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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Os que fogem e os que lutam

"As fezes fétidas do fascismo, ejetadas pelo golpismo e o antipetismo, já bateram com força no ventilador da democracia brasileira. E a maioria das lideranças supostamente democráticas já está correndo da raia, como baratas ante inseticida", avalia o sociólogo e colunista do 247 Marcelo Zero; "Mais cedo ou mais tarde, a virada virá. Cobrirá de vergonha os que forem omissos e complacentes e honrará os que lutarem contra o ódio e pela democracia. Ainda há tempo para que todos os democratas sejam absolvidos no Nuremberg da História"

Os que fogem e os que lutam
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No famoso filme Scent of a Woman (Perfume de Mulher), há um magnífico discurso, feito pelo ator Al Pacino.

Seu personagem, um coronel aposentado, tece uma defesa apaixonada de um aluno, seu protegido, que se recusa a dedurar seus colegas, mesmo sabendo que deverá ser expulso, caso não se renda às pressões de um diretor ressentido, como outros fizeram.

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Lá pelas tantas, ele diz: Well, gentlemen, when the shit hits the fan, some guys stay and some guys run (algo como “bem, senhores, quando a coisa pega, alguns ficam e lutam e outros correm” ou, mais literalmente, quando a “bos@ bate no ventilador, alguns ficam e resistem, mas outros fogem”).

Pois bem, as fezes fétidas do fascismo, ejetadas pelo golpismo e o antipetismo, já bateram com força no ventilador da democracia brasileira.

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E a maioria das lideranças supostamente democráticas já está correndo da raia, como baratas ante inseticida.

Alguns declararam sem pudor algum o seu apoio à pior aberração que a política brasileira produziu. Decisão que, é claro, não tem nenhuma relação com a busca das migalhas políticas e cargos que as forças fascistas poderão distribuir a quem a eles se curvar. 

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Outros, mais dissimulados e discretos, manifestaram sua “neutralidade”, ou suposta neutralidade, ante a ameaça da morte da democracia tupiniquim. Decisão ponderada e muito corajosa.

Há até alguns que, em meio à pior crise do Brasil, resolveram sair a flanar pela civilizadas e democráticas ruas europeias. Decisão bastante cômoda, ditada, evidentemente, por oportunos conselhos médicos, não por alguma frustração ou ressentimento ocasionados pelos resultados do primeiro turno.

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As instituições, por seu turno, fazem “cara de paisagem” e fingem que está tudo bem, tudo dentro da mais absoluta normalidade. O que há é apenas um “movimento”, como o ocorrido em 1964. Nada demais.

Já a grande mídia explica candidamente à população que o PT, que fez um governo absolutamente republicano e de tinte socialdemocrata, é a mesma coisa “extremada” que o fascismo bolsonarista, o qual quer promover “avanços democráticos”, como tortura, assassinato de opositores, racismo, misoginia, homofobia e extinção de direitos trabalhistas e previdenciários. Sem olvidar da nova política social de distribuição de capim para nordestinos e negros e da inovadora e progressista política educacional, que vai queimar todo o mundo que gosta de Paulo Freire com um lança-chamas.

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Em certos casos, setores dessa mídia afirmam até que “qualquer coisa é melhor que o PT”, pois, afinal, o PT foi culpado por tirar 32 milhões de pessoas da miséria e o Brasil do Mapa da Fome. Crime imperdoável, que claramente afronta o DNA escravagista e autoritário da nossa sociedade profundamente desigual. Afinal, nossas honradas tradições precisam ser restauradas.

Quem realmente ficou para resistir e lutar pela democracia e a civilização, quem decidiu enfrentar a barbárie anunciada, foram o PT e alguns aliados, como o PSOL, o PC do B, etc. Há também algumas parcas e solitárias adesões de setores do centro.

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Assim, o Brasil de hoje repete a República de Weimar como farsa. Lá, as forças democráticas tradicionais resolveram formar um gabinete com Hitler por medo ao comunismo. Foram liquidadas sem dó. Aqui, aderem ao tosco fascismo bolsonarista em nome de um antipetismo totalmente equivocado, sustentado com base em fake news, fake dados e até em fake julgamentos.

O PT nunca chegou nem perto do comunismo, sequer chegou perto do bolivarianismo, que é uma experiência histórica muito diferente da brasileira. A experiência petista jamais se desviou, mutatis mutandis, dos mesmos princípios e das mesmas políticas básicas que constituíram o êxito da socialdemocracia europeia do pós-guerra.

O PT tratou de construir um capitalismo minimamente civilizado nessas terras tropicais tão desiguais. Quis alegrar estes tristes trópicos. Está sendo perseguido por isto. A corrupção, que era muito pior antes do PT, é mera desculpa neoudenista para a restauração da selvageria.

De qualquer forma, na República de Weimar ou no Brasil de hoje, como tragédia ou como farsa, o resultado será o mesmo: as forças democráticas ou pretensamente democráticas serão engolidas pelo fascismo em ascensão, caso a ele se curvem.

Tal fascismo já toma conta das ruas do Brasil. Eles estão cada vez mais empoderados e violentos. Os ataques estão se multiplicando de forma assustadora. Falta pouco para uma kristallnacht.  

Infelizmente, não se fazem mais lideranças democráticas como antigamente. Alguém imaginaria Mario Covas se omitindo ante Bolsonaro? Alguém conceberia Ulisses Guimarães declarando neutralidade ante tal ameaça à democracia? Alguém imaginaria Brizola indo passear na Europa em circunstâncias tão dramáticas?  Claro que não.

Caímos muito baixo, dado o golpismo, o antipetismo, o antiesquerdismo e, não se esqueçam, do anti-intelectualismo que grassam no Brasil pós-golpe.

Somos hoje uma semidemocracia rumando celeremente para uma ditadura híbrida, uma mescla confusa de judicialização da política com militarismo, secundada pelas hordas anencéfalas das novas SA, que trocaram o marrom pelo “amarelo CBF”.   

Mas há esperança. Restam aqueles que não fogem, que resistem, que não têm medo. Restam os que têm clareza sobre o que acontece no Brasil. Restam os que têm compromisso real com o país e sua democracia. Restam os verdadeiramente civilizados.

Restam, recordando Shakespeare, we few, we happy few, we band of brothers. O bando de irmãos e irmãs que se especializaram em vencer batalhas aparentemente perdidas.

Restam os que não temem errar, pois sabem que estão do lado certo da História.

Restam os que ficam do lado do povo. Restam os que falam por quem não pode falar. Restam os que lutam por todos os que não podem lutar.

Restam os que têm vergonha na cara.

Resta, também, e sobretudo, o povo do Brasil, que não será enganado por muito tempo pelas artimanhas sujas dos fascistas, que agora se fingem de bonzinhos, como Hitler fez em 1932.

E, numa cela em Curitiba, resta a chama da justiça que nunca se extinguirá.

Mais cedo ou mais tarde, a virada virá. Cobrirá de vergonha os que forem omissos e complacentes e honrará os que lutarem contra o ódio e pela democracia.

Ainda há tempo para que todos os democratas sejam absolvidos no Nuremberg da História.

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