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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O streaptease do governo

Para o sociólogo Emir Sader, "poucas semanas foram suficientes para que o streaptease desse novo esquema de governo viesse à tona com todas suas dimensões"; "Uma equipe econômica de Chicago aprofunda o desmonte do patrimônio público e do que resiste de regulamentação estatal da economia. Um tresloucado ministro de Relações Exteriores promove a mais caricata subordinação do país à política de Trump", além do "ministro da Justiça com mentalidade de delegado de polícia"; sobre as ações da resistência, Sader avalia: "a luta pela liberdade do Lula deve ocupar o centro das novas linhas de ação da oposição"

O streaptease do governo
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Todos os elementos das crises vividas pelo governo estavam presentes na candidatura que se tornou vencedora. Os discursos demagógicos e o silêncio cúmplice disfarçavam a tragédia que se anunciava.

No conteúdo, um governo que trata de blindar com um Estado policial um modelo sem nenhuma possibilidade de conquistar apoio popular e que, por isso, tem que se apoiar na restrição das liberdades e no apelo direto à repressão. Na forma, um apelo a um grupo de lumpens e aventureiros que se propõe a assaltar o Estado e colocá-lo a serviço do grande empresariado e do governo dos EUA.

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"Nova política", "fim do PT", "menos Estado", "sem risco de Venezuela", "Lula preso"- valia tudo para fazer passar a única alternativa da direita, diante da derrubada do seu partidos tradicional e do riso de vitória novamente do PT. Fechava-se os olhos para a catástrofe que representaria para o país eleger uma camarilha para dirigi-lo. A nomeação de um ultraneoliberal para garantir a continuidade do modelo de rapina do Estado a favor do capital financeiro garantia o controle do governo no essencial. E a nomeação do Moro e de tantos militares completava o quadro da nova fisionomia da direita brasileira.

Um coquetel explosivo, que assalta o Estado como se gerenciasse sua fazenda, seu sítio, com suas hordas de desclassificados, cercados de clowns colocando pra fora sua ignorância e seu obscurantismo, compunham o novo governo, em meio a farsas e declarações desastradas de todo lado. Não importava, o importante era o controle rígido do Estado.

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Poucas semanas foram suficientes para que o streaptease desse novo esquema de governo viesse à tona com todas suas dimensões. Uma equipe econômica de Chicago aprofunda o desmonte do patrimônio público e do que resiste de regulamentação estatal da economia. Um tresloucado ministro de Relações Exteriores promove a mais caricata subordinação do país à política de Trump, com verborragia de uma guerra fria terminada quase quatro décadas, expondo o Brasil ao ridículo internacional.

Um ministro da Justiça com mentalidade de delegado de polícia quer impor por decreto uma política de segurança pública que formaliza o que governadores como os de São Paulo e do Rio, entre outros, promovem: a política do gatilho fácil, da liberação total da ação policial e da venda de armamentos (em conluio que ele pretende que seja privado, com a Taurus).

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Enquanto isso, sorrateiramente, mais uma vez pencas de militares se apropriam de ministérios e cargos sem conta, sem representação nenhuma, sem voto algum, para impor uma nova versão da doutrina de segurança nacional, militarizando o Estado. Se trata de se apropriar de cargos chave no governo, dando a estabilidade possível para que o governo possa funcionar, com seu programa econômico e a construção de estruturas policiais.

As crises do governo têm vindo, em grande medida, do pessoal escolhido por Bolsonaro para governar, a começar pelos seus filhos. E do estilo prepotente destes. De uma visão instrumental do Estado, como se fosse uma coisa que podem se apropriar.

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Mas a compreensão do governo e do seu fôlego não se resume a isso. A esquerda precisa de uma reflexão mais profunda do que aconteceu nestes anos, do caráter das graves derrotas que sofreu e das novas condições de luta, que diferem daquelas enfrentadas não apenas até 2016, mas particularmente depois das eleições de 2018.

A esquerda conta ainda com um patrimônio significativo, a começar pelos governos do Nordeste, pelas bancadas de parlamentares e pela liderança do Lula. Mas esses elementos, que estavam articuladas na estratégia anterior, que desembocou na campanha eleitoral de 2018, agora está na defensiva e relativamente desarticuladas.

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A esquerda ainda não propôs um balanço e uma linha de ação adequada às novas circunstâncias. Embora a derrota eleitoral foi totalmente forjada, ilegal, artificial, ela permitiu que a mais prolongada e profunda crise da história brasileira tivesse um desenlace, com a vitória da direita, na sua nova fisionomia, com forte ofensiva conservadora no plano das ideias e da ação política, que inclui a perseguição política e o retrocesso em todos os planos. Não somente dos avanços dos governos do PT, mas mesmo daqueles afirmados pela Constituição pós-ditadura e por consensos estabelecidos de avanços nos direitos humanos, sociais, políticos e culturais.

Apesar da grande crise do governo e do desgaste que representa, a esquerda não tem uma nova linha de ação, que permita se valer desse desgaste e retomar a iniciativa. A possibilidade de uma forma de governo paralelo, que levantaria a necessidade de relançar o debate sobre os grandes temas pendentes no Brasil, reunindo pessoal qualificado e movimentos populares, pode ajudar a politizar o clima da oposição, a obrigar a sair das respostas imediatas a cada problema, para retomar o caminho das prioridades da esquerda. Pode, ao mesmo tempo, deslocar as questões colocadas pelo governo e pelas contradições da direita, para a polarização entre o modelo neoliberal e o Estado policial de um lado, e as alternativas antineoliberais, democráticas, populares e nacionais, por outro.

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A luta pela liberdade do Lula deve ocupar o centro das novas linhas de ação da oposição, não somente pelo que ele representa e pelas monstruosidades que fazem com ele, mas também porque é uma questão chave para desmontar as armadilhas montadas pela direita contra a democracia e contra o Brasil. E porque a liderança do Lula, no novo período, continua a ser a direção indispensável para a recuperação da esquerda como alternativa para o Brasil.

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