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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Oposição honesta

O governo terá um árduo futuro pela frente com uma necessidade de consertar coisas efetivamente urgentes, a começar pelo vergonhoso índice urbano de criminalidade e violência. Mas nem tudo 'cabe' ao governo. Se a sociedade brasileira tem se mostrado tosca e medonha em termos de crise ética, de educação e em violência, é ela que necessita de uma 'oposição'

Oposição honesta (Foto: Marcelo Camargo - ABR)
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De início, ressalve-se o autoritário termo 'honesta' do título. No caso, não guarda relação com qualquer coisa piegas ou moralista. Relaciona-se a um mero aspecto instrumental que informaria ser uma determinada oposição política, correta funcionalmente. No sentido de ser uma efetiva e necessária oposição a temas e decisões que um governo atraia resistência, debate ou até impedimento pontual em votações no Congresso. Ou nas ruas.

Ainda, não é honesta uma oposição porque este ou aquele governo 'mereçam'. Merecimentos, quando não são hipócritas, raramente existem.

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Em tristes tempos de eleitor ultrarradical e nunca interessado em fundamentos e razões – conhecimento-, só em nocautes adversariais de Instagram, o tema de uma oposição 'correta' soa insosso, sabe-se. Mas mesmo assim, mantém sua sedução.

Giampaolo Zucchini, no Dicionário de Política de Norberto Bobbio, define 'oposição como a união de pessoas ou grupos que objetivam fins contrastantes com fins identificados e visados pelo grupo ou grupos detentores do poder econômico ou político". O objeto epistemológico que oscila e se mostra hábil a larguezas ou conformações não são os grupos, mas os fins. Os fins têm a ver com ideias, temas, ideologias e decisões políticas.

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É claro que uma fórmula de oposição assim, gente-fina-e-elegante, porque essencialmente racional, não é para qualquer sociedade, partido ou políticos. Se estes últimos, no caso brasileiro, não melhoram de sua patologia toma-lá-dá-cá, revelando-se como todo um baixo-clero intelectual próprio de espertalhões ávidos, que não atraem respeito de ninguém, esta oposição já utópica não será encontrada na esquina.

Mas pensar é sonhar e o caso concreto se nos afronta. Há-se-nos o Brasil a cuidar. Neste modelo de Estado desonesto que cobra altíssimos impostos e retribui praticamente nada, com a posse de Jair Bolsonaro, o que poderia ser uma oposição funcionalmente honesta?

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Primeiramente, uma que conseguisse se livrar do gosto ruim da derrota sofrida há poucos meses e tivesse olhos construtivos – mesmo dela própria- e fiscalizadores para o futuro. Difícil, não é? A manutenção de rancores eleitorais tem impedido a realização de uma oposição inteligente, e torna simplista e viciosa a contestação a 'tudo' que um governo faz. Partir da premissa de que 'tudo' que um governo– seja ele qual for- faça sejam coisas burras ou absurdas é uma errância crassa de qualquer oposição, seja de direita ou de esquerda.

Em segundo lugar, o interesse maior da oposição, que nunca deveria ser personalista, focado na pessoa, na figura, mas, objetiva e racionalmente, em temas e assuntos que precisam verdadeiramente ser controlados no plano ideológico. Manter-se trocado-de-mau como um idiota adulto-mimado, esquecendo as áreas temáticas envolvidas em decisões políticas para se dedicar a 'quem' toma essas decisões é uma forma primária de fazer política. Nem contribui para o conceito de oposição, nem para a sociedade que precisa sempre da oposição.

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No caminho inverso, eram os idiotas de plantão implicando com a língua presa e a falta de dedo de Lula. Mas não se iluda, a idiotice é democrática. Assola a ambos os lados.

Jair Bolsonaro propõe uma 'mudança' radical no governo, no Estado e mesmo na cultura, alguns valores sociais. Sua eleição se deve a esta busca de tríplice inovação. Mas a diferença entre palanque e realidade é abissal, sabe-se.

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A história da 'mudança' na Teoria Política é marcada essencialmente por ideias antagônicas ou rechaçantes entre si. Invariavelmente não ligada a pessoas. Na obra Teoria Geral da Política, Norberto Bobbio, estudando a mudança política, mostra inúmeras díades, algumas apenas estratégicas, como reforma ou revolução; outras nitidamente materiais, como democracia e ditadura; partidos operarários marxistas e não marxistas; partidos reformistas e partidos revolucionários; marxistas ortodoxos e não ortodoxos; mencheviques e bolcheviques; socialistas ligados ao pacto de unidade de ação e comunistas e social-democratas na Itália.

Sempre que se fala em oposição, a ideia primeira que vem à mente é a de ideias, entrechoques de ideias. Mas no caso brasileiro, por exemplo, de toda era Lula, acabaram saindo as ideias do Partido dos Trabalhadores e passou a triunfar um Lula personalista como o líder carismático, como aquele não rejeitado por Max Weber. Agora, Bolsonaro se agigantou eleitoralmente com ideias conservadoras, mas seu eleitorado, simetricamente aos petistas, desde a eleição já dá mostras visíveis de rechaço à compreensão de fundamentos, passando a trabalhar com a figura de 'mito', em nova parturição personalista, nova criação de líder carismático, que, todavia, só o tempo dirá se ele conseguirá 'manter'.

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De novo, faltam ideias a se opor. Quando Delfim Neto em entrevista recente, elogia a equipe de Bolsonaro, não elogia ideias, mas personas que prometem papéis futuros a serem cumpridos na oficialidade vitoriosa do governo.

A ideia de militares em praticamente todo o primeiro escalão de governo, representando, por si só, um fator monolítico teoricamente oponível, torna-se própria para uma oposição agir, se considerada uma 'normalidade' de qualquer governo democrático do mundo, essencialmente civil, nunca militarizado. Por outro lado, a ideia de militarização de um governo democrático e civil se torna perfeitamente conteste com todo o plano de voo bolsonarista, desde sempre sabidamente conservador.

Mas sempre haverá ideias e matérias a se opor, principalmente com um ministério civil que parece não ter sido escolhido, todo ele, por valores endógenos de cada um dos integrantes, mas pela possibilidade de fidelização à cartilha ideológica oficial. Alguns dos ministros chegam a ostentar, verdadeiramente, visões de mundo fundamentalistas e apavorantes.

Quando a sociedade brasileira elegeu Bolsonaro ela não apenas disse 'não' ao PT, mas avisou que, paralelamente, fiscalizaria o bom ou péssimo nível de oposição que será feita. E quando se fala em oposição, leia-se, não apenas o PT, sabe-se. Então a oposição também está em xeque, sendo analisada e observada pela sociedade.

A sociedade brasileira ainda precisa de um herói de plantão. Isso ao mesmo tempo que transforma um humano comum em 'mito', essa cafonice intelectual, desconstrói com a mesma veleidade essa mitologia mal parida.

O governo terá um árduo futuro pela frente com uma necessidade de consertar coisas efetivamente urgentes, a começar pelo vergonhoso índice urbano de criminalidade e violência. Mas nem tudo 'cabe' ao governo. Se a sociedade brasileira tem se mostrado tosca e medonha em termos de crise ética, de educação e em violência, é ela que necessita de uma 'oposição'. O problema é que a 'sabedoria' virou palavra antiga, o 'conhecimento' e a 'experiência' foram substituídos por uma febre histérica de 'inovação' e a velha ética parece que não desperta mais atenções. Com um tecido social assim, não é só o governo que precisará de uma oposição para lá de inteligente.

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