi a primeira e, talvez, mais experiência política de 2020. Mudou a política norte-americana e, com ela, a politica internacional, com reflexos diretos no Brasil. Bolsonaro já acusou o golpe, ficou meio grogue, oscila entre retomar seu discurso negacionista e buscar relações mais amplas.
 

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Outra eleição importante foi a da Bolívia. Depois da eleição na Argentina, ainda no fim de 2018, quando a vitória de Alberto Fernandez reverteu a ofensiva da direita, que tinha eleito a Mauricio Macri, algo similar aconteceu na Bolívia. Depois do golpe que derrubou o governo de Evo Morales, o país experimentou, por pouco tempo, a retomada do modelo neoliberal e, nas primeiras eleições, que só demoraram a acontecer, pela pandemia, recolocou no governo o candidato do MAS, lançado pelo próprio Evo Morales.


 Os dois casos, o da Argentina e o da Bolívia, é que, em condições minimamente democráticas, os governos neoliberais são derrotados, e os antineoliberais retornam. O próximo capítulo se dará já em 2021, em 7 de fevereiro, no Equador, quando o candidato lançado pelas forças correistas (do ex-presidente Rafael Correa) é favorito para vencer.
 A Argentina, a Bolívia, o México, a Venezuela, apontam para uma terceira década do século XXI, de retomada dos governos antineoliberais. Aguardando o desfecho da crise brasileira, para completar esse quadro.
 

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Neste ano também aprendemos como a defesa da vida, a luta pelo direito à saúde pública, é uma luta essencial, tão importante quanto os outros direitos essenciais das pessoas. Como se trata de se proteger e proteger aos outros, quando tomamos as medidas necessárias. Aprendemos como a saúde é condição do resto, aprendemos a valorizar a saúde.

 Mas, sobretudo, confirmamos que, na hora das maiores dificuldades que acode para proteger as pessoas, é o Estado, não o mercado. São os programas públicos de saúde, é o SUS, e não os programas privados de saúde. O SUS, o programa de saúde mais democrático do mundo, atende a todos, a qualquer hora, nas condições que consegue ter. 

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São os centros públicos de pesquisa que desenvolvem as investigações que necessitamos para chegar à vacina. É a Fiocruz, o Instituto Butantan, que assume as responsabilidades de buscar as vacinas que podem proteger as vidas de todos.
 

O neoliberalismo pretende nos impor a opção entre estatal ou privada. Desqualifica o Estado, para que nos jogar no privado, que para eles é o mercado. Mas a opção não é esta. A opção central no neoliberalismo se dá entre esfera pública/esfera mercantil.
 

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O neoliberalismo pretende mercantilizar tudo, transformar tudo em mercadoria, às expensas dos direitos. A esfera mercantil tem no consumidor seu sujeito. Ela só inclui quem tem poder de compra.

 A esfera alternativa à mercantil não é a esfera estatal. Esta não tem  uma determinação específica, pode ser dominada pelos interesses mercantis ou públicos. A esfera alternativa é a esfera pública, em que o sujeito é o cidadão, entendido como sujeito de direitos. Esta foi a esfera que se fortaleceu em 2020, mediante a ação do Estado, do SUS, dos centros públicos de pesquisa.

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Saímos de 2020 com a questão pendente de quem tem que assumir os custos da reconstrução do Estado e da economia. A direita retoma seus tradicionais ajustes fiscais, que já fracassaram. O consenso, no mundo e na própria América Latina é, ao contrário do imposto às grandes fortunas. A Argentina e a Bolivia já aprovaram leis nessa direção. 

Temos consensos suficientes para concentrar numa lei de imposto às grandes fortunas, para avançar numa reforma tributária. Esta discussão dominará grande parte de 2021 e definirá  os rumos do Brasil nos próximos anos.

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