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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Os boatos, o jornalismo, a mamadeira e as bruxas

"Algumas lições são redundantes. Não caiam na tentação de criar e disseminar, à esquerda, as versões da mamadeira de piroca. Não ataquem as mulheres da extrema direita para atacar seus homens", escreve o jornalista Moisés Mendes

(Foto: Alan Santos/PR)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Sempre foi cansativo – porque interminável enquanto mutável e submetido às referências, aos interesses e valores do seu tempo – o debate sobre o que o jornalismo deve fazer com boatos e notícias sobre a vida privada de pessoas públicas.

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A premissa elementar seria esta: a vida privada de todas elas também é notícia, quando o fato tem relação com o poder que exercem, com o que fazem e pensam e como isso interfere na vida de todos. Inclusive no imaginário político criado em torno dos personagens envolvidos.

Antes, o dilema pode ser outro. O jornalismo deve noticiar o impacto de boatos pesados, sem comprovação de veracidade, às vezes devastadores, sobre a vida privada dessas pessoas públicas? Depende e esse é um imenso depende. Só não pode atuar como simples instrumento de reprodução dos boatos e dos objetivos que carregam.

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Sempre prevaleceu entre a maioria dos jornalistas, e mais ainda com a disseminação de ‘informações’ pelas redes sociais, que tais fatos precisam ser abordados. Mas só para que o jornalismo ajude a compreender e esclarecer o que está sendo propagado.

Se não fizer assim, se não informar para ajudar a desvendar, o jornalismo será apenas aliado do disseminador do boato. Não só o jornalismo da grande imprensa, que sempre se dedicou à propagação de fofocas, mas principalmente o novo jornalismo de resistência, que tenta sobreviver à margem e apesar do poder das corporações.

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O jornalismo tem a pretensão de perseguir todas as pistas que levem à verdade. É uma ambição grandiosa. Na direção contrária, estará se igualando a tudo o que condena. Se o jornalismo for um repetidor de fatos sem comprovação, estará buscando a própria morte, num contexto de crescente ameaça da irrelevância da informaç&atild e;o.

Se não conseguir se separar das pirocas das redes sociais, o jornalismo cometerá a contradição fatal. Pede que seja valorizado por seu profissionalismo e pela seriedade ao que faz e, ao mesmo tempo, contribui para patrocinar a dúvida ou a inverdade.

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Não significa a busca pelo conforto da falsa neutralidade. Não. O jornalismo só irá seguir em frente no mundo bolsonarista se tiver lado, se deixar claro o que defende e o que condena.

O jornalismo de combate só irá sobreviver se não for uma extensão ou um tambor das redes sociais. Mesmo assim, parte da esquerda tuiteira acredita que pode participar da luta contra a extrema direita com as mesmas táticas de Carluxo, metralhando boatos pelo Whats e pelo Twitter, na disputa pelos espaços das ignorâncias. Serão sempre brancaleones condenados a levar 7 a 1.

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O que a esquerda não fez, ao não investir em alternativas e apoiar a mídia progressista, como política de governo, durante quase década e meia no poder, não será compensado agora com o apoio aos guerrilheiros das tuitadas.

Os comandos das esquerdas desprezaram a construção de uma estrutura de comunicação progressista. Vieram o golpe contra Dilma e o encarceramento de Lula.

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Os espaços dessa batalha pela busca da verdade e pela reflexão fora do pacote conservador continuam em mutação. As grandes redações foram esvaziadas de jornalistas ‘esquerdistas’, desde o golpe, mais do que no tempo da ditadura.

Mas os boateiros de Twitter não podem ter a a pretensão de substituir os jornalistas. O tuiteiro pode ser um guerrilheiro e tentar atuar como jornalista, mas não é um jornalista. O novo jornalismo deve firmar posição fora desse pântano, sem ignorar que está perto dele.

Vejam Mercado de Notícias, o documentário de Jorge Furtado sobre jornalismo. As deformações estão todas ali. O boato miúdo disfarçado de informação sempre foi produto da imprensa.

Dizer, por exemplo, que Paulo Guedes está para cair pode ser apenas um boato. Os jornais vivem disso. Mas esse boato não mexe com a intimidade de Guedes.

Hoje, ficou pior, porque as redes competem com as grandes corporações especializadas em bobagens e entretenimento passados adiante como jornalismo.  

Algumas lições são redundantes. Não caiam na tentação de criar e disseminar, à esquerda, as versões da mamadeira de piroca. Não ataquem as mulheres da extrema direita para atacar seus homens.

Não brinquem de guerra híbrida. Nem se agarrem a argumentos da Idade Média para defender as mesmas táticas narrativas que atendiam às demandas da Inquisição e davam vida às bruxarias.

Sejam firmes, decididos, tenham lado e digam que lado é esse e não respondam aos ataques do fascismo com rosas e frases bonitas. Mas não imitem os inquisidores.

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