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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Os efeitos da lista da Odebrecht

A lista da Odebrecht também teve o condão de acalmar os histéricos líderes oposicionistas, que já não parecem tão furibundos nas críticas ao governo, certamente preocupados com a revelação de que também receberam repasses da empreiteira

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Tem muita coisa estranha acontecendo no Brasil em meio às atividades da badalada Operação Lava-Jato. Nos últimos dias pelo menos duas atitudes – do juiz Sergio Moro e do Ministério Público Federal – chamaram a atenção de quantos acompanham com interesse o desenrolar dos acontecimentos: primeiro, o magistrado do Paraná determinou o sigilo absoluto sobre a lista apreendida na 23ª fase da Lava-Jato, que contém os nomes de mais de 200 políticos de 24 partidos, oposicionistas e governistas, supostamente envolvidos no recebimento de repasses da Odebrechet: e, segundo, o MPF simplesmente recusou o oferecimento da empresa para fazer a delação premiada, quando se sabe que essa delação era a mais esperada da Lava-Jato. Pergunta-se, então, por que o juiz e o MPF adotaram agora atitudes completamente contrárias ao comportamento rotineiramente adotado desde o início da operação?

A resposta não parece muito difícil, se levar-se em conta o objetivo principal da operação, sutilmente disfarçado ao longo do tempo mas recentemente tornado bastante visível: a derrubada da presidenta Dilma Roussef e o banimento de Lula da vida pública. A lista e a delação, portanto, não servem aos propósitos da Lava-Jato porque não envolvem a Presidenta e nem o ex-presidente operário. Não fora isso e não haveria sigilo: a lista e a delação seriam manchetonas em todos os jornalões do eixo Rio-São Paulo e a notícia seria repetida a todo momento pela TV Globo.

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Cai, assim, a máscara de uma operação supostamente criada para combater a corrupção e que, na verdade, tem um objetivo político, perfeitamente afinado com a grande mídia e com a oposição: a conquista do poder. Conscientes da dificuldade de conquistá-lo pelo voto, nas urnas, os mentores do plano entenderam que a aliança entre a mídia e parte do Judiciário seria o melhor atalho para o Palácio do Planalto.

O plano, no entanto, começou a dar sinais de fracasso a partir do momento em que o juiz Sergio Moro, sem equilíbrio e maturidade para administrar a fama repentina, incensado pela mídia e aclamado nas manifestações do dia 13, imaginou-se dotado de superpoderes, cujas decisões seriam incontestáveis, e passou a atropelar a legislação e a própria Constituição para atingir a sua meta principal: prender Lula. E, após escorregar na ordem para conduzir coercitivamente o ex-presidente para depor, cometeu o erro maior: ousou grampear os telefones da própria Presidenta da República e autorizou a divulgação das suas conversas com Lula. O objetivo era indispor Dilma e Lula com o Supremo Tribunal Federal, o que em parte conseguiu, a julgar pelo indignado pronunciamento do ministro Celso de Mello. A reação contrária ao grampo, porém, inclusive dentro do próprio STF, frustrou as suas expectativas e dos seus aliados.

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Certamente esquecido de que havia um poder maior, daí o crescendo de suas atitudes ousadas – a ponto de escrever carta à imprensa pedindo para ouvir as "vozes das ruas" – Moro não contava com a presença no Supremo de ministros isentos, sérios, equilibrados e experientes como Teori Zavascki, que lhe deu um puxão de orelhas dentro das normas jurídicas, obrigando-o a descer das alturas e a colocar os pés no chão da realidade constitucional do país.

O mesmo puxão de orelhas, embora fora do contexto do Supremo, já lhe havia sido dado pelo ministro Marco Aurélio Mello que, em declarações à imprensa, disse que ele cometera um crime ao divulgar o conteúdo dos grampos. Se assimilou a lição, ele provavelmente terá a partir de agora um comportamento mais humilde, sem estrelismos, o que poderá contribuir para tornar a Operação Lava-Jato menos espetacular, sem os holofotes, e mais imparcial e prudente em suas investigações.

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A lista da Odebrecht, por outro lado, também teve o condão de acalmar os histéricos líderes oposicionistas, que já não parecem tão furibundos nas críticas ao governo, certamente preocupados com a revelação de que também receberam repasses da empreiteira. O raivoso líder da oposição, o senador Aécio Neves, habituado a classificar de "grave" qualquer coisa publicada contra o governo, baixou a bola depois da revelação de que possui até empresa sediada no exterior, junto com a irmã.

Eles continuam lutando pela derrubada de Dilma, com o processo do impeachment, mas agora mais discretos, sem os arroubos de antes, porque estão todos no mesmo barco dos corruptos, o que torna o movimento para afastar a Presidenta um absurdo, com a vergonhosa inversão dos valores: são os fichas-suja, sob o comando do mais sujo, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que querem defenestrar do Planalto uma pessoa legitimamente eleita pelo povo e sem nenhuma mácula. Até a imprensa estrangeira está espantada com isso.

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A julgar pelos últimos acontecimentos, tudo leva a crer que os mentores do projeto de assalto ao poder, frustrados diante dos rumos tomados pela Operação Lava-Jato após a firme decisão do ministro Zavascki, decidiram investir todas as fichas no impeachment, mesmo com a característica de golpe à falta de crime de responsabilidade, com a cumplicidade do vice-presidente Michel Temer, que vislumbrou a possibilidade de ocupar a Presidência da República sem precisar submeter-se ao voto popular.

Já há algum tempo participando abertamente da conspiração, com atitudes que evidenciaram o seu comportamento oposicionista, Temer articulou a saída do partido que preside, o PMDB, da base aliada, justamente para assegurar o golpe, pois sem os votos peemedebistas será muito difícil a Dilma evitar a aprovação do impeachment. E Temer está tão confiante no sucesso da sua empreitada que já elabora até plano de governo, com um corte nos programas sociais da presidenta Dilma.

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A surpresa em toda essa movimentação não foi, porém, a traição de Temer, mas a posição da Ordem dos Advogados do Brasil, manifestando-se favorável ao golpe, o que provocou uma cisão nos seus quadros. O juiz federal licenciado e governador do Maranhão, Flavio Dino, a propósito, disse:"Andamos mal quando até a OAB resolve usar delação sem provas". A entidade, que sempre se destacou como uma das guardiães da Carta Magna, de repente manchou a sua história com essa atitude golpista, ombreando-se a figuras como Eduardo Cunha e outros.

Parece que um estranho vírus golpista vem grassando, como verdadeira epidemia, contaminando inclusive entidades e pessoas que, no passado, se notabilizaram por atitudes constitucionais e patrióticas, como, por exemplo, Fernando Gabeira, que chegou a ser preso pela ditadura, assim como Dilma e Lula, exilando-se depois no exterior após trocado pelo embaixador americano junto com outros presos. Esse vírus, portanto, deve ser o responsável pelas coisas muito estranhas que vem acontecendo no país. Mas existe uma vacina contra ele: o Supremo Tribunal Federal.

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