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Milton Blay

Formado em Direito e Jornalismo, já passou por veículos como Jovem Pan, Jornal da Tarde, revista Visão, Folha de S.Paulo, rádios Capital, Excelsior (futura CBN), Eldorado, Bandeirantes e TV Democracia, além da Radio France Internationale

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Olavo, o ex-guru antissemita do bolsonarismo

"Poucas pessoas foram a tal ponto explícitas no ódio aos judeus", diz o jornalista Milton Blay sobre o ideólogo da extrema direita no Brasil

Olavo de Carvalho (Foto: Reprodução/Youtube)
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Por Milton Blay

Olavo de Carvalho, o ex-todo-poderoso da chamada “ala ideológica” do bolsonarismo era antissemita?  Sim, poucas pessoas foram a tal ponto explícitas no ódio aos judeus.

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Num livro de 2012, intitulado “Os EUA e a nova ordem mundial”, uma compilação de um debate entre ele e o escritor neofascista russo Aleksander Dugin, Olavo de Carvalho denunciou uma organização judaico-globalista ( que ele denominava Consórcio) composta por “grandes capitalistas e banqueiros internacionais, empenhados em instaurar uma ditadura mundial socialista”.

A discriminação aos judeus vinha no meio de um pacote de teorias da conspiração, num emaranhado paranoico que ia do terraplanismo ao marxismo cultural, passando pela Pepsi Cola, que usaria células de fetos para fabricar adoçantes.

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Ao responder a uma provocação de Dugin sobre a presença de judeus no fantasioso Consórcio, Olavo afirmou:

1) A presença de banqueiros judeus nos altos círculos do Consórcio;

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2) A de militantes judeus na elite revolucionária que instaurou o bolchevismo na Rússia.

Para Olavo, era óbvio e patente que esses dois grupos de judeus – banqueiros e militantes comunistas – colaboraram entre si para a “desgraça do mundo”. Eles continuaram colaborando até a época em que Stálin desencadeou a perseguição geral aos judeus e a KGB começou a devolver a Hitler os refugiados judeus que vinham da Alemanha. Segundo o pseudo-filósofo, a colaboração duraria até hoje.

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3) O barão Rothschild é dono do Le Monde, o jornal mais esquerdista e anti-israelense da grande mídia européia, assim como a família judia Sulzberger é dona do diário americano que mais mente contra Israel. Enquanto George Soros, judeu que ajudou os nazistas a tomar as propriedades de outros judeus, financia tudo quanto é movimento anti-americano e anti-israelense do mundo.

Em quinze linhas, o ex-guru da Virgínia acumulou fake news. Ele confundiu o jornal Le Monde com Libération, que em 2005 teve capital da família Rothschild. Le Monde nunca foi um jornal esquerdista. Quanto a Soros, ele foi perseguido pelos nazistas durante a Segunda Guerra e ao final do conflito tinha apenas 15 anos de idade. Por pouco o pequeno George não foi enviado para os campos de extermínio.

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Portanto, as acusações de Olavo de Carvalho aos judeus não passaram de mentiras antissemitas tiradas dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, dentre as quais a mais antiga e disseminada – a de que fazem parte de uma conspiração para dominar o mundo, controlando a economia e a mídia.

Quanto à relação entre os judeus e o bolchevismo revolucionário russo, só mesmo o antissemitismo explica. Afirmar que “militantes judeus” estiveram por trás da revolução que instaurou o comunismo na Rússia em 1917 remonta a uma mentira utilizada pela propaganda do partido nazista para instigar o ódio contra seus dois principais inimigos: judeus e comunistas.

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Se é verdade que alguns revolucionários russos, como Leon Trotsky e Grigorii Zinoviev, eram de fato judeus, a imensa maioria tinha origem cristã.

No mesmo texto, Olavo deixou ainda mais claro o seu preconceito: “Alguns judeus merecem proteção; enquanto outros, falsos e impuros, devem ser demonizados. Quando se trata desses, eu abraço o antissemitismo.

Dos textos antissemitas de Olavo, talvez o mais surpreendente tenha sido sua comparação entre judeus e nazistas.

Num artigo de 1995, publicado no livro “O imbecil coletivo”, ele criticou Jeff Lesser, brasilianista que acabara de publicar uma pesquisa sobre o antissemitismo durante o Estado Novo:

“Ou aderem ao modernismo ateu, ou, quando se apegam à religião, é para rebaixá-la a um fundamentalismo rancoroso, fanático e assassino. Quanto a esta última alternativa, cabe lembrar: ninguém neste mundo está imunizado por garantia divina contra a contaminação de uma mentalidade nazifascista, muito menos aqueles que ontem foram vítimas dela. O homem perseguido, seviciado e traumatizado tende, por uma compulsão inconsciente quase irresistível, a incorporar os traços do seu perseguidor, disfarçando-os sob um discurso contrário.”

Olavo de Carvalho foi ainda mais explícito numa crônica publicada em O Globo, em 1997:

“Entre o fim da 1° Guerra e a ascensão de Hitler, ninguém foi mais excluído e discriminado que os alemães — e vejam só a porcaria que depois eles fizeram a pretexto de enderechar entuertos. Os judeus copiam na Palestina a meleca germânica, e os pretos já começam a bater no peito com demonstrações ostensivas de orgulho racial, nostálgicos talvez do tempo em que, faraós no Egito, desciam o chicote no lombo semita.”

Este foi Olavo de Carvalho, auto-intitulado filósofo, que conheci no Estadão como jornalista astrólogo, guru do bolsonarismo. Através dele, entende-se melhor as ligações estreitas entre a família Bolsonaro e o nazifascismo. 

Adeus...

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