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Helena Iono

Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

122 artigos

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O "The Intercept" intercepta a Lava Jato e abre a contra-ofensiva ao lawfare no Brasil e na Argentina

Torna-se um desafio explicar ao povo que o tema nacional levantado pelo The Intercept não é uma questão simplesmente de quem é inocente ou culpado. Mas sim, que o "lawfare" não derruba simplesmente presidentes progressistas, mas projetos sociais e a soberania nacional; que a Lava Jato destruiu a economia do país

O "The Intercept" intercepta a Lava Jato e abre a contra-ofensiva ao lawfare no Brasil e na Argentina (Foto: Esq.: EBC / Dir.: Fabio Pozzebom - ABR)
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Vislumbra-se na América Latina outro forte sinal da contraofensiva à onda reacionária dos últimos tempos contra os governos progressistas da região. A decisão de Glen Greenwald e da equipe de jornalistas investigativos do The Intercept Brasil em revelar gravações que desmontam a farsa-crime judicial da Lava Jato, do ministro-juiz Moro e do procurador Dallagnol e outros, acelera os passos para uma crise institucional do poder judiciário e das forças políticas apoiadas no esquema midiático que perseguiu o PT, a ex-presidenta Dilma Rousseff e incriminou sem provas a Lula da Silva, tirando-o do páreo eleitoral de outubro de 2019 no qual certamente seria vencedor.

A decisão do The Intercept, revelando sua coragem e valentia política, não surge do nada, mas de um acúmulo de forças que estabelecem um novo nível de reação do povo brasileiro, como nas recentes mobilizações dos estudantes de 15M contra a destruição do sistema educativo no Brasil, à sintonia fina dos movimentos sociais argentinos e brasileiros unidos no dia 6 de junho, em rechaço à vinda relâmpago de Bolsonaro na Argentina e, particularmente, à sua intromissão, como presidente, nos problemas internos das eleições argentinas (apoiando abertamente o presidente Macri). O clima de levante popular contra a devastação das políticas econômicas neoliberais fascistas, subalternas aos EUA e ao FMI em voga no Brasil e na Argentina, é palpável; a sustentação deste clima de reanimação de lutas no Brasil não é alheia aos ventos da Venezuela, onde o povo e governo de Maduro, legitimamente eleito, resistem na defesa da democracia e da soberania nacional e às ameaças imperialistas. Independente de todas as especulações sobre a fonte ou como afloram as gravações do The Intercept, o fato é que vivemos uma época de guerra mundial na qual, não fosse a capacidade militar-econômica e cibernética da Rússia e da China, Trump e os EUA já teriam invadido a Venezuela e destruído a Síria como fizeram com a Líbia.

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Pesam nestas recentes "surpresas" nacionais a geopolítica de um mundo em que líderes de duas decisivas potências, Vladmir Putin e Xi Jinping acabam de se reunir em Moscou e selar 30 acordos bilaterais, no plano comercial com moedas nacionais (excluindo o dólar) e na segurança estratégica internacional. Pesam declarações políticas, que talvez tenham passado desapercebidas, em tempos de apagão midiático, como a do Papa Francisco na terça-feira passada no Vaticano, por ocasião da Cúpula Panamericana de Juízes sobre Direitos Sociais e Doutrina Franciscana na qual participaram juristas de renome como Raúl Zaffaroni, ex-presidente da Corte Suprema da Argentina. O Papa expressou preocupação por uma "nova forma de intervenção exógena" que se dá "por meio de procedimentos legais e tipificações judiciais". Para o Papa, "o "lawfare", além de por em sério risco a democracia dos países, geralmente é utilizado para minar os processos políticos emergentes", e ele chamou a "detectar e neutralizar este tipo de práticas" e para "garantir a qualidade institucional dos Estados" e definiu tais práticas como "impróprias atividades judiciais combinadas com atividades multi-midiáticas paralelas".

Fatos transcendentes como as revelações do The Intercep Brasil, que explodiram nas redes e na mídia internacional, são totalmente ignoradas na mídia argentina, salvo no canal de TV C5N, nos jornais Página12, Tempo Argentino, Revista Contra Editorial e El Cronista comercial, no blog El Destape, e rádios como Am750 e Rádio10. Estes são alguns dos meios de comunicação independente que também têm divulgado, neste país, revelações feitas por jornalistas investigativos argentinos sobre o caso D'Alessiogate, pondo à luz gravações que comprometem o Procurador Stornelli da famosa causa dos "Cadernos" (a Lava Jato argentina criada com o principal intuito de incriminar midiáticamente e sem provas, empresários e integrantes dos governos kirchneristas); procurador este, acusado de integrar um esquema mafioso e ilegal de extorsão e espionagem, vinculado a serviços secretos nacionais e dos EUA.

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Enquanto isso, a grande mídia como Clarin, La Nación e as TVs hegemônicas ocultam fatos gravíssimos de interesse público como estes, revelados pela The Intercep Brasil e o escândalo do Morogate. Isso comprova como o esquema midiático do "lawfare" é regional e latino-americano. Como muitas vezes já foi destacado pela mídia independente: o juiz Moro já esteve em abril de 2017 na Argentina, em reuniões com o juiz Bonadio (o responsável por várias causas contra a ex-presidenta Cristina Kirchner) e com representantes da Corte Suprema argentina. O objetivo deste silêncio midiático na Argentina é impedir que o público tome consciência da conexão e semelhança entre a Lava Jato do Brasil e a invenção do "Cadernos" na Argentina. Ou seja, para o poder de turno, convém ocultar o Morogate e o D'Alessiogate, sobretudo em ano de campanha eleitoral. Agora, Moro e Dallagnol são investigados, da mesma forma que na Argentina, o procurador Carlos Stornelli (acusado de extorsão e investigação paralela, mas negando-se ilegalmente a depor perante o juiz Alejo Ramos Padilla, graças à proteção do Ministério Público, e do presidente Macri) e o agente D'Alessio (já preso), ambos na área de atuação do juiz Claudio Bonadio. Diante de semelhante transgressão da ordem constitucional, o jovem juiz Ramos Padilla, tem recebido apoio popular e de juristas constitucionalistas para manter firme a causa contra o procurador Stornelli; isso, não obstante pressões de Macri para afastar Ramos Padilla de suas funções nesta batalha judicial.

A bem pensada estratégia eleitoral de Cristina Kirchner como vice-presidenta na fórmula eleitoral da Frente Patriótica, com Alberto Fernandez presidente, permite antecipar-se e frear as mesmas tramas judiciais-midiáticas do "lawfare" reveladas pelo The Intercep Brasil, evidenciando a fraude judicial que impediu a candidatura de Lula da Silva, e a vitória do seu escolhido, Fernando Haddad, excluindo Lula das entrevistas de setembro de 2019.

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Como já dito por várias vozes nesta semana, as denúncias emergidas justificam fortemente a libertação e o cancelamento de todos os processos contra Lula da Silva; uma CPI no Parlamento para investigação e afastamento do ministro-juiz Moro e os procuradores da Lava Jato; e o encaminhamento de um processo que determine a fraude eleitoral. Surge a incógnita do que esperar da maioria dos juízes do STF e do Congresso que votou o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, por decisão política e ideológica, condenando-os sem provas, "mas por convicção", transgredindo as mínimas normas jurídicas. Será que o Brasil recuperará a ordem constitucional quando os restantes 99% dos arquivos do The Intercept forem conhecidos pela opinião pública? De que lado tenderá a Globo e a grande mídia que ocultou a verdade para demonizar Lula e o PT? O povo brasileiro terá representação direta e majoritária na Justiça para que sejam abertos os livros da história? Isso depende de uma decisão política das forças de poder, incluindo os militares. Lula, na sua última entrevista ao DCM chamou à atenção da consciência patriótica e democrática dos militares. Se Lula não for livre imediatamente, significa que a democracia continua a risco e o terreno empantanado. E somente o povo mobilizado abrirá as portas desta crise.

Torna-se um desafio explicar ao povo que o tema nacional levantado pelo The Intercept não é uma questão simplesmente de quem é inocente ou culpado, mais ladrão ou menos ladrão: Moro ou Lula. Mas sim, que a condenação de Lula foi um golpe ao povo brasileiro que inviabilizou um projeto democrático e de direitos à vida, educação, saúde, à previdência social, a direitos trabalhistas, às riquezas do país; que o "lawfare" não derruba simplesmente presidentes progressistas, mas projetos sociais e a soberania nacional; que a Lava Jato destruiu a economia do país, privatizou a Petrobrás e gerou desemprego em massa. É preciso comunicar isso ao povo e mantê-lo mobilizado.

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Mas, não há dúvidas de que a bravura de Glen Greenwald e a equipe do The Intercept, a exemplo de Julian Assange, destapará forças políticas no Brasil e na Argentina para por um freio no "lawfare" instrumentado pelos EUA. As eleições de outubro na Argentina contam com os desdobramentos desta crise institucional no Brasil e, vice-versa, a possibilidade do triunfo eleitoral da chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner terá um peso fundamental na retomada da ordem constitucional no Brasil.

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