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Robson Sávio Reis Souza

Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos

159 artigos

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Os donos do mundo, os golpes e o que podemos fazer

"Não nos enganemos. Quem manda no mundo ultimamente são as corporações. Os governos são serviçais dos donos do capital", alerta o cientista político e colunista do 247 Robson Sávio; segundo ele, a visão distorcida pela mídia mostrando diuturnamente que a corrupção está associada exclusivamente a agentes políticos corruptos, incriminando o sistema político, é propositalmente falsa e manipuladora; "A corrupção generalizada praticada por grandes empresas e bancos, inclusive com sistemática sonegação de impostos, é estratégia utilizada para a maximização de lucros de forma criminosa"; "É hora dos movimentos sociais, sindicais e eclesiais olharem para a sociedade. É da sociedade que brotarão as forças capazes de liberarem os processos de mudanças estruturais", diz

"Não nos enganemos. Quem manda no mundo ultimamente são as corporações. Os governos são serviçais dos donos do capital", alerta o cientista político e colunista do 247 Robson Sávio; segundo ele, a visão distorcida pela mídia mostrando diuturnamente que a corrupção está associada exclusivamente a agentes políticos corruptos, incriminando o sistema político, é propositalmente falsa e manipuladora; "A corrupção generalizada praticada por grandes empresas e bancos, inclusive com sistemática sonegação de impostos, é estratégia utilizada para a maximização de lucros de forma criminosa"; "É hora dos movimentos sociais, sindicais e eclesiais olharem para a sociedade. É da sociedade que brotarão as forças capazes de liberarem os processos de mudanças estruturais", diz (Foto: Robson Sávio Reis Souza)
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Não nos enganemos. Quem manda no mundo ultimamente são as corporações. Os governos são serviçais dos donos do capital.

A partir da crise financeira de 2008 recrudesceu a concentração econômica planetária. Atualmente, 28 grandes grupos financeiros manejam quase dois trilhões de dólares por ano. O balanço desses megaconglomerados financeiros que tem, entre outros, o Goldman Sachs, o JP Morgan Chase, o Bank of America, o Citigroup, o Santander mostra um patrimônio (não produtivo) de 50 trilhões de dólares, sendo que o PIB mundial está na casa dos 75 trilhões. Esses conglomerados detém cerca de 68% do fluxo  mundial do capital.

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E como esses conglomerados controlam os governos, a economia, as políticas e as agências multilaterais? Dois exemplos: o orçamento da ONU no biênio 2014-2015 foi composto de 5,5 bilhões de dólares de doações dos estados membros e 14,1 bilhão de orçamentos extrais, leia-se doação de grandes grupos financeiros e empresariais. Quando o FMI, um órgão da ONU, por exemplo, é chamado para “socorrer” um país a fatura dessa “benemerência” é cobrada. É o mesmo processo que vicia a representação política, com o financiamento ou o caixa dois das campanhas eleitorais.

No plano das Nações, o controle do capital se dá não somente através desses organismos multilaterais como também através dos chamados “quadros técnicos” que compõem os governos dos países. Por exemplo, os ministros da Fazenda e/ou da Economia são, na atualidade, funcionários dos bancos; ou seja, são treinados no mundo das finanças. Dito de outra forma: lá estão para defender os interesses das corporações; nunca os interesses dos povos. Só um mal intencionado não percebe isso...

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Vejamos no Brasil: o atual ministro da Fazenda veio do Banco de Boston e o atual presidente do Banco Central é cria do Banco Itaú. Aliás, Henrique Meireles também trabalhou na JBS.  E é candidatíssimo da coalizão golpista para suceder Temer, o impostor, tão logo ele renuncie ou seja deposto.

Ademais, CEO’s de bancos estão em outros cargos estratégicos dos governos. Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, por exemplo, à época da crise de 2008 era executivo do Goldman Sachs. Ele conseguiu que o rombo provocado pela crise gerada pelo mercado imobiliário fosse transferido para os governos. Ou seja, fosse paga com dinheiro dos impostos dos contribuintes. Sob Trump, essa relação promíscua entre público e privado ainda é mais explícita.

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Esse sistema funciona graças à corrupção generalizada; um fenômeno internacional. Nada menos de 25% do PIB mundial são remetidos a paraísos fiscais por grandes empresas e instituições financeiras.  Estima-se que a cada ano 18 trilhões de dólares seguem o caminho da sonegação de impostos. No Brasil a estimativa de evasão fiscal entre 2003 e 2012 foi de 220 bilhões de dólares. E a turma do pato amarelo vive falando de carga tributária. Quanta desfaçatez!

Tudo isso para dizer que a corrupção é a mola propulsora do capitalismo rentista e concentrador de renda e riqueza que viceja nos últimos tempos. A concentração de poder em pouquíssimas empresas e a fusão ou compra de grandes bancos desencadeados pela crise de 2008 determina o modo de funcionamento de um sistema apodrecido e que precisa corromper governos (agentes públicos) para subsistir.

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Registramos, também, a política de criação de megaempresas brasileiras durante os governos petistas, a corroborar o adensamento do já histórico processo endêmico de corrupção que assola nosso país. Certamente, essa política agravou o quadro de corrupção no Brasil.

É assim que precisamos entender o atual momento político nacional. Portanto, a visão distorcida pela mídia mostrando diuturnamente que a corrupção está associada exclusivamente a agentes políticos corruptos, incriminando o sistema político, é propositalmente falsa e manipuladora. A corrupção generalizada praticada por grandes empresas e bancos, inclusive com sistemática sonegação de impostos, é estratégia utilizada para a maximização de lucros de forma criminosa.

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No caso brasileiro o escárnio beira o imponderável. Nas eleições de 2014, dez grandes grupos [bancos, empresas (empreiteiras e agronegócio) e fundos de investimento] gastaram 5 bilhões de reais e elegeram 70% do congresso nacional. Um congresso pra chamar de seu...

Esse grupo tocou o impeachment fajuto para implantar a pinguela para o passado de Temer: uma receita neoliberal que protege rentistas e destrói qualquer possibilidade de construção de um país minimamente justo.

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Mas, como foram com muita sede no pote, o remédio amargo estava levando o paciente ao óbito. E como golpe começou a correr riscos era preciso reação. Ou alguém acha que as organizações globo estão preocupadas com democracia, justiça e paz?

Aqui, entra o terror dos conglomerados financeiros nacionais nos últimos dias com o adensamento da resistência popular a exigir o resgate da democracia real; ou seja, exigirem que os cidadãos voltem a decidir que o estado deve mediar as relações entre capital e trabalho, a criar mecanismos de controle do fluxo de capitais, retomando o controle político e democrático sobre a economia; uma economia a serviço do povo e não de meia dúzia de abastados.

É dentro desse complexo quadro que é preciso entender a luta fratricida das elites político-financeiras, nesse momento histórico nacional, frente à resistência popular em crescimento,no atual estágio do golpe.

Temer já cumpriu o roteiro que lhe fora atribuído pelo capitalismo rentista: vendeu e/ou destruiu o patrimônio e as grandes empresas públicas e encaminhou as políticas restritivas de direitos a garantirem o orçamento público para pagamento da dívida pública aos rentistas credores. Agora, pode ser descartado.

A briga, neste momento,  é um golpe dentro do golpe:  colocar no lugar de Temer um “homem de confiança do mercado” , a ser apresentado à sociedade como probo e eficiente, criando condições para que o grupo no poder consiga implementar as  malfadadas reformas em curso, além de viabilizar um candidato palatável em 2018, tendo em vista a derrocada dos caciques tucanos.

Usando da velhaca estratégia de respeito à constituição (que não foi respeitada quando impicharam Dilma), a ideia da ampla coalizão golpista é insistir nas eleições indiretas, mas uma vez expurgando o povo, origem e fonte do poder nas democracias, das decisões.

Em uníssono tentarão vender a ideia que o país está no rumo do crescimento com as reformas temerosas.

Mas, esquecem que o povo já começa a perceber que desenvolvimento não é crescimento (econômico, concentrador de riqueza); que crescimento só é eticamente justo e aceitável se for com distribuição de renda, inclusão e justiça social.

Portanto, é preciso unirmos forças para, primeiramente, retomarmos a democracia, mesmo que de baixa intensidade, com eleição diretas para presidente. Na sequência, utilizar a potente energia viva das ruas para elegermos um novo Congresso que poderá ter condições de legitimidade para promover as mudanças estruturais, como uma profunda reforma de todo o sistema político, a mãe de outras reformas como a tributária, a de comunicação, a do judiciário, a da segurança pública, dentre outras.

É hora dos movimentos sociais, sindicais e eclesiais olharem para a sociedade. É da sociedade que brotarão as forças capazes de liberarem os processos de mudanças estruturais.


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Nota: os dados utilizados nesse texto são das seguintes fontes: DOWBOR, Ladislau, “El capitalismo cambió las reglas, la politica cambió de lugar”, Nueva Sociedad; CACCIA-BAVA, Silvio, “A corrupção e o impasse político”, encontro do Movimento Nacional de Fé e Política (maio 2017); Ministério das Relações Exteriores, “Temas orçamentários e administrativos da ONU”.

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