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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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O que nos espera nos próximos seis meses?

"Bolsonaro tentará levar o Brasil ao limite da desordem e da destruição do tecido social. Os ataques devem se multiplicar", diz Fernando Horta

Forças Armadas, urnas eletrônicas e Jair Bolsonaro (Foto: ABr | Alan Santos/PR)
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Estamos possivelmente no momento mais difícil da história do Brasil desde o fim do período militar. Não apenas a fome e o desemprego tornaram-se parte da vida de muitos brasileiros com Bolsonaro, mas também temos que conviver com o dia a dia das instituições brasileiras demonstrando toda sua crise. O caso Dom e Bruno desnuda o ponto de chegada da prática política de Bolsonaro: deixamos de ser uma república. Hoje, somos divididos em cidadãos de primeira classe e cidadãos de segunda classe. Aos de primeira, a lei permite absolutamente tudo, desde manter práticas de corrupção sem qualquer constrangimento, até matar à luz do dia sem nenhuma consequência prática. Aos cidadãos de segunda classe do Brasil de Bolsonaro o Estado não assegura sequer a segurança de seus corpos e, embora se possa dizer que por anos parte da população das periferias das grandes cidades viveu desta forma, havia um lastro de civilidade na política e uma tentativa de coibir a violência e diminuir o desamparo. No Brasil comandado pelo capitão fascista, a política de Estado é o medo, a violência e um estado que abandona seus cidadãos e permite o crime.

Há no Brasil duas forças tensionando a sociedade. Por um lado, Bolsonaro e seus aliados tentam a todo custo estilhaçar o que restou das instituições e levar o país a um ponto de insuportável anomia e, por outro, a esquerda capitaneada pelo PT que resolveu que a melhor maneira de enfrentar esta situação era pelo fortalecimento das instituições. É como um cabo de guerra em que Bolsonaro busca o caos e a violência e Lula tentando fortalecer instituições através de acordos políticos amplos. Nos próximos meses veremos TODOS os sujeitos políticos do Brasil sendo obrigados a escolher um dos lados. Não há espaço para terceira via. Não há caminho do meio e ficar em cima do muro corresponde a alijar-se da política brasileira pelos próximos quatro anos. Ganhe quem ganhar.

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As agressões de Bolsonaro aos outros poderes cresceram rapidamente mesmo para o padrão do fascista. Bolsonaro hoje usa todas as oportunidades para ofender, deslegitimar e até mesmo acusar de crimes outras autoridades. E isso com a certeza da completa impunidade. Impunidade que lhe foi conferida em 2018 por Rosa Weber e Carmem Lúcia quando, mesmo sabendo das ilegalidades eleitorais praticadas por Bolsonaro, optaram por fechar os olhos e diplomar o candidato criminoso que já prometia violência e destruição. De lá para cá, uma série interminável de crimes de responsabilidade garantiram a Bolsonaro o apoio do Centrão, todos com os bolsos regiamente cheios de “emendas secretas”. O PGR cumpre papel de boneco de ventríloquo e repete a famosa alegoria dos três macacos: não vê, não escuta e não se manifesta sobre nada.

É importante reconhecermos, contudo, que este estado de coisas não é fruto apenas do autoritarismo de Bolsonaro e da leniência do PGR. Entre 2018 e 2020, o acordo tácito entre os fascistas e a elite liberal era que tudo valia para destruir a esquerda, baixar o valor da mão de obra e permitir a enorme concentração de renda que vimos. Bolsonaro cumpriu sua parte. Usou todo seu capital político para transformar o Brasil num estado autoritário em que as forças políticas contrárias aos interesses das elites se vissem sem qualquer condição de disputa política. Quem abandonou o acordo foram as elites liberais. No auge da pandemia, quando Bolsonaro concorria para matar mais de 660 mil brasileiros a toxicidade do governo foi demais até para quem bebe champanha francesa e come caviar. Ali Bolsonaro passou a ficar sozinho e essa solidão se transformou em mágoa contra as instituições que passaram a lhe exigir um mínimo de compostura e submissão à lei.

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Nos próximos seis meses, Bolsonaro tentará levar o Brasil ao limite da desordem e da destruição do tecido social. Tentará buscar um cenário de guerra civil contando com figuras abjetas como o dócil e subserviente ministro da defesa. Os ataques devem se multiplicar na mesma proporção da deterioração do cenário econômico brasileiro. Quanto mais fome e mais desespero, maiores as chances de Bolsonaro conseguir o que quer. O caminho para isto foi bastante facilitado pelos erros de análise e julgamento de Luís Roberto Barroso. O TSE se transforma, em tempo de eleição, na última trincheira da democracia e os atos de Barroso, ainda que pensados para serem espaços de diminuição da tensão, resultaram na percepção da subserviência do mundo civil à vontade dos militares. Fachin dever viver uma avalanche de ataques, ameaças e tentativas de deslegitimação e é discutível se terá forças para suportar. A aposta de Bolsonaro é exatamente de que não.

O cenário eleitoral estabilizado em favor de Lula e o controle das ilegalidades – antes permitidas – que o STF e o TSE tentam fazer, leva Jair a uma condição de descontrole. A verdade é que Bolsonaro mantém a democracia brasileira refém e bem ao velho estilo militar, vai torturá-la por longos seis meses até que ela “confesse”. Tenho dúvidas se temos instituições fortes o suficiente para resistir a tudo isso. Se as instituições não forem fortes, o povo terá que ser. A vida dos nossos filhos e netos depende do desenlace político dos próximos meses. A ninguém é permitido se omitir, de ninguém será perdoada a covardia.

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