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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Os onze odiados

O linguista Gustavo Conde, membro dos Jornalistas Pela Democracia, afirma que o STF adentrou o terreno perigoso da falta absoluta de credibilidade e que, como no filme de Tarantino (Os Oito Odiados), a teatralidade da corte pode levar a uma onda ainda mais profunda de violência pelo país; para Conde "nenhum brasileiro reconhece mais absolutamente nada no front subjetivo daqueles ministros. Nem os democratas, nem os extremistas, nem os fundamentalistas"

Os onze odiados
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Temer hesitou em assinar o indulto de natal. Poderia ter sido a primeira vez em que o decreto ficaria a ver navios, desde a redemocratização.

A motivação da hesitação - habitual em se tratando de Temer - teria sido em função do possível e provável novo entendimento sobre o tema que o STF levará à pauta em breve.

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Já deu para perceber o que vai acontecer com o nosso sistema carcerário, não é? Sistema esse, aliás, que já o pior e mais violento do mundo.

Destaque para o STF. Uma corte de papel, que potencializa o que que de pior pode existir em termos da política fundamentalista que se apoderou do país.

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Jamais o mundo viu uma corte tão acuada, ressentida, destituída de "notório conhecimento" jurídico e, assumidamente, violenta (pois promove a violência se omitindo diante dos complexos desafios do setor que o país enseja).

O que pode fazer fritar os neurônios de esquerda e direita é: ora, ora, ora. Não foi o PT que nomeou 8 daqueles 11 ministros?

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Ou: se foi o PT, é por isso que aquela corte é tão precarizada?

Calma. Calma que o argumento é manso.

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Trata-se de uma armadilha retórica deste humilde linguista. O dia em que eu colocar a culpa no PT por alguma coisa, podem mandar me internar. Eu não sou esse tipo de ser rastejante (segundo Platão, eu seria um bípede - implume).

A questão é estrutural e simbólica.

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Lula e Dilma indicaram nomes para o STF de maneira republicana, sem favores (o que foi um erro, a se considerar a moral mesquinha de alguns intelectuais da USP, que costumavam dizer que Dilma "não teve jogo de cintura").

Essa nomeação sem favores é que destoou da tradição quase nepotista do regime de nomeações do STF.

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O PT "desorganizou" o STF, levando para lá quadros por mérito biográfico e técnico. Isso melindrou aquela estrutura viciada e apodrecida.

A minha tese, nesse sentido, é a de que os nomeados não levaram qualidade técnica para a corte, mas o contrário: eles foram contaminados pela obscenidade ali presente desde o golpe de 64 e desde muito antes.

Há de se admitir o seguinte: o sujeito (no caso, o magistrado) não é um ser impregnado de coerência a priori. Ele é como todos os sujeitos de uma sociedade: "poroso".

Esse é um axioma já velho, tanto da psicanálise quanto da análise do discurso francesa.

Nenhum brasileiro reconhece mais absolutamente nada no front subjetivo daqueles ministros. Nem os democratas, nem os extremistas, nem os fundamentalistas.

É nessa linha de raciocínio que Eduardo Bolsonaro, um de nossos próceres da Nova República Velha (e Arcaica), afirmou que, para fechar o STF, bastaria "um soldado e um cabo".

Hoje, há sérias divergências se, de fato, haveria necessidade de um cabo, tal é o estado de 'descredibilidade' em que vive aquela corte, o que é honestamente lamentável.

Os nomeados por Lula e Dilma, portanto, foram vítimas de si mesmos. Não tinham estrutura para suportar as pressões arcaizantes que dominavam a sistêmica de uma corte que é secular em sua petrificação amoral.

Como no filme de Tarantino (Os Oito Odiados), em que oito bandidos fingem ser quem não são e se lançam a uma pistolagem épica e sanguinária, os onze odiados do nosso supremo escárnio jurídico bailam a céu aberto, desfilando a mais grotescas contradições que a boçalidade teve a infelicidade de produzir.

Não é surpresa que o único ministro a travar algum tipo de conexão consistente com a realidade residual do país é Marco Aurélio Mello, designado para aquele tribunal por seu primo, Fernando Collor de Mello.

Marco Aurélio preservou algumas cifras de dignidade e construiu sua independência intelectual ao logo de mais de 30 anos.

Os sete odiados "do PT" (Rosa Weber, Antonio Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux), ao mergulharem no ódio à força política que se ali os depositou, entraram em estado de catatonia técnica, pragmática e moral, numa dança inédita entre desidentificação política e mimetização sistêmica.

A maior vergonha do brasileiro hoje que se olha no espelho e insiste em aceitar que ainda existe um país que lhe empresta a ancestralidade, é saber que aquilo que se chama de mais alta corte da república é, na verdade, a mais baixa reunião de desgarrados do tempo e do espaço.

Eles colocaram os favores e os medos acima da Constituição e do Homem. E a vitaliciedade de suas posições fazem com que o nosso apodrecimento enquanto nação mergulhe em um estado agônico e paralisante.

Nunca, a democracia básica foi tão necessária.

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