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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Ovo da serpente na França

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       O primeiro turno das eleições regionais francesas trouxe uma lição útil para os partidos que, depois da reação espetaculosa de François Hollande aos atentados de 13 de novembro, imaginavam que o Partido Socialista tivesse descoberto uma fórmula mágica para manter-se no poder de qualquer maneira, sem encarar os problemas prioritários que atingem a população de um país onde o desemprego chegou ao patamar mais alto em 18 anos e a economia não dá o menor sinal de recuperação.

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      O PS ficou em terceiro lugar na preferência dos franceses. A direita de Nicolas Sarkozy ficou em segundo. Coube aos fascistas do Front National assumir a primeira posição, com 28% dos votos. O fascismo também foi o primeiro colocado em seis das 13 regiões do país.

       Não há nada para o celebrar neste resultado. É de se imaginar que, no segundo turno, um acordo entre os adversários da  véspera permita derrotar o fascismo em eleições que, de uma forma ou de outra, ajudam a preparar o terreno para o próximo pleito presidencial. É a primeira providência a se tomar, evidentemente.

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       Mas não é a única.

       A interpretação conservadora do resultado é conhecida. Consiste em dizer que a população votou com medo de novos atentados terroristas, o que levaria a aceitar as teses do Front Nacional pelo menos num ponto – de que é preciso aumentar a repressão sobre imigrantes e o controle sobre fronteira. Outro ponto é apagar as responsabilidades pelo prolongada paralisia econômica do país.  

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     A contínua ascensão do fascismo na política francesa vem de antes. É um fenômeno que antecipou em pelo menos uma década o que hoje ocorre em outros países da Europa e só se explica pela ausência absoluta de respostas adequadas dos partidos tradicionais, em particular dos socialistas, a maior sigla de esquerda do país, aos problemas vividos pela maioria da população.

     Eleito para a presidência como principal esperança de mudança numa Europa destruída pelos programas de austeridade assumidos pela União Europeia após a crise de 2008-2009 pelo governo Sarkozy, François Hollande desempenhou um papel pateticamente previsível e lamentável depois da vitória.

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   Rejeitou todas as possibilidades de construir uma política econômica alternativa. Assumiu uma postura de principal auxiliar de Angela Merkel na condução da Europa – mas incapaz, evidentemente,  de oferecer, aos franceses, o mínimo de conforto que a primeira-ministra assegura aos assalariados alemães, recusando-se a fazer, no interior de suas fronteiras, aquilo que exige do lado de fora.

   A maioria dos observadores costuma explicar vitórias de partidos fascistas – erradamente chamados de populistas – pela chave cultural. Fala da baixa escolarização da população, da falta de partidos políticos consolidados, pelo desapego da população aos valores democráticos e assim por diante.

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  O crescimento do Front National num país que é visto como um exemplo de democracia, pluralidade de ideias, abrigo de  uma cultura admirável e assim por diante, mostra que estes fatores têm sua importância mas estão longe de impedir opções pelo horror político. (Não custa lembrar que o nazismo, mais monstruoso sistema político do século XX, não foi produzido num país atrasado do mundo subdesenvolvido, mas na Alemanha, nação mais rica e culta da Europa de seu tempo.)

    O fascismo cresce basicamente a partir da desmoralização de partidos operários tradicionais,  que deixam de dar respostas adequadas a seus eleitores e procuram cumprir uma agenda de acomodação com os interesses que governam a União Européia. Em sua indispensável biografia política Hitler, o historiador Ian Kershaw relata as duríssimas campanhas eleitorais que antecederam a vitória do nazismo na década de 1930 como uma disputa sem fim em torno de um tema único – a criação de empregos, dizimados pelas crises sucessivas que afundaram o país após a derrota na Primeira Guerra Mundial.  

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   Na França de 2015, as respostas do Front Nacional são uma perversão dos problemas reais vividos pela maioria dos franceses, que jamais serão resolvidos por Marianne Le Pen e seus aliados. Mas é evidente que o país enfrenta dramas importantes na vida real que deverão ser encarados de frente – sob o risco de alimentar ainda mais o ovo da serpente.

         

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