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Renato Rovai

Renato Rovai é editor da Revista Fórum

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O Twitter não erra ao punir Trump e isso não significa todo poder às plataformas

"A esquerda que tem juízo não deveria entrar nesta barca furada de fazer de Trump uma vítima de um sistema que pode catapultar a democracia", defende o jornalista Renato Rovai

(Foto: Reuters | Reprodução)
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O cancelamento da conta do presidente dos EUA, Donald Trump, primeiro pelo Twitter e agora pelo Pinterest causou reboliço nas redes sociais brasileiras.

De repente, além dos previsíveis protestos dos bolsonaristas e das hostes da extrema direita que, entre outras coisas, trocaram suas fotos de perfis pela de Trump, um setor da esquerda também passou a protestar contra a ação do Twitter por ver nela algo que poderia significar excesso de poder das plataformas em relação às instituições e um risco à democracia.

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A decisão do Twitter levou a uma séria de “alianças” inusitadas. A mais curiosa foi a do perfil de Allan dos Santos, do site de extrema-direita Terça Livre, que cobriu a invasão ao capitólio com o blogueiro entrando ao vivo do ataque, repercutindo a matéria do Partido da Causa Operária (PCO), cujo título era “Bloqueio das contas de Trump, uma ação ditatorial dos monopólios”.

Mas por que uma parte da esquerda criticou a ação do Twitter? O argumento principal é de que se a Big Tech faz isso com um presidente americano, se sentirá no direito de fazer o mesmo com quem quer que seja.

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E poderá passar a perseguir perfis de líderes de esquerda também.

A resposta para isso é simples, alguém por acaso tinha alguma dúvida ou ilusão de que as plataformas permitiram a movimentos de esquerda convocarem ataques ao congresso americano? Se isso porventura vier a acontecer alguém imagina que Twitter, Facebook e outras redes não vão imediatamente cancelar a conta desses líderes?

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O que Trump fez foi isso. Ele liderou um movimento violento nos EUA que visava desestabilizar o anúncio final de sua derrota pelo Congresso. O ataque tinha gente armada e foi preparado por dias via essas mesmas redes. Ao verificar que, de alguma maneira, estavam sendo cúmplices do ato, o Twitter tomou a decisão de primeiro suspender a conta do presidente e depois cancelá-la.

Dentro das normas da plataforma, a decisão é acertada. O Twitter tem suas regras e não é uma concessão pública. É um produto privado baseado em contrato entre as partes. Essa é uma parte da questão, é bem verdade.

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A outra é que essas empresas podem, com decisões de seus CEOs, decidir processos eleitorais, produzir golpes e sequestrar a democracia.

Isso é de verdade algo sério, mas que não tem relação direta com essa punição a Trump. Há algum tempo, essas Big Techs vêm participando de ações políticas mundo afora. Em geral, sendo parceiras dos interesses do governo dos EUA.

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Para que isso não ocorra é preciso discutir formas de regulamentar em cada país a força desses produtos. É criar regulamentações que as impeçam de ter tanto poder. É essa a questão de fundo que precisa ser encarada.

Na China e na Rússia há esse controle. Nos Emirados Árabes e na Arábia Saudita também. Não se dá às Big Techs nesses países o direito total de exploração da influência. Mesmo aplicativos como Whatsapp têm uso restrito.

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Essa regulamentação se for feita a partir da construção de um processo amplo como a sociedade civil, pode ser algo realmente democrático e que defenda entre outras coisas a soberania nacional. Mas não é assim que a banda toca sempre.

No Brasil de hoje, uma regulamentação, se viesse a ser aprovada, provavelmente implicaria em imensos riscos à liberdade de expressão. Porque quem tem poder de aprová-la é o governo federal, que já usa as verbas de publicidade para construir sua própria mídia e para pagar o apoio que recebe de veículos de comunicação tradicionais.

A esquerda que tem juízo não deveria entrar nesta barca furada de fazer de Trump uma vítima de um sistema que pode catapultar a democracia. Aliás, em 2019 o Twitter baniu milhares de contas no mundo. Entre elas contas do PP e do Podemos na Espanha e de partidos de esquerda no Equador. Essa mesma esquerda não gritou.

As plataformas sim, amigos, são poderosas e podem decidir o futuro dos países. Não há novidade alguma neste debate e já há muita gente fazendo-o há algum tempo.

Ainda no tempo em que Lula e Dilma governavam essa já era uma questão e o Marco Civil da Internet já foi debatido sob as luzes desse paradigma.

O que se deve perguntar agora é que rumo tomar, sabendo que elas têm tanto poder. Mas isso não significa dar palanque para maluco e nem milho para bode.

A decisão do Twitter sabendo que sua rede estava sendo usada para incitar um ataque à democracia nos EUA de suspender o presidente americano foi acertada. Se Trump estivesse fazendo o que fez pelas páginas da Fórum, nossa decisão seria a mesma do Twitter, cancelá-lo.

O ponto é esse, como diminuir o poder das plataformas privadas e não o de defender que fascistas possam agir nelas sem qualquer tipo de controle.


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