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Michel Zaidan

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Observações sobre a ensaística sobre o Nordeste

Essa engenharia simbólica deu uma formidável sobrevida às oligarquias locais, em substituição ao seu declínio econômico e social

(Foto: REUTERS/UESLEI MARCELINO)
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(Gilberto Freyre. Os neo-nietzschianos, neonominalistas e Carla Nogueira) 

O objetivo dessas  notas  é  fazer  uma rápida revisão bibliográfica  sobre a ensaística  sobre a região nordestina. 

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1. A primeira vertente que gostaria de abordar  vou chamar aqui de "brasilidade nordestina", associada ao nome do escritor e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, que aliás  tem um livro com esse nome "Nordeste ".

Essa vertente defende a tese de que a matriz formadora  do Brasil é  a Casa Grande e seu herói civilizador - o senhor de engenho. A obra de Freyre já entronizado como um verdadeiro épico  sociológico (veja o livro de  Benzaquen) apresenta o Brasil  como fruto da herança colonial  nordestina, a ponto de outro ensaísta falar de patrimonialismo e do homem cordial, com base  na experiência  escravista dos engenhos de cana de açúcar.  O Estado colonial era a Casa Grande. E o  seu soberano, o senhor de engenho.

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Poder-se-ia acrescer aqui a linha de Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa  etc. Com o seu determinismo racial e positivista.

2. A segunda vertente  é representada pelo ensaísta e filósofo Friedrich Nietzsche, profundamente influenciados pela obra de Michel  Foucault. Uma vertente retórica  e neo-nominalista, que pretende "inventar" o Nordeste a partir de figuras como: o cangaço, o messianismo, o engenho banguê e a saudade.  Segundo o autor  o Nordeste  é  produto de um discurso lítero-sociológico-histórico que  "cria" e "difunde " uma identidade regional que se transforma  numa positividade espacial e social. Curiosamente, o autor, criticando  essa estratégia discursiva, termina por criar  outra em torno do tropicalismo. 

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3. A última vertente interpretativa está  ligada  a obra de Carla Nogueira, que afirma que o conceito  e a ideia  de um espaço  diferenciado chamado Nordeste  em a ver com a lógica de desenvolvimento capitalista desigual e combinado, e com a divisão  do trabalho entre  Sul e Norte, responsável  pela racionalização  do atraso, através da literatura, do ensaio, da pintura. Os intelectuais nordestinos  ajudaram a criar e difundir  a ideia  do Nordeste e de um espaço geopolítico determinado, como uma positividade espacial, histórica  e social .

Essa engenharia  simbólica deu uma formidável  sobrevida  às oligarquias locais, em substituição  ao seu declínio  econômico e social. Sobrevivência simbólica, estética, literária.

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A essas correntes, teríamos que acrescentar o "outro Nordeste " representado  por uma ensaística e uma poética crítica, representada por Josué de Castro, Paulo Freire, o manguebeat,  João Cabral de Melo, Graciliano Ramos  etc. Autores  que não transformam  a necessidade em virtude  ou vantagem comparativa civilizatória, mas fazem uma crítica radical à "segunda natureza" da miséria  nordestina, sem estilizá-la ou transformá-la em espetáculo social.

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