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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Palhaços de ontem e de hoje

"Me lembrei imediatamente ao ouvir o presidente Bolsonaro dizer que fez xixi na cama aos cinco anos ("vou me arrepender que fiz xixi aos cinco anos na cama? Saiu pô") exatamente no ano da gravação da marchinha, que diz: o bom menino não faz xixi na cama", resgatou o jornalista Alex Solnik, citando o sucesso "O bom menino", de Altamiro Carrilho e Irani de Oliveira

Palhaços de ontem e de hoje (Foto: REUTERS/Carlos Barria)
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia - Nos anos 60, acredite quem quiser, quem arrebentava na televisão brasileira eram os palhaços. Uma verdadeira febre. Cada emissora tinha que ter o seu programa de circo, o seu palhaço exclusivo.

Na Tupi de São Paulo, brilhavam Fuzarca e Torresmo, o primeiro fazendo escada para o segundo no "Circo do Fuzarca e Torresmo", aos domingos de manhã. Na Record, no mesmo esquema, Pimentinha e Arrelia dominavam as tardes de domingo com o "Circo do Arrelia".

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Mas o primeiro e o maior de todos foi o Carequinha. O palhaço do eterno sorriso no rosto, o qual escondia no colarinho descomunal quando sentia vergonha. O criador do mais célebre refrão circense:

"Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor! Hoje tem goiabada? Tem, sim senhor"!

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George Savalla Gomes estreou em 1920, aos cinco anos de idade, no Circo Peruano, em sua cidade natal (Rio Bonito, RJ), onde seus pais eram trapezistas. A mãe voava minutos antes de dar à luz. Estreou no rádio, Mayrink Veiga, como cantor, em 1938, no programa "Picolino" e em 1950 fez dupla com Fred no "Circo do Carequinha" da TV Tupi, o primeiro circo e o primeiro programa infantil da televisão brasileira.

A grande sensação do carnaval de 1958 foi sua gravação da marchinha "Fanzoca do rádio", de Miguel Gustavo. Também se aventurou na política, com "As brabuletas de Brasília", "Dá um jeito, Nonô" e "Carnaval do JK", entre 1958 e 59.

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O seu sucesso inesquecível foi "O bom menino", de Altamiro Carrilho e Irani de Oliveira, que gravou em 1960 e do qual me lembrei imediatamente ao ouvir o presidente Bolsonaro dizer que fez xixi na cama aos cinco anos ("vou me arrepender que fiz xixi aos cinco anos na cama? Saiu pô") exatamente no ano da gravação da marchinha, que diz:

O bom menino não faz pipi na cama
O bom menino não faz malcriação
O bom menino vai sempre à escola
E na escola aprende sempre a lição

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O bom menino respeita os mais velhos
O bom menino não bate na irmãzinha
Papai do céu protege o bom menino
Que obedece sempre, sempre a mamãezinha

Por isso eu peço a todas as crianças
Muita atenção para o conselho que eu vou dar

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(falado)
Olha aqui: Carequinha não é amigo de criança que passa de noite da sua cama pra cama da mamãe
E também não é amigo de criança que rói unha, e chupa chupeta. Tá certo ou não tá?
- Táaaaaaa!!!

Eu obedeço sempre a mamãezinha...
- Então aceite os parabéns do Carequinha

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(falado)
Olha aqui: Carequinha só gosta de criança que respeita mamãe, papai, titia e vovó
E seja amigo dos seus amiguinhos
E também que coma na hora certa, e durma na hora que a mamãe mandar. Tá certo ou não tá?
- Táaaaaaa

Eu obedeço sempre a mamãezinha...
- Então aceite os parabéns do Carequinha.
Viva o bom menino!!!
Vivaaa!!!

A primeira constatação é que Jairzinho Bolsonaro não obedecia a nenhum dos conselhos de Carequinha e, portanto, Carequinha não teria gostado dele se o conhecesse.

A segunda é mais grave.

Os bolsonaristas de hoje seguem o ideário dos integralistas de 1930, liderados por Plínio Salgado.

Costumavam desfilar no Aterro do Flamengo, exibindo as fardas negras das tropas de Mussolini, com sigmas em vez de suásticas nas braçadeiras e fazendo saudações com o braço direito erguido. Ocupavam-se em atiçar quebra-quebras durante greves ou passeatas de comunistas nas ruas do Rio de Janeiro, que resultavam em mortos e feridos e ajudaram a criar o clima de caos social de que Getúlio precisava para dar o autogolpe do Estado Novo.

Apoiavam Getúlio, em quem enxergavam um novo Mussolini e ele aceitava seu apoio: alguns ministros, como Francisco Campos, eram integralistas. Chegou até a prometer o ministério da Educação para Plínio Salgado, o que nunca cumpriu.

Mas Getúlio não escondia, ao mesmo tempo, o desprezo que nutria por eles: chamava-os, na intimidade, de "palhaços da política".

Depois do fim do Estado Novo e até o ano passado, palhaços só atuavam nos circos e na televisão.

Bons tempos aqueles.

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