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Daniel Quoist

Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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O que faltou na carta de Temer a Dilma

Neste momento, ocupando sete ministérios, boa parte deles responsáveis pelos maiores orçamentos da União: do que teria mesmo o PMDB que se queixar?

O vice-presidente da Rep�blica e articulador pol�tico do governo, Michel Temer, faz palestra no campus da Asa Norte do Centro Universit�rio de Bras�lia UniCeub (Jos� Cruz/Ag�ncia Brasil) (Foto: Daniel Quoist)
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A carta de Michel Temer para Dilma Rousseff parece texto de menino grande, de adolescente sensível e inseguro, daqueles que se sentem escanteados pela turma, deixados ao largo, ao Deus-dará pelos colegas e amigos. Falta-lhe maturidade e também elevadas doses de veracidade e sensatez.

Temer carrega pesado nas tintas da imaturidade, com argumentos beirando a infantilidade. O caso da visita do vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden é sintomático do que estou a me referir. Primeiro porque Biden não veio ao Brasil na condição de vice-presidente, e sim, como representante do próprio presidente de seu país, Barack Obama. Segundo porque a ocasião exigia um 'tete-a-tete" de igual para igual, afinal, não foi Michel Temer o alvo da desastrada bisbilhotice telefônica do governo dos Estados Unidos, e sim, a própria presidente Dilma Rousseff. Em tal contexto seria humilhante que Dilma passasse um pito em Obama via Biden tendo como testemunha Michel Temer.

Temer elenca frágeis episódios para ilustrar a desconfiança da presidente para com seu vice-presidente, mas matreiramente se exime de relatar as desfeitas que ele tem feito a ela, de forma rasteira inicialmente e, logo depois publicizada com grande alarde pela mídia tradicional.

Será que Temer não lembra de quando ele "declarou que o país exigia um líder que o unificasse, que garantisse a paz social, que unisse a Nação"? Neste caso, cara-pálida, não era este exatamente o mandato que as urnas conferiram a Dilma Rousseff, o de unificar e zelar pelo bem-estar e a paz do Brasil? Quem deixaria de entender que não era o próprio vice-presidente que se achava à altura de tão portentosa missão?

Porque Temer não fez alusão às suas diatribes verborrágicas quando espalhou aos quatro ventos que a presidente, em minguante de popularidade, "com baixa popularidade não conseguiria concluir seu mandato"? Isto seria algo a se esperar partindo de um vice-presidente da República em relação ao seu chefe imediato?

Porque Temer não fez referência alguma à trabalheira que o PMDB, o partido por ele presidido, deu à governabilidade do país, quando pelo maquiavelismo do presidente pemedebista da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha foram aprovadas diversas pautas-bombas que aumentavam irresponsavelmente os gastos públicos, quebravam economicamente o país com ajustes de até 74% aos servidores do Poder Judiciário e concedia benesses inconcebíveis a todos os aposentados do país a serem custeados por Previdência Social bem ruim das pernas? Quer dizer, o trabalho de Temer foi, em grande medida, para neutralizar os males causados por seu próprio partido, o PMDB no Congresso, e frutos podres de ações claramente orquestradas por um de seus quadros mais dados a fanfarronices e obtusidade política, o deputado Eduardo Cunha.

Porque Temer não mencionou que seus principais indicados, citados nominalmente em sua carta-desabafo, Moreira Franco e Eliseu Padilha, foram os que mais sabotaram os esforços do governo para aprovar as medidas econômicas e para dar racionalidade à sanha golpista do PSDB/DEM/PPS?

Afinal, como pode o partido do vice-presidente tendo como seu principal porta-voz o próprio Michel Temer, lançar um "novo programa de governo", com propostas claramente de cunho neoliberal, na mais completa contramão do ideário político, de teor progressista, de esquerda e de inclusão social esposado pela presidente da República e pelas forças políticas aue a elegeram?

E, ainda por cima, chamar tal retrocesso ao passado de "Uma ponte para o futuro", quebrando o ciclo virtuoso de tantas bem sucedidas políticas de inclusão social festejadas em todas as partes do mundo e optando por receituários com cheiro de FMI e de quebradeiras do Lehmann Brothers, a se espraiar pela Europa e pelis Estados Unidos.

Como que assolado por repentina amnésia Michel Temer esqueceu-se de dizer o quão aquinhoado tem sido o PMDB com ministérios, presidências, diretorias de estatais, além de acordos para que o PT abrisse mão de candidatos viáveis em favor de candidatos do PMDB a governos estaduais e ao Senado Federal, assegurando também ao seu partido, o PMDB, por dois mandatos consecutivos, o segundo cargo na linha sucessória do Poder Executivo do país, qual seja, o cargo para o qual ele foi eleito e reeleito como vice-presidente da República.

E, neste momento, ocupando sete ministérios, boa parte deles responsáveis pelos maiores orçamentos da União: do que teria mesmo o PMDB que se queixar?

Agora é que o vice-presidente da República deveria mostrar gratidão à presidente Dilma Rousseff pelo imenso espaço concedido ao seu partido ao longo dos governos do PT, iniciados ainda em janeiro de 2003, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da sIlva e mantido no primeiro e no segundo mandatos da atual presidente.

É surreal, além de patético, que à luz do dia se vejam múltiplos sinais de conspiração partindo do vice para derrubar a presidente em um processo eivado de suspeição e contra uma presidente que tem aoenas um único crime - o de ter sido eleita com três milhões de votos acima do total de votos alcançado por seu inconformado (e insano) adversário derrotado, o senador Aécio Neves.

Sim, este é o único crime, porque não pesam contra Dilma qualquer indício, qualquer suspeita de que tenha cometido qualquer ilicitude elencada na Constituição Federal do Brasil como suficiente para que fosse alvo da perda de seu mandato.

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