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Lúcia Helena Issa

Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.

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O rosto da morte e o ataque de Bolsonaro às leis ambientais

Após classificar como "demasiado tarde" os bloqueios contra a mineradora Vale, a colunista Lúcia Helena Issa vê o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG) como "uma tragédia anunciada , que destrói centenas de vidas e que dilacera meu coração, como brasileira, mãe e jornalista"; "A Vale, depois de sua privatização em 1997 , tem se transformado em uma máquina de moer gente. Seu compromisso hoje é com a morte", afirma; "Quantas vidas humanas terão que ser destruídas ainda para que comecemos a lutar pela reestatização da Vale do Rio Doce?", questiona

O rosto da morte e o ataque de Bolsonaro às leis ambientais (Foto: Esq.: Ueslei Marcelino - Reuters)
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Há pouco menos de dois messes, eu estava nos estúdios do programa Sem Censura, aqui no Rio, dando uma entrevista sobre meu trabalho na Síria, quando descobri que outra jornalista, cujo trabalho sempre me emocionou, a Cristina Serra (que trabalhou anos como correspondente da TV Globo em Nova York), seria entrevistada também naquela tarde e que estaríamos juntas no programa Sem Censura.

Cristina estava lançando naquele momento seu livro sobre a tragédia de Mariana. Mergulhei naquela tarde e depois, ao ler o livro, na imensa dor daqueles humanos como nós, mergulhei também na esperança trazida por histórias como a de Paula, a mulher que salvou centenas de vidas em Mariana, nos sonhos destruídos e na esperança daquelas pessoas. Fui descobrindo que, assim como eu testemunhei CRIMES contra a humanidade, cometidos por Israel, EUA e outros países no Oriente Médio, Cristina também testemunhou um CRIME e não um desastre ambiental.

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Enquanto eu mergulhava na devastação de Mariana, na história de cada um dos 19 humanos mortos, e na impunidade que acompanha ainda aquele crime, um sentimento de que essa impunidade e a ganância das mineradoras (grandes patrocinadoras também da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro) poderiam destruir ainda centenas de vidas no Brasil ia tomando forma dentro de mim.

Tudo nos levava a temer por centenas de outras vidas .

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Por quê?

1) Os políticos mineiros integrantes da comissão encarregada de INVESTIGAR imparcialmente o caso e acompanhar as providências adotadas em Mariana tiveram a campanha eleitoral paga por doações de empresas do grupo Vale. As doações às campanhas de membros titulares dessas comissões somam R$ 2,6 milhões.

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2) A Samarco (nome fantasia de uma única empresa , vendida por FHC por muito menos do que valia na época, e privatizada em 1997 , a Vale do Rio Doce) utiliza- se, desde 2015, de todas as acrobacias jurídicas possíveis para descumprir os acordos feitos com o governo brasileiro.

3) As vítimas do crime cometido pela Vale continuam desalojadas, morando de forma muito precária, abandonadas à própria sorte, e ainda não receberam a indenização anunciada .

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4) O Brasil tem um imenso histórico de não punição a empresas que causaram imensos desastres ambientais.

5 ) O IBAMA, cujo superintendente, Júlio César Grillo, havia alertado dezenas de vezes para o risco de uma nova tragédia em uma das barragens da Vale, estava sendo diariamente atacado por Jair Bolsonaro, que, recém eleito, falava vergonhosamente em "afrouxar as leis ambientais " que "engessavam" as mineradoras e faziam "sofrer" os empresários do setor de mineração.

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Leio nesse momento que, talvez por se tratar do segundo grande crime ambiental protagonizado pela Vale na região, com o desaparecimento de cerca de 300 vidas humanas, a Justiça finalmente determinou o bloqueio de bens da empresa no valor de mais de 6 bilhões de reais. O IBAMA também multou a empresa em 250 milhões de reais e o governo de Minas Gerais finalmente suspendeu as atividades da Vale na cidade.

Demasiado tarde.

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Uma tragédia anunciada , que destrói centenas de vidas e que dilacera meu coração, como brasileira, mãe e jornalista.

A Vale, depois de sua privatização em 1997 , tem se transformado em uma máquina de moer gente. Seu compromisso hoje é com a morte.

Quantas vidas humanas terão que ser destruídas ainda para que comecemos a lutar pela reestatização da Vale do Rio Doce?

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