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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Ou a sociedade vai para a rua, ou vai faltar emojis para representar a nossa dor

A colunista Denise Assis, do Jornalistas Pela Democracia, afirma que "está na hora da sociedade entender que redes sociais não mudam o rumo de uma Nação. Elas são espaços de mobilização, mas enquanto nos limitamos a tuitarmos mensagens compungidas e 'emojis', o país caminha para o caos social, econômico e os nossos direitos são surrupiados"

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 Por Denise Assis, para o Jornalistas Pela Democracia - Juntássemos todas as lágrimas dos “emojis” que choraram pelas redes sociais neste final de semana pela morte de Ágatha Vitória Sales Felix, e teríamos enchido todos os reservatórios do país. Choramos todos, com a família da menina de 8 anos que teve o corpo destroçado por um tiro de fuzil. Pelas costas. 

O nível de indignação foi ao máximo, como há muito tempo não se via. Tudo levava a crer que o cemitério de Inhaúma, na manhã de ontem, receberia um mar de gente que se juntaria à comunidade, num protesto pacífico e dolorido. Não foi o que se viu. Menos de 500 pessoas se uniram aos manifestantes que, levando balões amarelos gritavam por justiça e pediam em uma faixa o fim da matança indiscriminada, na comunidade. 

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Os parentes de Ágatha não mereceram nenhuma palavra de conforto do presidente. Nenhuma manifestação do governador. E quem se posicionou, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o fez pela rede social. A primeira fala sobre o caso, saída do Planalto, foi dita apenas hoje, pelo vice, Hamilton Mourão - no momento no cargo máximo, como interino – e foi o retrato acabado do lugar comum e da ideia pré-concebida, de quem fala à distância, de preferência com um “aí” no meio, para deixar bem demarcado que falava sobre alguém “de lá”, “deles”. Esses pretos, pobres e favelados que só existem para engordar estatísticas negativas e encher as páginas e os espaços policiais da mídia. 

“É a palavra de um contra o outro”, antecipou Mourão. “E você sabe muito bem que nessas regiões aí de favela se o cara disser que foi traficante que atirou (contra um morador), no dia seguinte ele está morto. O narcotráfico coloca a população na rua e atira contra a tropa. Então, ele – narcotráfico - coloca em risco a própria gente que habita aquela região”, disse o vice-presidente da República, em fala aos jornalistas nesta segunda, (23).

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O domingo chuvoso, a distância, o preconceito, a fama de lugar violento, todos esses argumentos juntos, afastaram do Complexo do Alemão, os que podiam reforçar a passeata, que escorreu magrinhas pelas ruas, até o cemitério de Inhaúma. Frágeis, sozinhos, sem um deputado, uma autoridade a demonstrar apoio, eles seguiram guiados por uma camioneta, onde um sistema de som amplificava as palavras de ordem entrecortadas pelo choro dos que protestavam e se emocionavam. A causa era de todos, mas “todos” ficaram guardados em casa, confortavelmente.

Mas sempre há exceções. Existem aqueles que levam a coerência a sério. Foi isto o que fez o ator Fábio Assunção na tarde de domingo. Atravessou o túnel até a Zona Norte e foi se juntar aos familiares e amigos da pequena Agatha, demonstrando que passeatas em defesa da Amazônia na orla são charmosas, mas levar o seu abraço aos pais devastados do outro lado da cidade é tão importante quanto. 

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Perguntado sobre o gesto, respondeu de pronto: "Vim prestar minha solidariedade. A sociedade tem que estar presente, eu vim fazer parte disso. Isso tem que mudar. Eu tenho uma filha de 8 anos. Diariamente estamos vivendo coisas que são impensáveis. Todos estão perdendo com isso”, disse o ator. “A sociedade tem que se pronunciar, se colocar”. E cobrou que a Polícia aja com inteligência, para que se evite a morte de inocentes.

O governador, Wilson Witzel, também tem uma filha de 8 anos. Usou o domingo para levá-la a prestar prova para o Colégio militar. Quer garantir que ela tenha, no futuro, o seu “excludente de ilicitude”.

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A única manifestação sobre a morte da menina, vinda do governo, foi feita pela Polícia Militar. Sem mover um músculo da face, o porta-voz da corporação, o PM Mauro Fliess, afirmou, pela TV, que o governo do estado está no caminho certo e que "não irá recuar". Não há “nenhum indicativo, nesse momento, de uma participação do policial militar no triste episódio que vitimou a pequena Ágatha". Em entrevista à TV Globo, Fliess declarou que a corporação lamenta profundamente a morte da criança. Disse isto com a mesma entonação de quem anuncia a compra de mais viaturas para o batalhão.

Está na hora da sociedade entender que redes sociais não mudam o rumo de uma Nação. Elas são espaços de mobilização, mas enquanto nos limitamos a tuitarmos mensagens compungidas e “emojis”, o país caminha para o caos social, econômico e os nossos direitos são surrupiados. A insatisfação é demonstrada nas ruas. Ou nos mobilizamos agora, ou não haverá muito o que fazer. Em breve vão faltar “emojis” para representar o nosso estado de prostração. Quanto aos deputados, que costumam pegar o túnel rumo às comunidades para pedir votos, que estejam ao lado do povo nestas horas, e não apenas às vésperas das eleições.

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