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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Os 15% de arrependidos

"Estava ali, na minha frente, um retrato dos 15% que, segundo apontou a pesquisa Ibope divulgada nesta semana, deixaram de considerar o governo que assumiu há apenas três meses incompletos, 'ótimo ou bom'", conta a jornalista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, ao relatar o episódio de um empresário que não conseguiu mais arcar com os compromissos financeiros assumidos; "Bolsonaro, pela imprensa, dá de ombros para os números da pesquisa, mas as ações do Planalto demonstram não ser bem assim, o cenário entre os seus pares"

Os 15% de arrependidos (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia - Há um ano e meio alugo um espaço para um pequeno empresário. Os pagamentos eram feitos religiosamente. Há dois meses, porém, o dinheiro parou de chegar. Dias desses ele bateu à minha porta. Constrangido, corado e com umas gotas de suor lhe cobrindo a testa, começou a conversa desculpando-se pelo atraso. "As coisas estão muito ruins. Tudo piorou", acrescentou ele, jogando na conta do governo o motivo da inadimplência. E continuou dando uma pitada de politização ao seu discurso:

- A senhora me desculpe, mas estou trocando de ramo. Vim trazer o seu dinheiro só agora. Não sei o que fazer e sinto que isto é só o começo. Eu não sei de que lado a senhora está, mas o país está muito pior – lamentava-se, para reforçar as desculpas pelo atraso do pagamento. Pacientemente eu esperava que ele tirasse, enfim, o dinheiro do bolso, cumprisse o compromisso e se fosse, mas o que o empresário sacou foi uma confissão:

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- Eu votei nele. (Entendi que no Bolsonaro, claro). Não sei explicar, hoje, porque votei. Quer dizer, sei sim. Eu não queria mais aquela roubalheira. Estava uma vergonha, a senhora não acha?

- De qual roubalheira estamos falando?

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- Daquela turma de antes. Eu fui ficando injuriado. Todo dia a gente ligava a televisão e era só escândalo daquela gente. Abria o celular e tinha uma quantidade de mensagens falando de, mais escândalos. Eles fizeram eu tomar tanta raiva daquela turma que eu votei nele só de raiva. Eu votei com raiva. E repetia a palavra "raiva" com a carga que a palavra tem.

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Não. Eu não concordava e expus para ele os argumentos. E nem precisava, pois estava ali, na minha frente, um retrato dos 15% que, segundo apontou a pesquisa Ibope divulgada nesta semana, deixaram de considerar o governo que assumiu há apenas três meses incompletos, "ótimo ou bom". Em janeiro, 62% afirmavam confiar em Bolsonaro. A taxa caiu para 55% em fevereiro. Agora está em 49%. Um susto, para quem foi eleito com 55,1%... Bolsonaro, pela imprensa, dá de ombros para os números da pesquisa, mas as ações do Planalto demonstram não ser bem assim, o cenário entre os seus pares.

Para atenuar a crise de aceitação os seus "gurus" foram beber na mesma fonte que os conduziu ao poder. Os conceitos de Esteve Bannon - um dos coordenadores da campanha de Trump à presidência - descritos com maestria num livro difundido entre os progressistas interessados em saber "que tiro foi esse", disparado das urnas.

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Em "Guerras Híbridas", Andrew Koribko reúne as várias teorias dos estudiosos que fundamentam as ações de Bannon. Um desses conceitos, é o da "criação do caos", usada para derrubar os governos "incômodos". Por aqui esse caos é traduzido em twitters e episódios bombásticos, como a recente prisão do ex-presidente Michel (me recuso a chamá-lo diferente disto).

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"Talvez a inovação mais importante às guerras e a mais relevante para as guerras híbridas seja a teoria do caos", diz o autor, citando Esteve Mann, em sua tese sobre o "caos/construtivo/criativo". "Administrado, ocorre quando há uma tentativa de canalizar essas forças para fins estratégicos. As revoluções coloridas (sem o uso da força – o grifo é meu) encaixam como uma luva nesse princípio, fazendo delas mais eficazes do que as táticas para troca de regime mais antigos e tradicionais."

Em entrevista recente ao site "Tutaméia", o líder do MST, João Pedro Stédile, contou que fez uma comparação entre os números de telefone com Whatsapp nos estados, e concluiu que eles são em menor número no Nordeste, exatamente onde o candidato do PT, Fernando Haddad, foi mais votado. Stédile lembrou que os "robôs do Bannon enviavam 100 milhões de zaps por dia para esses celulares". E expôs sua percepção do eleitorado que despejou votos em um candidato sem "base social real".

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Na prática, o que Stédile aponta é a execução, na última eleição, das teorias descritas no livro "Guerras Híbridas", em que uma fonte financeira poderosa entra no país e banca um grupo de "lideranças espontâneas", desconhecidas, emergentes. Essa liderança começa a "formar" os "tenentes" influenciadores e, daí por diante esses "tenentes" saem a campo em busca de multiplicadores movidos pelas ideias advindas desse núcleo.

Para ele, a base de Bolsonaro é composta por militares e seus familiares, a outra turma seria a dos Chicago Boys", dos banqueiros e da turma do ministro Paulo Guedes. O restante, algo em torno de 20%, são os pentecostais - os evangélicos, que por seus valores conservadores ainda não abandonaram o barco. Porém, acredita o líder do MST, o farão em breve, quando sentirem no bolso os efeitos do próprio voto.

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