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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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Onde está o racismo?

Racismo é traço ou componente sociológico presente em qualquer sorte de conflito de ordem local, regional ou internacional. Aliás e trocando em miúdos, não há conflito que não tenha fortes doses, abertas ou veladas, de racismo

Onde está o racismo? (Foto: Edição 247)
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Mas erra feio quem pensa que racismo é só a velha e surrada refrega que opõe brancos a negros; a submissão vil e despótica que seres humanos brancos buscam impor corriqueiramente para seres humanos negros; quem acredita que o racista é só aquele que se acha e que por isso expressa uma tal superioridade a esta ou aquela outra "raça" de gente e que, portanto, faz dessa crença uma militância aberta, diária e cotidiana; quem pensa que racismo é só uma articulação argumentativa histórica, coerente e consolidada que visa justificar atos e ações que potencializam esta espécie de homens em evidente detrimento daquela outra espécie humana é preciso que se diga categoricamente que nada fora, de fato, entendido.

Bem mais do que isso... Racismo é traço ou componente sociológico presente em qualquer sorte de conflito de ordem local, regional ou internacional. Aliás e trocando em miúdos, não há conflito que não tenha fortes doses, abertas ou veladas, de racismo. Não há ódio que não estabeleça interface com alguma modalidade de racismo. O racismo existe porque preexiste; é movimento humano de desumanização; é contradição em si porque é feito para desfazer; pensado para evitar pensamento; concebido para evitar concepções. É um escancarado e nevrálgico paradoxo.

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E está nas artes, nas letras, na produção de ciência, na religiosidade, na política, nos esportes, na economia, na arquitetura, nas narrativas e nas sociabilidades. Está vivo e vibrante nas incompreensíveis extensões do subconsciente operando em perversa e nefasta dinâmica.

O civilizado e sua aversão aos "bárbaros" selvagens que sempre viveram em matas e bosques e que incrivelmente, jamais se organizaram a partir de classes sociais muito menos por meio do "quantum" de coisas e capitais; a antipatia dos religiosos sempre formais e ritualísticos ante aos povos pagãos e que tem na vida natural, no corpo, na liberdade e na fartura a expressão objetiva do perfeito, do divino e do transcendental; os habitantes das paradisíacas paisagens litorâneas em suas tensas relações com as populações das brenhas e dos sertões; os belos e educados moradores do centro ou dos bairros nobres e suas eternas desconfianças para com os pobretões das quebradas ou dos arrabaldes da cidade; a velha cisma dos bem nascidos e bem criados da parte urbana e que é claro, se opõe aos outros que são da roça, do roçado, do campo; pois bem... Todas essas oposições ainda muito atuais, presentes e que seguem se renovando tem no racismo o mobile espiritual, teórico, político e intelectual a gerar atualidade para para tais fraturas e que impossibilita o mínimo de integração, unidade e humanização para uma "humanidade" em permanente estado de guerra.

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Não... o racismo não é a indisposição individual às epidermes alheias; mais que isso é realidade multidimensional pensada, produzida, ativada e encetada para produzir e atualizar submissão, deploração e genocídio. Para gerar enfim, guerra.

É uma das principais potências sociais, políticas e econômicas e que o mundo desgraçadamente deu forma e, definitivamente, não sabe como parar. O monstro segue vivo e consumindo o planeta! O que tento dizer é que o exercício e a persistência do racismo gera território, sub-território; produz fronteiras reais ou imaginárias; apartações das mais diversas e emascula o próprio desenvolvimento humano de experiências humanísticas e essenciais para a feitura de um horizonte distinto do lodaçal societário em que estamos enfiados.

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Racismo para pretos e pardos? Isso, mesmo que absurdo, não é nada ou muito pouco diante do flagelo mundial e que representa o racismo, suas reverberações e implicações. O racismo criou esse lastimoso mundo em que nos encontramos. É o fio da navalha cortante que aprofunda o fosso cultural e identitário entre povos do hemisfério norte e sul; a gente oriental, esse oceânico mosaico de tipos humanos e os povos do ocidente, esse tipológico antropológico afundado em sociedades dependentes, salariais e de controle e que sobrevivem da mendicância que de quando em vez, garante o mínimo de subsistência e de doses cavalares de antidepressivos.

O racismo nos fundou e afundou; nos fez e nos desfaz; nos encarcerou no risível de nossas certezas de papel e, tragicamente, seguimos reproduzindo o que já é escancaradamente fracassado, arruinado e moribundo. O que nos faz andar nesse pântano? Ora... A energia milenar e bélica do racismo, essa ferida histórica e que sangra aos jorrões desde o surgimento do poder secular sobre este mundo.

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Não há saída! Nossa chance única de sobrevivência é no encontro, na proximidade, no respeito e na integração. Afora desse caminho seremos, na autofagia visivelmente destruidora advinda da perturbação do racismo, algozes de nós mesmos. De fato, não existimos sem o outro e definitivamente, isso não é salmo bíblico, enunciado do alcorão ou determinação da torá judaica... É condição única para o humano ou nos perderemos nas guerras do sem-fim.

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