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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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Onde andam os críticos do populismo?

"A intervenção militar no Rio (o nome é este, eufemismos à parte), afora todos as ameaças que carrega contra o Estado de Direito, é uma medida gritantemente populista, tomada por um presidente impopular que deseja se cacifar para disputar a reeleição", ressalta Tereza Cruvinel; a medida, diz a colunista, "aposta na sensação ilusória e passageira que a população poderá ter e atribuir ao dono da iniciativa. Em última instância, votando nele para governar mais quatro anos"; "E, no entanto, os críticos severos de medidas de outros governos, que batizaram de populistas, agora silenciam diante deste escancarado populismo de Temer", observa

"A intervenção militar no Rio (o nome é este, eufemismos à parte), afora todos as ameaças que carrega contra o Estado de Direito, é uma medida gritantemente populista, tomada por um presidente impopular que deseja se cacifar para disputar a reeleição", ressalta Tereza Cruvinel; a medida, diz a colunista, "aposta na sensação ilusória e passageira que a população poderá ter e atribuir ao dono da iniciativa. Em última instância, votando nele para governar mais quatro anos"; "E, no entanto, os críticos severos de medidas de outros governos, que batizaram de populistas, agora silenciam diante deste escancarado populismo de Temer", observa (Foto: Tereza Cruvinel)
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A intervenção militar no Rio (o nome é este, eufemismos à parte), afora todos as ameaças que carrega contra o Estado de Direito, é uma medida gritantemente populista, tomada por um presidente impopular que deseja se cacifar para disputar a reeleição. É populista porque aposta no conforto de curto prazo que a população terá com a inibição inicial dos bandidos e com os efeitos especiais proporcionados pela presença de tropas militares, blindados e tanques, a exemplo da operação realizada ontem nas fronteiras do Estado. É populista porque, apesar das evidências de que não resolverá o grave problema da violência enfrentado pelo Rio (e em maior escala por outros estados), aposta na sensação ilusória e passageira que a população poderá ter e atribuir ao dono da iniciativa. Em última instância, votando nele para governar mais quatro anos.

E, no entanto, os críticos severos de medidas de outros governos, que batizaram de populistas, agora silenciam diante deste escancarado populismo de Temer, que poderá resultar num tremendo estelionato eleitoral ou em coisa pior, aquela que nos aterroriza, a configuração uma ditadura híbrida, chefiada nominalmente por um civil mas dirigida pelos militares, à la Bordabery.

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Políticas públicas dos governos Lula e Dilma (e de outros governos sul-americanos de centro-esquerda) foram o tempo todo chamadas de populistas quando tinham os mais pobres como alvo. Bolsa-família era populismo social, Pro-uni era populismo universitário, Minha Casa Minha Vida era populismo habitacional. Hoje, a própria redução da desigualdade acontecida no período, e reconhecida internacionalmente, com a saída de 36 milhões de pessoas da pobreza extrema, é chamada em editoriais e declarações de ilusão populista. Os emergentes voltaram mesmo, em grande parte, para a pobreza mas porque a recessão, agravada depois do golpe, lhes tirou emprego, renda e condições de se manterem no patamar a que haviam chegado. A ascensão não foi uma ilusão, foi real, mas seguida da queda na situação anterior.

Mas nenhum destes críticos do populismo, defensores de soluções “consistentes e não cosméticas” para os problemas do Brasil, enxerga o populismo da intervenção militar no Rio.

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Ela não resolverá o problema porque não tem um plano articulado de intervenção na realidade. Trata-se apenas de uma aposta na redução das estatísticas da criminalidade no curto/médio prazo, ainda que isso custe a violação dos direitos e garantias dos inocentes que moram nos morros e favelas, através destes aberrantes mandados coletivos de busca e apreensão. Importante é que a operação dure até depois da campanha eleitoral, caso produza a esperada melhora nos índices de aprovação de Temer, suficientes para lhe garantir uma candidatura à reeleição.  Assim como era importante, em 1989, que o congelamento de preços do Plano Cruzado fosse mantido até o dia da eleição, ou que a paridade entre o dólar e o Real fosse mantida, em 1998, até que Fernando Henrique fosse reeleito. E se querem falar de Dilma, ela também errou, como já ouviu do próprio PT, em negar a necessidade de um ajuste fiscal durante a campanha para tentar fazê-lo depois com Joaquim Levy.

Num quadro em que a direita não viabiliza nenhum candidato, Bolsonaro vê seu discurso expropriado pela intervenção, e Lula pode ser impedido de concorrer, Temer passou a sonhar com a permanência no Planalto. Este será o Plano Real dele, dizem os áulicos.

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Um Plano Real de segurança pública, merecedor de tal nome, teria que ser muito mais consistente e ambicioso. Teria que conter uma nova política para a questão das drogas, enfrentando, inclusive, a questão da legalização das drogas leves. Teria que mirar com precisão a depuração das polícias, hoje parcialmente corrompidas pelo tráfico. Um tal Plano Real conteria também uma proposta de reforma radical do sistema carcerário, dele retirando os mais de 50% que são presos provisórios, não sentenciados. E teria também uma dimensão social, com políticas públicas de inclusão, trabalho, renda e educação para os que coabitam nos burgos pobres e podres com os traficantes e criminosos de toda ordem.   Teria que ter, especialmente, uma política para os jovens que, não encontrando emprego, acabam se entregando aos traficantes, para morrerem antes dos 24 anos nesta guerra que mata principalmente jovens homens, negros e pobres nas favelas do Brasil.

Esta intervenção, que não conta com nada disso, é populismo dos mais enganadores, porque mexe com a dor e o desespero dos que não suportam mais a vida que estão vivendo, tendo seus filhos aliciados e suas filhas violentadas, convivendo com tiroteios e balas perdidas,  submetidos à servidão aos traficantes, sem a qual não é possível viver numa  favela, nem no Rio nem em outras grandes cidades.

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