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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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Os golpistas de 1964 eram mais competentes

Sob todos os aspectos, principalmente no campo intelectual, os organizadores da derrubada da presidente Dilma são medíocres, quando comparados aos golpistas correlatos que conspiraram contra o presidente João Goulart

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Estou tentando entender o atual momento político brasileiro, buscando respostas através do retrovisor. Passo horas assistindo depoimentos e entrevistas com personagens que fizeram parte do golpe militar de 1964, tomando o cuidado de não me deixar contaminar pelas convicções que formei a respeito da ditadura. Jamais poderia compreender o papel destinado ao general Newton Cruz, por exemplo, se fosse levado por um sentimento revanchista. Não me interessa mais se ele foi ou não responsável pela morte do jornalista Alexandre Von Baumgarten, ou conivente com o atentado a bomba no Riocentro.

Minha pesquisa é comparativa. Procurei estabelecer paralelos entre os protagonistas da ruptura institucional de 1964, com aqueles que, hoje, estão patrocinando um novo golpe, mesmo sem a participação direta dos militares. Pelo menos, por enquanto.

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E confesso que fiquei estarrecido com o resultado desse cruzamento. Sob todos os aspectos, principalmente no campo intelectual, os organizadores da derrubada da presidente Dilma são medíocres, quando comparados aos golpistas correlatos que conspiraram contra o presidente João Goulart.

Não por acaso comecei este estudo pelo general Newton Cruz. Sua truculência e arrogância em muito se assemelha ao comportamento do deputado federal Jair Bolsonaro. As semelhanças acabam aí. Newton Cruz abraçou as Forças Armadas por ofício e vocação. Sempre foi militar. Já Bolsonaro, que não teve paciência ou competência para galgar postos mais elevados na hierarquia do Exército, migrou para a política. Está fora dos quartéis há quase duas décadas, e sabe que, hierarquicamente, sua patente de capitão não o credencia como interlocutor de generais, almirantes e brigadeiros.

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O exército de Bolsonaro cabe dentro de sua boca. É dali que sai seu discurso nacionalista ultrapassado, raivoso e sem eco em nenhum lugar do mundo civilizado. Sua trincheira é a Internet, distribuindo memes ridículos, editados sempre que alguma fanfarronice lhe vem à cabeça. No pior dos cenários para o Brasil, ou seja, uma ditadura militar, Jair Bolsonaro seria um dos primeiros políticos cassados. Seus arroubos não encontrariam eco no Estado Maior das Forças Armadas, que rapidamente se livraria dele.

Em outubro de 1960, o banqueiro José de Magalhães Pinto torna-se governador do estado de Minas Gerais. Homem poderoso e ambicioso, foi o principal articulador civil da conspiração que derrubou João Goulart. Nutria o desejo de se tornar presidente da República, mesmo que isso custasse ao país alguns anos de repressão e cerceamento das liberdades democráticas. Mas logo entenderia que o comando do país se alternaria tão somente entre os homens de verde-oliva. Se acomodou no cargo de Ministro das Relações Exteriores.

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Magalhães Pinto esteve tão ligado à ditadura, que até foi um dos subscritores do terrível Ato Institucional Número 5, que dava poderes aos militares para cassar mandatos, fechar sindicatos e partidos, intervir nos estados e municípios, entre outros atos de força. Posteriormente trocou cargos no Poder Executivo por mandatos legislativos, sempre defendendo a ditadura que ajudou a construir.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não simpatiza com ditaduras militares. Mesmo assim, seu nome é o que aparece mais cristalinamente nesta análise comparativa. Nem mesmo Aécio Neves representa, com tanta similitude, Magalhães Pinto. Embora mineiros, falta ao neto de Tancredo Neves inteligência e discrição, requisitos fundamentais ao bom conspirador.

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Alckmin, ao contrário de Aécio, transita com desenvoltura nos subterrâneos do poder. Sua linha de atuação não é na porta dos quartéis. Seu exército é outro. Que digam os vários prefeitos do interior de São Paulo, de partidos de oposição ao PSDB, perseguidos implacavelmente por operações do Ministério Público estadual. O caso mais notório ocorreu em Campinas, na gestão do então prefeito Hélio de Oliveira Santos, cujo mandato foi cassado numa ação envolvendo a imprensa local e o legislativo campineiro.

Campinas é o berço do instituto da delação premiada no Brasil. Foi lá que a Justiça concedeu, pela primeira vez, o benefício a um delator chamado Luiz Aquino, ex-presidente da companhia de saneamento municipal, Sanasa. O executivo, flagrado num esquema de superfaturamento de contratos, não perdeu a oportunidade de se livrar da cadeia, em troca de colocar na linha de fogo a mulher do prefeito, a quem acusou de ser "chefe da quadrilha". Estava aí o ponto de partida para a engenharia do maior golpe político já ocorrido na segunda maior cidade do estado de São Paulo.

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Ao contrário das investigações da Operação Lava Jato, a delação premiada concedida ao Aquino não exigia qualquer contrapartida documental que corroborasse com as denúncias que fazia. Coube ao promotor do caso buscar as "provas necessárias", esforço inútil, uma vez que nenhum crime fora cometido pela mulher do prefeito. A saída foi promover toda sorte de denuncismo, para gerar matérias impressas em jornais. A imprensa oficial, como sempre, publicou todas as pautas vindas do MP, sem checar a veracidade das informações. Toda propriedade rural é obrigada a possuir um CNPJ. Mas essa obrigação legal foi tratada pelo promotor como "suspeita de existência de empresa de fachada". E tome manchetes sobre o assunto, que posteriormente foram anexadas aos autos como peças comprobatórias da delação de Aquino. Bizarro.

O Ministério Público de Campinas não encontrou com a mulher do prefeito nenhum centavo de dinheiro de corrupção. Contas no exterior, não tem. Evolução patrimonial incompatível com os rendimentos da família? também não. E, mesmo assim, a Justiça de Campinas condenou a mulher do prefeito a mais de 20 anos de prisão.

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Enquanto isso, provas que incriminam diretamente o governo de São Paulo, no escândalo da merenda escolar, são destruídas. Documentos importantes para desvendar as relações promíscuas do governo com empresas multinacionais ganham status de sigilosos, ou seja, o pau que dá em Chico não dá em Francisco, em se tratando de investigações de escândalos envolvendo o PSDB de Geraldo Alckmin.

Muitas outras comparações surgiram no decorrer deste estudo, e serão publicadas em breve. Mas desde já fica claro que, com os atuais personagens do golpe que está em marcha para derrubar a presidente Dilma, resta-nos uma notícia boa e outra ruim. A boa é que, se depender das fanfarronices do Bolsonaro, as Forças Armadas continuarão exercendo seu papel constitucional. Agora, com relação ao Alckmin, é bom que a oposição se prepare para enfrentar os ataques justicialistas, que os tucanos orquestram para tirar os desafetos do caminho do poder, que desejam a qualquer preço. Isso é o pior tipo de golpe contra uma democracia.

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