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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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Os tuítes da manipulação e do autoritarismo

"Nunca vi, em 40 anos de acompanhamento de política e poder no Brasil, uma autoridade da Repúbica subscrever um texto mais desonesto e manipulador do que a sequência de tuítes publicados ontem à noite por Jair Bolsonaro", escreve Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia, que segue: "os tuítes de Bolsonaro configuram mais uma ameaça"

Jair Bolsonaro utilizando o celular (Foto: Reprodução/Twitter)
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Por Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia

Nunca vi, em 40 anos de acompanhamento de política e poder no Brasil, uma autoridade da Repúbica subscrever um texto mais desonesto e manipulador do que a sequência de tuítes publicados ontem à noite por Jair Bolsonaro. Já vi textos tão ou mais autoritários, as Ordens do Dia do Exército no tempo da ditadura. Mas eram claros, sem ambiguidades, logo, mais honestos.

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Os tuítes de Bolsonaro configuram mais uma ameaça, não qualquer esforço para reduzir a tensão política que ele alimenta ao insurgir-se contra a aplicação da lei a apoiadores e aliados que atentam contra a democracia e a Constituição. E também contra a imposição dos limites de poder que ele seguidamente ultrapassa. Resta saber se a nova ameaça faz parte da recorrente retórica de intimidação das instituições ou se apontam para alguma reação concreta, golpista.


Hoje, pela manhã, ele disse que "está chegando a hora de tudo ser colocado em seu lugar". Se está chegando a hora, logo saberemos o que isso significa.

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Já no STF, os ministros Alexandre de Morais e Roberto Barroso aproveitaram o julgamento das ações contra o inquérito das fake news, agora pela manhã, para reafirmar a disposição da corte de fazer valer a lei contra as ameaças e também contra as falácias.


Morais lembrou pregações do tipo  "que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF”, dita por uma advogada, e mensagens enviadas as ministros dizendo que seriam fuzilados em praça pública.  "Onde está a liberdade de expressão? Liberdade de expressão não é liberdade de agressão", disse ele.

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Barroso foi na mesma linha, contra a confusão propositada entre liberdade de expressão e deliquência política: "A democracia não abre espaço para a violência, ameaças e discursos de ódio"
Examinemos, uma por uma, as afirmações contidas nos tuítes da manipulação e do autoritarismo de Bolsonaro.


"O histórico do meu governo prova que sempre estivemos ao lado da democracia e da Constituição brasileira. Não houve, até agora, nenhuma medida que demonstre qualquer tipo de apreço nosso ao autoritarismo, muito pelo contrário."

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Mentira. Bolsonaro participou pessoalmente de manifestações contra a democracia, que pregavam a volta do AI-5, a intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF.


"Em janeiro 2019, após vencermos nas urnas e colocarmos um fim ao ciclo PT-PSDB, iniciamos uma escalada do Brasil rumo à liberdade, trabalhando por reformas necessárias, adotando uma economia de mercado, ampliando o direito de defesa dos cidadãos."

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Falácia. Se ele fala de liberdade econômica, já viviamos numa economia de livre mercado. Se fala de liberdades individuais, recordemos a recente ação contra o chargista Aroeira e o jornalista Ricardo Noblat.
"Reduzimos também todos índices de criminalidade, eliminamos burocracias, nos distanciamos de ditaduras comunistas e firmamos alianças com países livres e democráticos. Tiramos o Estado das costas de quem produz e sempre nos posicionamos contra quaisquer violações de liberdades."


Falácia novamente.  A redução da criminalidade em alguns estados foi fruto da ação de governadores. No plano externo, houve o quase rompimento das relações com Cuba, e agora teríamos outra situação de atendimento na pandemia se ainda contássemos com a cooperação daquele país através de seus médicos. A deterioração das relações com a China custará muito ao Brasil, prejudicando as exportações.  Relações com os Estados Unidos o Brasil sempre teve. A diferença foi a servidão a Donald Trump, em prejuizo da saberania, e por decorrência, a deferência com Israel. No mais, houve a aproximaão com democracias iliberais, logo autoritárias, como Hungria e Polônia.

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"O que adversários apontam como “autoritarismo” do governo e de seus apoiadores não passam de posicionamentos alinhados aos valores do nosso povo, que é, em sua grande maioria, conservador. A tentativa de excluir esse pensamento do debate público é que, de fato, é autoritária."


Manipulação. Ninguém foi proibido de defender posições conservadoras em costumes e práticas de vida. Não se tentou "excluir este pensamento do debate público", por censura ou perseguição. As iniciativa da PGR e do STF buscam conter manifestações criminosas, que atentam contra a Constituição, pregando a subversão da ordem constituída pelo pacto de 1988, quando pregam a ditadura e o fechamento dos poderes. Quando atentam fisicamente contra o STF, com o ataque pirotécnico de sábado, que Bolsonaro sequer mencionou e em nenhum momento censurou.

    
"Vale lembrar que, há décadas, o conservadorismo foi abolido de nossa política, e as pessoas que se identificam com esses valores viviam sob governos socialistas que entregaram o país à violência e à corrupção, feriram nossa democracia e destruíram nossa identidade nacional."
Lorota manipuladora. Que governos socialistas foram estes?


"Suportamos todos esses abusos sem desrespeitar nenhuma regra democrática, até mesmo quando um militante de esquerda, ex-membro de um partido da oposição, tentou me assassinar para impedir nossa vitória nas eleições, num atentado que foi assistido pelo mundo inteiro".
Apelação. Tentativa de associar Adélio Bispo à esquerda. Dois inquéritos já demonstraram que ele agiu por conta própria.


"Do mesmo modo, os abusos presenciados por todos nas últimas semanas foram recebidos pelo governo com a mesma cautela de sempre, cobrando, com o simples poder da palavra, o respeito e a harmonia entre os poderes. Essa tem sido nossa postura, mesmo diante de ataques concretos".


Manipulação. Terá sido um abuso a prisão da líder de um movimento que atentou contra o STF e, segundo a inteligência da Polícia Civil do DF, tinha armas no acampamento e planejava atentados contra os poderes? Por isso o governador Ibaneis os desalojou e fechou a Esplanada. Terá sido um abuso investigar os que ameaçam ministros do STF? Devia o STF ficar quieto e amendrontado? É abuso investigar quem financia os atos antidemocráticos, quebrando sigilos de parlamentares a partir de indícios apurados pela PF?


"Queremos, acima de tudo, preservar a nossa democracia. E fingir naturalidade diante de tudo que está acontecendo só contribuiria para a sua completa destruição. Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo".


Falácia. De fato, nada é realmente mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu proprio povo. Mas quem está fazendo isso? Não são aqueles que pregam a supressão da representação do povo com o fechamento do Congresso? Não são aqueles que pedem ditadura, e contra os quais Bolsonaro não disse uma palavra?


"Só pode haver democracia onde o povo é respeitado, onde os governados escolhem quem irá governá-los e onde as liberdades fundamentais são protegidas. É o povo que legitima as instituições, e não o contrário. Isso sim é democracia".


Manipulação. Esta é uma afirmação perigosamente populista.  Não vivemos numa democracia direta, onde todas as instituições derivam diretamente do voto popular. Os ministros do STF não são votados pelo povo, mas foi a Constituição, soberamente eleita, que deu à corte o poder para defender a Constituição e garantir sua observância. Ademais, os ministros são indicados por presidentes eleitos e chancelados por senadores eleitos.


"Luto para fazer a minha parte, mas não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas. Por isso, tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros."


Ameaça e ambiguidade. Bolsonaro aqui afirma que tomará medidas para defender a Constituição contra o poder que está se batendo justamente para defendê-la, o Supremo. Como não tem sentido recorrer ao STF contra o STF, só pode estar dizendo que vai recorrer às armas. Mas esta não é medida legal, é medida ditatorial, inconstitucional e ilegal. Será isso?

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