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Ana Maria Baldo

Professora da Rede Pública, Mestranda em Educação pela UERGS

24 artigos

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O que fizeram do 7 de setembro nesse ano de 2021

Apesar de aparentarem ser um grande número, esses que ali estavam, patrióticos e fervorosos, só representam 12% de nossa população. Deixando de lado o fato de que me sinto envergonhada pela existência destes me sinto animada e esperançosa por perceber que, além de serem em menor número, também são menos inteligentes que os que do lado de cá estão.

(Foto: Felipe Campos Melo)
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Há não muito tempo, durante a minha infância, lembro das “comemorações” que se faziam na data de 7 de Setembro, com os desfiles obrigatórios para os estudantes. Ensaios durante a semana de véspera, tudo precisava estar conforme o figurino. Nenhum saudosismo de minha parte, que sempre achei a obrigatoriedade e as comemorações de datas cívicas uma falácia. Mas, lembro-me bem que no dia de 7 de Setembro, feriado nacional, “comemorávamos” a Independência do Brasil do Reino de Portugal, proclamada aos gritos de “Independência ou Morte” às margens do Ipiranga por Dom Pedro I, em 1822. Trata-se obviamente de um acontecimento histórico com suas controvérsias e a versão mais comumente aceita pelos historiadores é a que trata da “malandragem” de Dom Pedro I, herdeiro do trono Português, que a havia proclamado em oposição ou para abafar a articulação popular que vinha sendo expressiva há anos e que pedia, dentre outras coisas, o regime republicano e o fim da escravidão; mas isso já é um outro debate. O que me prende a atenção aqui, para essa escrita, é o que fizeram dessa data nesse ano de 2021. 

Há um grande debate desde o ano de 2016 acerca dos símbolos nacionais terem se tornado, primeiramente, um símbolo dos golpistas; e posteriormente, a partir de 2018, em símbolos dos defensores do Governo Bolsonaro, do fascismo, do racismo, das ditaduras e dos piores “valores conservadores” que uma sociedade pode defender. Voltando aos tempos idos de minha infância lembro-me que esses símbolos eram da nação, de todo e qualquer brasileiro e brasileira que tivesse alguma forma de apreço ou afeto por sua pátria (não no sentido patriótico do termo), ou apenas de quem, por gostar da representatividade da Seleção Brasileira de Futebol, usava a camiseta desta no dia a dia ou em épocas de Copas do Mundo ou Copa América. Cantar o Hino Nacional em eventos era só mais um ato comum que a cerimonia exigia; hoje em dia, para uma maioria de pessoas com discernimento, esse som causa ojeriza, ou como se diria no popular “ranço”.  

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Hoje, se converso com amigos e amigas a aversão por essa simbologia verde e amarela é sempre tema das conversas, e o maior medo apresentado é sempre o de usar um dos símbolos nacionais e acabar sendo confundido com defensor de genocídio e de regimes totalitários. Quem, sendo hoje uma pessoa com consciência social e política, não se pegou pensando nisso já?! Obviamente, nessas conversas também debatemos o fato de que esses símbolos, apesar de terem sido tomados da população em geral e monopolizados por um grupo específico, seguem sendo os símbolos de todos e todas que nasceram ou vivem nessa nação. Isso, notadamente, leva a outro debate: o debate das fronteiras e da construção dos Estados Nacionais; a discussão dos muros e linhas imaginárias invisíveis que separam nações e povos e que limitam o trânsito, comércio e vivência em outros países. Como bons marxistas que somos, sabemos que essas riscas desenhadas em mapas deveriam ser extintas e que o proletariado do mundo todo deveria estar unido e forte em prol da causa da classe trabalhadora. Mas isso também é um outro debate, que foge ao tema que me proponho discutir aqui, que é o que fizeram do 7 de setembro nesse ano de 2021. 

Não obstante, nesse ano, os que se apropriaram dos símbolos nacionais, apropriaram-se também do feriado nacional. Deram-lhe um cunho totalmente diferente do que até então costumávamos ver nessa data. De comemoração cívica pela Independência, tornaram essa data em uma data da vergonha. Sim, uma data da vergonha. Porque ao observar as frases expostas nos cartazes e as pautas de reivindicação dos que se reuniram em Brasília e em São Paulo, vestidos a rigor com seu uniforme verde e amarelo, foram mostras nítidas de falta de noção, falta de estudo e falta de leitura. Reunir em uma única frase: democracia, ditatura, STF, Presidente, e liberdade é notoriamente uma falta completa de conhecimento dos conceitos ali expostos. 

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 Uma frase que diz: “Presidente, pelo bem da democracia e da liberdade, destrua a ditadura do STF e do Congresso” é uma das mais gritantes formas de aberração e ignorância. Não vou me deter em explicar a quantidade infinita de erros que essa frase contém, do fato de que se fosse ditadura não haveria STF e o Congresso seria meramente figurativo ao fato de que sem STF e sem Congresso democraticamente eleito não há verdadeira democracia ou liberdade, ou ao fato de que, não sendo este país uma monarquia absolutista e, assim sendo, Bolsonaro não sendo um Rei com prerrogativas infinitas de poder, o Congresso e o STF – símbolo máximo da justiça brasileira – representam mais um dos marcos da democracia que é a divisão dos 3 poderes. Bueno, poderíamos seguir elencando mais uma dezena de frases sem sentido e sem lógica vistas nessas manifestações antidemocráticas com pauta conservadora e autoritária que pedia por democracia e liberdade. Essa manifestação foi tão sem noção na construção dos temas que defenderia, que a frase anterior, por mim escrita, parece até uma frase escrita por algum louco (poderia ter saído da cabeça de Carluxo em um de seus tweets), posto que não tem sentido nenhum racionalmente e logicamente falando. Isso sem contar a quantidade de cartazes e faixas escritas em inglês, uma língua por sinal super patriota dos brasileiros (contém ironia).  

Mas, à parte o mais do mesmo dessas frases sem noção e dos gritos sem sentido (já conhecidos por nós desde 2016 como típicos desse grupo) proferidos pelos “manifestantes” acima citados, o foco de toda essa vergonha foi pura e simplesmente a defesa incondicional e sem limites de uma figura pública a que eles intitulam “mito”, “capitão” ou até mesmo “messias”. Esse mesmo que, no 7 de Setembro desse ano de 2021, proferiu um discurso – também tão sem sentido quanto as pautas reivindicatórias dos manifestantes – que conseguiu piorar ainda mais a situação de sua “pátria amada” no mercado internacional. Nos brindando com uma fala (que além de antidemocrática se mostrou literalmente ilegal ao defender que decisões tomadas por um Ministro do Supremo não fossem cumpridas) “sem eira nem beira”, carregada de preconceitos e de falta de conhecimento, conseguiu desvalorizar o real e fazer com que o dólar subisse e a bolsa de valores caísse. Uma salva (de tiros, bem ao modelo armamentista defendido por eles) ao “grande líder, salvador da pátria” que como bom pai, deixa o bom exemplo a seus filhos, que, já é sabido por todos e todas, também costumam proferir frases aleatórias carregadas de ignorância que acabam por acarretar sérios problemas ao povo brasileiro.  

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Sim, nada disso nos surpreende vindo de quem vem. Inacreditavelmente nos acostumamos a ter no maior cargo desta nação um ignóbil sem nenhum freio e sem nenhum tino político ou de caráter. As manifestações desse 7 de Setembro de 2021 apenas nos mostraram, mais uma vez, como o nível de ignorância, falta de noção, e eu diria até mesmo de loucura, das pessoas não tem limites. Despojados de qualquer medo de passar vergonha ou de qualquer percepção sobre a realidade brasileira, lotaram as ruas em nome de, na verdade nem sei bem em nome de que, e acho que talvez nem eles mesmos saibam, mas tomaram as ruas para nos fazer passar vergonha a nível internacional. O mundo todo agora escreve sobre o povo brasileiro e quando leio me sinto afoita a arrumar uma mala e partir para uma república socialista que comumente eles nos mandar ir, aquela “ditadura” que eles criticam lá, mas defendem que exista aqui. Enfim, acho que vou parando por aqui, porque essa quantidade toda de inconsistências e incoerências verde amarelas me fez emaranhar os neurônios, é tanta mistura de conceitos que não conversam que me sinto até um pouco tonta. 

 E, para finalizar, essa minha escrita (quase desabafo), gostaria apenas de dizer que apesar de aparentarem ser um grande número, esses que ali estavam, patrióticos e fervorosos, só representam 12% de nossa população. Deixando de lado o fato de que me sinto envergonhada pela existência destes me sinto animada e esperançosa por perceber que, além de serem em menor número, também são menos inteligentes que os que do lado de cá estão. Sendo assim, sigamos sendo resistência e difundindo aos quatro ventos a nossa versão da história brasileira, aquela construída por trabalhadores e trabalhadoras, por homens e mulheres, crianças e jovens, adultos e idosos, que dia a dia verdadeiramente edificam essa nação! Deixemos de nos perguntar o que fizeram nesse 7 de Setembro de 2021 e foquemos no outro lado dessa moeda, o lado dos que ainda sabem os verdadeiros significados de democracia e liberdade. Os que ainda conseguem escrever frases com coerência, coesão e sentido!

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