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Simão Pedro

Professor e mestre em Sociologia Política, ex-deputado estadual do PT e ex-secretário de Serviços da gestão Fernando Haddad

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O que as revoltas do Equador e Chile têm a ver com nós, brasileiros?

Quais sãos as causas dessas manifestações? Será que isso vai ocorrer no Brasil também? São questões que alguns amigos e colegas me fizeram neste fim de semana e tento analisar aqui

Protesto no chile (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)
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Neste mês de outubro, a América Latina tem sido chacoalhada por novas eleições, manifestações e protestos de grandes proporções. Revolta da população indígena no Equador; revoltas populares na Capital e cidades importantes do Chile; reeleição do esquerdista Evo Morales na vizinha Bolívia; manifestações e provável vitoria da esquerda na Argentina... Quais sãos as causas dessas manifestações? Será que isso vai ocorrer no Brasil também? São questões que alguns amigos e colegas me fizeram neste fim de semana e tento analisar aqui.

Ao que parece, no fundo de tudo está a reação contra a aplicação das políticas chamadas neoliberais - privatizações, cortes de serviços e direitos, desnacionalização da riquezas - que geraram ou estão gerando mais concentração de renda nas mãos de poucos, grande aumento da pobreza e miséria; muito desemprego e subemprego; e preços caros dos serviços públicos e combustíveis ou serviços fracos de educação e saúde. E as respostas que os governos de direita estão dando é menos diálogo e mais repressão para tentar passar suas políticas de austeridade e fazer o povo se aquietar.

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No Chile, a particularidade é o acúmulo de políticas do neoliberalismo mais selvagem que foi criado na ditadura de Pinochet, com a aposentadoria através de sistema de capitalização onde cada cidadão tem descontado um valor e aplicado como poupança e não pelo sistema de repartição onde os trabalhadores da ativa seguram o salário dos que se aposentam, como é no Brasil. Os governos de centro que sucederam à ditadura, como o de Bachelet, tentaram minimizar os estragos sociais, subsidiando parte, por exemplo, da aposentadoria. Mas mesmo isso ainda não foi suficiente para amenizar a crescente miserabilização da população pobre e trabalhadora do Chile. Os fundos de pensão privados representam o maior poder econômico no país e portanto também político, uma herança maldita que faz os governos de direita a usar o fogo aberto dos fuzis contra a população para que não não se mexa no butim criminoso. Tudo no Chile é privatizado. É o país com maior concentração de renda da América Latina. As manifestações já vinham acontecendo há anos, como a dos jovens exigindo ensino superior público ou subsidiado. E a miséria só aumentando. Só falta descambar para a guerra civil ou caos generalizado. A direita ameaça responder com a volta da ditadura do estilo Pinochet.

No Equador e na Argentina, suas populações sofrem com o aprofundamento rápido das políticas neoliberais após experiências bem sucedidas de governos de centro esquerda. Porém no Equador, Correa conseguiu fazer seu sucessor, o atual presidente, Moreno, que o traiu, - mais ou menos como Temer fez com Dilma - negociando ajuda externa com o FMI e comprometendo-se com cortes em políticas públicas e subsídios dos combustíveis. Só muita corrupção das pessoas que estão em altos cargos institucionais para explicar esses golpes, como estamos vendo aqui no Brasil a partir das revelações da Vaza Jato. Macri, na Argentina, governa para os seus pares, que são players do Sistema financeiro mundial, como o ministro Guedes faz aqui no Brasil. O povo é mero detalhe. Pobre só serve morto ou miserabilizado. Para ele, as políticas públicas devem ser tocadas pela iniciativa privada para gerar lucro ao setor privado e não como serviço público para garantir o mínimo de qualidade de vida ao povo. Esse sistema, ao contrário do que diz a narrativa neoliberal, é o maior sistema de corrupção institucionalizado do mundo. Nós os paulistanos sabemos o que isso significa no Metrô e a CPTM e sabesps da vida. Os argentinos estão mostrando sua revolta na eleição da centro-esquerda novamente, tudo indicando que Cristina Kirchner volta, desta vez como vice-presidente na chapa com Alberto Fernandes nas eleições do próximo dia 27.

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Os governos de direita do Equador e Chile, diante da pressão popular, tiveram que voltar atrás dos aumentos nos preços dos combustíveis e transportes metropolitanos, pivôs dos grandes protestos e mobilizações. Mas, também responderam com uma repressão militar brutal e desproporcional. A filósofa brasileira Marilena Chauí disse em entrevista recente que essa é o modelo da direita hoje: políticas neoliberais com mais autoritarismo.

Na Bolívia, os resultados eleitorais mostraram que a maioria da população, preventivamente, decidiu manter um governo de esquerda que lhes está garantindo crescimento econômico com inclusão e não se deixou levar pelas promessas mentirosas dos neoliberais. Evo Morales foi reeleito no último domingo, porém, isso não lhe tirará os milicianos da direita do seu calcanhar.

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Aqui no Brasil, depois do golpe jurídico-parlamentar de 2016 que sacou a presidente reeleita Dilma Roussef através de um impeachment baseado em denúncia de crime não existente, e onde foram instalados um governo de direita seguido do atua de extrema-direita, que venceu depois de Lula ter sido preso e impedido por processos fraudulentos, já vemos o fosso entre ricos e pobres se alargar. E os programas sociais estruturantes como o Minha Casa, Minha Vida que está se acabando, o Bolsa Familia que está encolhendo (13% de exclusões só no governo Bolsonaro), a reforma agrária que vem perdendo espaço de vez, os direitos trabalhistas que já foram para o ralo aumentando a precarização dos empregos e não gerando os empregos formais prometidos, a Previdência Social que está sendo modificada e dificultará o acesso dos pobres ao sistema. Isso tudo só aumenta as perspectivas de termos um futuro muito pior para a maioria da população.

Será que essas revoltas, que fizeram os governos do Chile e Equador recuarem e a da Bolívia e Argentina manterem e trabalharem para a esquerda ficar em seus governos servirão de exemplo para o povo brasileiro? Será que vamos aguentar eternamente passíveis as desestruturações dos direitos sociais? Porque aqui não há reação ao desmonte dos direitos e para a radical privatização das estatais e entrega aos estrangeiros dos nossos recursos naturais? Como está reagindo à esquerda brasileira? Qual o nosso projeto?

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A tal passividade do povo brasileiro é um mito.

A reação do nosso povo é de uma frequência desorganizada, que só alimenta o estado repressor. Quando a reação ou resistência se faz organizada os resultados positivos aparecem e taí a nossa história a mostrar como foram os movimentos contra a carestia nos anos 70, as greves do ABC e as Diretas Já, entre outros. Mas, organizar o povo leva das lideranças tempo, vontade, decisão de sair da zona de conforto... Derrotar a manipulação de informações dos grandes meios de comunicação, as narrativas da indústria de fakenews construídas pela extrema-direita e seus empresários apoiadores, não é tarefa fácil. Organizar e politizar o povo é processo trabalhoso que exige intenso trabalho militante e até sacrifícios. Tem algumas lideranças que pararam no tempo e ficaram presas em 2003.

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Se nós, as lideranças de esquerda, ficarmos só fazendo selfie, correndo atrás de palestras de ilustres, discutindo candidaturas eleitorais, presas na defesa de pequenos interesses corporativos, se nossos parlamentares e sindicalistas ficarem se segurando nas estruturas que lhes garante algum poder e pequenas benesses, enquanto as relações e direitos trabalhistas, a economia e a aposentadoria do povo está indo pro buraco, permaneceremos nas mãos de governos de direita e seus autoritarismos, sejam eles Bolsonaro, Mourão, Huck ou Dória.

Que as revoltas dos povos da América Latina neste mês de outubro, sejam elas expressas nas ruas ou nas urnas, nos sirvam de alerta e lição: que País queremos? Que projeto de Nação vamos construir? Sem dúvida não é o de receituário neoliberal!

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