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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O silêncio dos judeus aliados de Bolsonaro diante dos insultos neonazistas

"Os judeus cooptados pelo fascismo não fazem nada que contrarie Bolsonaro porque suas afinidades não são asseguradas por pretensas conexões com o judaísmo", escreve o colunista Moisés Mendes. "A sobrevida de Bolsonaro é assegurada também pelo silêncio dos judeus que não se ofenderam com o gesto neonazista de Filipe Martins"

Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais da presidência da República (Foto: Reprodução (TV Senado))
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Judeus aliados ou simpatizantes de Bolsonaro deveriam pedir desculpas aos próprios judeus. Os judeus que são cortejados e acompanham os cortejos de pregadores de ideias neonazistas deveriam, há muito tempo, ter tornado público o arrependimento pelo engajamento à extrema direita neonazista brasileira.

Mas esses judeus preferem ficar quietos. O incômodo causado aos judeus alinhados com Bolsonaro, com os filhos dele e com seus subalternos neonazistas é relativo.

Os judeus cooptados pelo fascismo não fazem nada que contrarie Bolsonaro porque suas afinidades não são asseguradas por pretensas conexões com o judaísmo. As conexões são mais amplas.

Quando Bolsonaro foi a Israel, no início do governo, e encenou o teatro do apoio à transferência da embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém (que nunca aconteceu), os judeus aliados de Bolsonaro entraram em êxtase.

O sujeito estava apenas fazendo cena para agradar Trump e os evangélicos brasileiros fundamentalistas, mas os judeus de direita fingiram que aquele era um gesto político com a grandeza de um reconhecimento das posições excludentes de Israel.

Quando setores progressistas passaram a denunciar o conluio de judeus com Bolsonaro, a direita do judaísmo brasileiro e até uma certa esquerda decidiu atacar os 'inimigos' como antissemitas e antissionistas.

É fácil enquadrar os críticos das atitudes extremistas de Israel. É a lacração que pode ser acionada com um simples toque num botão, para que alguém seja tatuado como antissemita.

Judeus cariocas são amigos de Bolsonaro há muito tempo. Receberam o sujeito na Hebraica, em 2017, quando o agora genocida era deputado e debochou de índios e negros e provocou risos da plateia, em palestra marcada por frases racistas.

Saudaram Bolsonaro como amigo não porque ele fosse de fato aliado dos judeus, porque sabem que não é, mas porque fazia o jogo que interessava. O jogo antiPT, anticomunista, antiLula, antiesquerda, antimuçulmano. Isso é bom para os judeus que convergem para as posições da extrema direita.

Quando Filipe Martins, o assessor especial de Bolsonaro, faz um sinal neonazista com os dedos, ele não está mandando um recado apenas para os neonazistas. Manda o recado para o fascismo em geral, incluindo os judeus que estão incondicionalmente com Bolsonaro.

Quando um sujeito tira foto com Bolsonaro e faz o mesmo sinal com os dedos, e Bolsonaro sai fora dizendo que aquilo pode pegar mal, ele não está preocupado em rejeitar um gesto nojento e criminoso. Bolsonaro se preocupa em limpar a barra com seus aliados judeus moderados.

O gesto do neonazista Filipe Martins é uma mensagem de pichador atrevido: olha só o que estou fazendo aqui, ao vivo, bem atrás do presidente do Senado.

Judeus que apoiam Bolsonaro e Benjamin Netanyahu também são, mesmo que não queiram, destinatários diretos ou indiretos da interação pretendida pelas mensagens com símbolos neonazistas.

O neonazista abrigado no governo acena para judeus bolsonaristas como aliados. Porque o neonazista não é o nazista da primeira metade do século 20 que dava preferência à perseguição de judeus. Ele é o novo fascista do século 21.

O neonazista não tem mais as mesmas preferências. Ele tem a pretensão de ser um supremacista, mesmo que seja um chinelão, como esse Filipe Martins, sem que os judeus apareçam como alvo predileto. Os alvos deles agora são os negros, os índios, os gays, os trans e tudo que for considerado diferente.

Os neonazistas deveriam ser abominados pelos judeus, mas os que os condenam publicamente são as exceções sempre repetidas. Os Judeus pela Democracia, o Observatório Judaico pelos Direitos Humanos e outros redutos progressistas podem falar em voz alta, mas a voz mais poderosa continua sendo a da direita judaica aliada de primeira hora de Bolsonaro.

Os que detêm o poder de influenciar continuam sendo os que se juntaram a um governo que teve um nazista exibicionista como Roberto Alvim, que forma nazistas orientados por Olavo de Carvalho e que, se investigarem bem, deve ter núcleos de pregação do neonazismo espalhados por todas as áreas.

Há no Brasil judeus aliados de um governo de neonazistas, como há negros racistas, dentro do governo e fora dele. A sobrevida de Bolsonaro é assegurada também pelo silêncio dos judeus que não se ofenderam com o gesto neonazista de Filipe Martins.

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