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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Os nazistas e o garoto do pão

"Meus caros, nazismo é nazismo. É crime! Liberdade de expressão é outra coisa. A liberdade de expressão não contempla o direito de se defender o indefensável"

Adrilles, Kataguiri e Monark (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil e Divulgação)
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Das frases que surgem nas redes sociais, uma das minhas favoritas é: “no Brasil não se tem um dia de paz”. Explico: no período de duas semanas, dois homens negros foram mortos, enquanto outro foi mandado para o presídio, considerado “armado e perigoso”, por portar um saco de pão. Segundo o delegado, o rapaz, preso após comprar pão “estava na hora errada e no lugar errado”. Não disse a douta autoridade, no entanto, qual a melhor hora e local para uma pessoa negra, moradora da comunidade do Jacarezinho, sair pra comprar pão, uma vez que há três semanas a Polícia Militar ocupa o local.

O rapaz de 21 anos ficou preso por dois dias e, apesar das evidências de que é inocente, terá que comparecer mensalmente à justiça e não poderá sair da cidade sem a devida autorização judicial. Percebam, caros leitores e leitoras, como é fácil destruir a vida de um garoto negro na nação que se diz acima de tudo e que tem Deus acima de todos. Por outro lado, se você defende o nazismo, mas não mora no Jacarezinho e não compra pão, rapidamente aparecerá alguém “passando pano” para você, “pobre jovem induzido ao erro”. 

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Falando nisso, não é que durante a semana um idiota útil defendeu o nazismo em um podcast que tem milhares de seguidores e é bancado por inúmeros patrocinadores! Para surpresa de ninguém, não é a primeira vez que o tal do “cidadão de bem” vomita absurdos do tipo sem que nada, absolutamente nada, lhe tenha acontecido. O sujeito, no entanto, extrapolou todos os limites do aceitável, pois, ao defender o nazismo cometeu um dos crimes mais hediondos que se poderia imaginar. Nazismo é crime. Apologia ao nazismo é crime. Logo, não há meio-termo. Não há nada que se possa relevar. É crime! No Brasil, no entanto, existem crimes e existem crimes. Aí está a história do garoto do Jacarezinho a confirmar o que aqui se diz.

Se por um lado a apologia ao nazismo é uma coisa abominável, não menos medonho têm sido as grotescas tentativas de abrigar o execrável sob o manto da liberdade de expressão. Meus caros, nazismo é nazismo. É crime! Liberdade de expressão é outra coisa.  A liberdade de expressão não contempla, em momento algum, o direito de se defender o indefensável. Assim, insistir na falácia de que é direito de fulano ou sicrano defender nazismo e fascismo é agir de má fé, é ir contra as leis e normas elementares da civilização. É, em outros termos, atentar contra a essência da própria vida. É abrir as portas da sua casa para o “Cavalo de Troia” da barbárie. Não é assim que se matam serpentes. Ou a história não nos ensinou nada? 

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Eis que enquanto a PGR divulgava que investigaria o tal do podcaster, eis que outro extremista, ao vivo, se despedia de uma entrevista com a famosa mão erguida, a saudação nazista “Sieg Heil”, usada na Alemanha de Hitler. Liberdade de expressão? Não. Crime! Quando confrontados e postos contra a parede, neonazistas, fascistas e demais bichos escrotos; covardes que são, costumam usar em suas defesas argumentos pífios como: “fui mal interpretado”, “bebemos leite porque gostamos”, “minha fala foi tirada de contexto”, “estava apenas ajeitando a lapela”, “estava muito bêbado” e “era apenas um tchauzinho”. Sobre isso, lembremos que o “tchau deturpado” já era. Mas ainda falta o “tchau, deputado”. No entanto, convém não criarmos expectativas. Vai que o deputado em questão tenha aquele apoio político do qual falou certo ministro dia desses. A política brasileira é assim, uma “caixinha de surpresas” pra lá de previsível.

Para quem acompanha o desenrolar dos acontecimentos, discursos e gestos como os que estamos vendo são exemplos do chamado “dog whistle” (apito de cachorro). Ou seja, são sinais e chamados endereçados a determinados grupos que, diferentemente do cidadão comum, sabem muito bem o que significam, o que querem dizer. E é assim que a matilha é atiçada. 

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Não é de hoje que esse tipo de crime vem sendo cometido no Brasil, muitas vezes por apoiadores e até mesmo por membros do governo que aí está, haja vista o caso daquele ex-secretário nacional da cultura e seu discurso medonho recheado de referências a outro discurso proferido por Joseph Goebbels, um dos idealizadores do nazismo. Se o antissemita Goebbels dizia que a “arte alemã da próxima década seria heróica e imperativa”, o tal do secretário, por sua vez, disse que a “arte brasileira da próxima década seria heróica e imperativa”. Coincidência? Alguém foi julgado, condenado e preso? Claro que não, pois perigoso mesmo é ser negro, e sair pra comprar pão. 

Os nazistas de bicicleta, bem como aqueles que concordam com suas ideias e posicionamentos extremistas, sejam eles comunicadores idiotas e parlamentares não menos (quem não se lembra da história “se tem dez nazistas à mesa...”), empurram o Brasil para um caminho muito perigoso. Assim, se a Justiça brasileira continuar fazendo cara de paisagem e andando a passos de lesma, amanhã poderá ser tarde demais. . Os sinais estão aí. E nada disso tem a ver com liberdade de expressão. É crime que chama. Logo, é necessário dar nome ao crime e colocar os criminosos na cadeia.  Nas mesmas cadeias abarrotadas sempre de pretos e pobres.

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Mas não sejamos ingênuos de acreditar que toda essa estratégia nazifascista em curso por aqui venha sendo gestada por essa gente, que não consegue nem somar dois e dois. Movimentos assim costumam ser hierárquicos, ou seja, há um cérebro. Os “nazistinhas” que estão dando a cara a tapa são apenas “nazistinhas” muito bem pagos pra dar a cara a tapa. São “peixes pequenos”, “buchas de canhão”, idiotas úteis que, enquanto distraem o público, a “Hidra de Lerna” avança. Se nada for feito, vamos começar achar que ser nazista pode, só não pode sair pra comprar pão. 

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