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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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O que é essa nova direita?

A nova direta, ou ultra-direta tem como fonte e inspiração o fascismo e que fica bem a vontade ao lado do autoritarismo, do nacionalismo, do conservadorismo, do populismo, da xenofobia, da islamofobia, do desprezo pelo pluralismo, por isso me serve

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Em 2014 perguntei: “A direita está de volta?” [1].  A motivação da pergunta foi o desempenho medíocre dos partidos de centro-esquerda no estado de São Paulo no primeiro turno das eleições daquele ano; a votação expressiva de Aécio Neves no estado, quase 11 milhões de votos, contra pouco mais de 5 milhões de votos de Dilma; a diminuição significativa da bancada de centro-esquerda Câmara dos Deputados; a perda de uma cadeira no Senado; perda de cadeiras na Assembleia Legislativa e o desempenho sofrível de seu candidato ao governo. O resultado significava que a classe média, que sempre apoiou o Estado de bem-estar social, não a via o centro-esquerda como representante? Teria sido a classe média sido cooptada pelos setores mais conservadores? Afinal, foi assim no tempo de Getulio, JK e Jango, o que manteve o país em crise institucional por muito tempo e criou as condições objetivas para o golpe de 1964.

Fato é que uma nova onde de direita está ai, e ela tem em Bolsonaro e Moro seus principais representantes. Não é só no Brasil que emerge uma nova direita, ela ganha espaço na Europa, nos EUA e na América Latina; uma direita extremada que se incorpora a fenômenos como o autoritarismo, o nacionalismo, o conservadorismo, o populismo, a xenofobia, a islamofobia, o desprezo pelo pluralismo etc. 

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A compreensão dessa nova direta exige que revisitemos o fascismo clássico, apesar de poderem ser fenômenos [a nova direita] ainda transitórios na maioria dos casos, em transformação, que ainda não cristalizaram no que definitivamente chegarão a ser, segundo Joaquín Estefanía. Será que no Brasil essa ultra-direita passará a representar as grandes empresas e grupos, as elites industriais e financeiras, como ocorreu na Alemanha a partir de 1930? Ou será que ela já os representa? 

Bem, historicamente em dadas circunstâncias a direita acaba se constituindo numa resposta extrema à ausência de expectativas. No Brasil o sentimento de desalento foi, a meu juízo, grandemente construído pela lógica da Lava-Jato que: politizou o judiciário, criminalizou a política e políticos seletivamente, tornou o processo judicial num espetáculo, criando espaço para a relativização dos direitos fundamentais. 

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Mas como compreender isso tudo? A obra de Hannah Arendt é fundamental para compreensão dessa nova onda. Em sua Origens do totalitarismo, Arendt apresenta importantes argumentos para uma leitura substantiva da atualidade. Em cada uma das três partes da obra, a autora destaca fenômenos que representa a experiência totalitária do século XX: antissemitismo, imperialismo e totalitarismo, como descreve com precisão Luiz Felipe Roque, de cuja resenha me socorro para apresentar essa reflexão.

Na primeira parte, Arendt elabora o panorama histórico que ronda a situação dos judeus pré-Holocausto. 

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Na segunda parte da obra, é introduzida à lógica  expansionista europeia sobre os continentes africano e americano, à mobilização nacionalista resultante de um imperialismo, do próprio continente europeu, e ao surgimento e à marginalização das minorias e dos apátridas, sem a tutela de um Estado nação ao qual estivesse vinculado, que tinham seus direitos humanos absolutamente ignorados. Tal exclusão e marginalização foi indispensável ao posterior expansionismo e ao esboço nazista do domínio total

Na terceira parte da obra, intitulada “Totalitarismo”, a autora tece sua narrativa histórica do nazismo alemão e do bolchevismo soviético, extraindo as características essenciais do movimento totalitário, fenômeno sui generis dentre as formas de governo então reconhecidas pela teoria política e, portanto, distinto das ditaduras tradicionais. Penso que o imperialismoé uma forma de totalitarismo, mas a autora não tratou dessa forma.

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Creio que é possivel compreender a ascensão, nacional e internacional, da direita ultraconservadora na segunda metade desta década, tendo figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro como expoentes, a partir das categorias trazidas à reflexão por Hannah Arendt.

A nova ultra-direita resulta de uma profusão de discursos, fortemente ideológicos, que contradizem fatos, evidências e argumentos científicos e que procuram explicar determinados problemas sociais e destruir soluções que não se alinhem à direita, ou propor soluções a ela alinhadas , ou procuram simplesmente instaurar certo terror. São exemplos desses discursos simples a suposição, sem qualquer prova ou indício, de que queimadas na Amazônia brasileira ocorridas resultaram da ação criminosa de  “ongueiros”, indios ou caboclos, ou de que há uma “doutrinação” nas escolas infantis que “estimula o homossexualismo”.  Ou os discursos anti-imigração que vinculam este fenômeno aos males socioeconômicos de um país, como o de que a construção de um muro entre o México e os Estados Unidos “pararia a entrada de criminosos e drogas perigosos” nos EUA.

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Esse discurso, proximo às “teorias da conspiração”, falseiam a realidade, para eles  pouco importam evidências, provas ou dados estatísticos, sua narrativa simploria, “explica” problemas complexos de forma rasa, narrativa difundida reiteradamente que se tornar verdade (pós-verdade?).

Noutras palavras, a nova direta, ou ultra-direta tem como fonte e inspiração o fascismo e que fica bem a vontade ao lado do autoritarismo, do nacionalismo, do conservadorismo, do populismo, da xenofobia, da islamofobia, do desprezo pelo pluralismo, por isso me serve.

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Ficam essas reflexões, as quais submeto às necessárias criticas.

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