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Cynara Menezes

Baiana de Ipiaú, formou-se em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e já percorreu as redações de vários veículos de imprensa, como Jornal da Bahia, Jornal de Brasília, Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip, Carta Capital e Caros Amigos. Editora do site Socialista Morena. Autora dos livros Zen Socialismo, O Que É Ser Arquiteto e O Que É Ser Geógrafo

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Os pobres precisam contrair coronavírus para ter acesso a hospitais decentes?

"Equipados e limpos, hospitais de campanha contrastam com as imagens cotidianas de pacientes deitados nos corredores do SUS", alerta Cynara Menezes, do Jornalistas pela Democracia

Hospital de campanha (Foto: Secom)
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Por Cynara Menezes, no Socialista Morena e para o Jornalistas pela Democracia

O governo do Rio de Janeiro inaugurou no sábado, 25 de abril, o primeiro dos 9 hospitais de campanha que irão receber pacientes com coronavírus no Estado. O hospital Lagoa-Barra, erguido em 19 dias num terreno no Leblon, Zona Sul da capital, oferecerá 200 leitos (100 deles de UTI) e será operado pela iniciativa privada (Rede D’Or). Inicialmente, serão abertos 30 leitos, sendo 10 de UTI.

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O hospital conta com tomografia digital, radiologia convencional, aparelhos de ultrassom e ecocardiograma e laboratório de patologia clínica. Outros 8 hospitais de campanha e um modular estão previstos, colocando à disposição da população 1,8 mil leitos na região metropolitana e  no interior fluminense. O próximo a ser inaugurado deverá ser o do Maracanã, com 400 leitos, 80 deles de UTI.

São Paulo, o Estado com maior número de infectados pelo coronavírus, já conta com dois hospitais de campanha na capital, instalados no Anhembi e no Pacaembu, e haverá um terceiro no Ibirapuera a partir de 1º de maio. Todos os leitos receberão oxigênio através de uma rede de distribuição e contam com raios-x móvel, eletrocardiógrafo e tomografia computadorizada. No interior foram montados hospitais de campanha em pelo menos 7 cidades.

No Pará, serão entregues quatro hospitais de campanha, em Belém, Marabá, Santarém e Marajó, disponibilizando 720 leitos exclusivamente para atendimento do Covid-19.

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Em Águas Lindas (GO), o governo federal concluiu em 15 dias um hospital de campanha que contará com 200 leitos adaptáveis para unidades de tratamento semi-intensivas, com tubulação e suporte para respiradores. O segundo hospital de campanha federal será inaugurado em Manaus, no Amazonas, um dos mais críticos em relação à pandemia.

Ao ver as imagens destes hospitais de campanha, com equipamentos novinhos em folha e inteiramente limpos e organizados, sentimos ao mesmo tempo esperança de que iremos derrotar a pandemia e tristeza por ver que os pobres brasileiros precisam contrair coronavírus para ter acesso a um atendimento de saúde decente. Enquanto isso, os portadores de tuberculose, doenças cardiovasculares, insuficiência renal, diabetes e outras doenças continuarão penando em filas ou deitados no corredor?

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O tempo recorde com que estes hospitais estão sendo inaugurados, ainda que sejam estruturas provisórias, também faz a gente pensar: será que não poderíamos ter hospitais públicos melhores em tempos não emergenciais como agora, hospitais “padrão FIFA”, como dizem os que adoram detonar o SUS? A impressão que se tem é que sim, poderíamos ter. O que falta é vontade política.

Uma das principais razões pelas quais a Alemanha pôde enfrentar bem o coronavírus em relação a outros países da Europa é a alta taxa de leitos por habitantes, uma das maiores do mundo. Enquanto os brasileiros contam com 1,9 leitos para cada mil habitantes, os alemães contam com 8 leitos por mil habitantes. Segundo a AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), seriam necessários pelo menos mais 3200 leitos em UTIs no país para suprir as necessidades da pandemia.

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Para a OMS, a relação ideal seria de 1 a 3 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes. Hoje, o SUS tem 1 leito de UTI para cada 10 mil habitantes, mas 95% deles estão ocupados. Na rede particular, de acordo com a AMIB, a relação é de 4 leitos para cada 10 mil habitantes e a ocupação média é de 80%. Faltam leitos e faltam profissionais: desde que Bolsonaro insultou os cubanos, fazendo o governo da ilha retirá-los do país, o Brasil tem 8 mil médicos menos do que na época da presidenta Dilma Rousseff.

Um dos Estados que melhor tem enfrentado a pandemia até agora é a Bahia, onde o governador Rui Costa (PT) fez investimentos raros em saúde pública: entre 2015 e 2019 foram construídos sete novos hospitais e 16 policlínicas. O resultado é que o índice de letalidade entre os baianos é baixo comparado a Estados mais ricos e menos populosos da federação. Até agora, 83 pessoas morreram na Bahia, contra 77 do Paraná, por exemplo, mais rico e com a população menor. O Ceará, aliás também governado por um petista, Camilo Santana, tem 390 mortos por coronavírus e 2 milhões de habitantes a menos . O Amazonas, com uma população quase quatro vezes menor que a Bahia, tem 320 vítimas fatais da doença. Tudo muda quando a saúde é colocada como prioridade.

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Depois que essa pandemia passar, uma nova era deveria começar na saúde pública brasileira. Não é possível que, após derrotarmos o coronavírus com tecnologia e instalações adequadas, continuemos a ter os hospitais sucateados de sempre. Será que nem uma doença como essa será capaz de mudar a mentalidade dos políticos brasileiros em relação à saúde pública?

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